Espaço de análise da actualidade desportiva, onde o comportamento, a emoção e a razão têm lugar privilegiado.
Uma visão diferente sobre o jogo, para que o jogo seja diferente.
Podia ser o início de uma anedota ou uma nova versão de um livro de humor, mas é apenas o balanço "fantasma" da jornada, disfarçado de mote para perceber, entre as três, quem ri mais vezes, quem ri mais alto e quem ri por último.
Quem se ri quando um candidato ao título, a jogar em casa com o último classificado, passa momentos de uma estranha intranquilidade antes de conseguir materializar a posse de bola em golos, um domínio que deveria ser bem mais confortável e sem sobressaltos?
Quem se ri quando um candidato ao título, a jogar em casa com uma equipa de objetivos mais modestos, tem no seu Guarda-redes o seu jogador mais decisivo para a vitória, numa exibição coletiva sem uma ponta de nota artística?
Quem se ri quando um candidato ao título, a jogar no campo de um adversário de respeito e necessitado de vitórias como de "pão para a boca", baloiçando num jogo de peças de meio-campo, qual tabuleiro de xadrez, vê escapar-lhe entre os dedos a liderança da Liga, numa guerra psicológica de teimar-ou-ceder, vencendo no oportunismo e na eficácia do detalhe?
Ninguém ri, mas a verdade é que também ninguém chora. O momento não é para isso.
Desportivamente, vivemos na era do Resultadismo, uma espécie de Pós-Romantismo, consolidado dos Clubes-Empresa aos Adeptos-Clientes.
É o Futebol como reflexo da Sociedade e a Sociedade que aprende com o Futebol. Na Educação, de que vale estudar, ler e aprender, se a nota no exame ficou aquém da média daquela Faculdade? Nos negócios, de que vale uma boa campanha de marketing, um anúncio que todos comentam e um produto inovador, se as vendas realizadas não satisfazem os objetivos impostos pelos acionistas? No Futebol, de que vale a posse de bola, o domínio do adversário, o brilhantismo e a criatividade dos artistas, se não for materializado no golo que salva o emprego do treinador por mais uma semana?
O Futebol começou por ser entretenimento, um desporto como ponto de encontro entre pessoas, uma forma de conviver com os outros, de desafiar e jogar com uso de uma bola.
Depois, o Futebol foi eternidade. Tornaram-se deuses os que, nascidos mortais, brilhavam tanto que era demasiado pedir que se acreditasse que eram comuns.
Hoje, o Futebol é rendimento. É uma questão de prioridades onde os Treinadores são encurralados num labirinto sinuoso, cheio de armadilhas, fatores incontroláveis e saídas de emergência, forçadas ou voluntárias, em nome do que são os seus princípios, as suas ideias e os seus… resultados. A justiça no futebol é a dos golos e nas 17 Leis de Jogo nenhuma diz que o futebol deve ser justo. Hoje em dia, ser resultadista não é opção: é sobrevivência.
Tudo isto é atual, real e universal.
Habituemo-nos ou inconformemo-nos, porque como cantava Amália: “Tudo isto existe, tudo isto é triste, tudo isto é fado.”