Há um novo «dez» em Braga e a contratação, pelo nome e pelo contexto, apresenta-se como uma das mais fascinantes, até ao momento, no futebol português. Rodrigo Zalazar aterrou em Portugal depois de quatro anos ligados ao futebol alemão, com uma experiência - pouco conseguida - na Polónia pelo meio. Aos 23 anos, o médio uruguaio nascido em Espanha procura estabelecer-se em patamares estáveis.
Zalazar foi contratado pelo Eintracht Frankfurt em 2019 à equipa B do Málaga por 50 mil euros. «Na altura, era um jogador totalmente desconhecido e foi uma contratação típica do Ben Manga [Diretor Desportivo à data], que teve sempre uma relação especial com o sul da Europa», revela Christopher Michel, jornalista alemão da Sport 1 e especialista em assuntos relacionados com o Eintracht Frankfurt, ao zerozero.
«Afirmou-se totalmente. Zalazar foi um dos melhores jogadores da segunda divisão, com faro de golo e muito prestável à equipa. Os adeptos adoravam-no, também pela personalidade emotiva que o caracteriza», lembra o jornalista alemão. Foram 35 jogos, seis golos e cinco assistências no clube de Hamburgo e, consequentemente, o regresso a Frankfurt no final da época deu-se com a mala cheia de expetativas.
«Depois desse ano, o Zalazar queria ser protagonista na 1. Bundesliga e não apenas um jogador de banco», diz Michel ao zerozero. Mas na pré-época, as perspetivas esmoreceram. «Chegou o Oliver Glasner que decidiu apostar em nomes mais conceituados como o Daichi Kamada, o Djibril Sow e o Sebastian Rode e não num jovem como Zalazar. E quando num encontro de preparação ele jogou apenas 15 minutos, percebi que ele não tinha futuro em Frankfurt.»
Com as portas da equipa fechadas em Frankfurt, o internacional sub-20 pelo Uruguai procura nova paragem com vontade de ser figura de destaque. A mudança, em 2021, para o Schalke 04, apresentava-se como uma verdadeiro «teste de fogo», sobretudo pelo contexto do emblema de Gelsenkirchen, despromovido à 2. Bundesliga na época anterior, e com uma média de espetadores a rondar os 60 mil por jogo.
Os números provam essa influência: em 21/22, Zalazar apontou sete golos e fez cinco assistências, com destaque para o encontro que ditou a promoção do Schalke novamente à Bundesliga. Precisamente frente à ex-equipa, o St. Pauli, o uruguaio apareceu em evidência aos 78 minutos para garantir a vitória por 3-2 e, com isso, oficializar a festa em Gelsenkirchen.
Decisivo nessa caminhada, Zalazar cumpriu, por fim, o desejo de jogar no escalão máximo do futebol alemão. No final de 21/22, o médio colocou um ponto final na ligação ao Eintracht Frankfurt e fixou-se de forma definitiva no Schalke 04. Um ano de Bundesliga que, no entanto, ficou marcado por nova descida de divisão do histórico emblema que leva o jovem de 23 anos a mudar-se para Braga.
Entre as qualidades evidentes há, contudo, defeitos que Christopher Michel não esconde na conversa com o zerozero: «O maior problema dele, recorrente, é o facto de ser demasiado ansioso. Quer fazer tudo muito rápido e não controla bem a sua energia, o que leva a que tenha quebras de rendimento durante os jogos», diz. «Ao mesmo tempo, é um jogador impaciente, quer demasiado e às vezes isso prejudica-o.»
Não obstante esses reparos, o jornalista alemão não tem dúvidas: «O Braga contratou um jogador muito interessante e com potencial. Não acredito que venha a ser de topo, mas provou na Bundesliga, ao serviço de uma equipa com debilidades, que pode fazer a diferença. A mudança para Portugal parece-me ponderada e pode resultar, sobretudo porque tem qualidade técnica e entende muito bem os espaços.»
Se a nova etapa em Portugal vai ou não ser um sucesso, só o futuro dirá. Por enquanto, a Liga Portuguesa recebe um jogador que, não obstante ter apenas 23 anos, já apresenta um percurso salpicado de altos e baixos que moldam, indiscutivelmente, o caráter e a carreira de qualquer atleta. Em Braga, Zalazar vai ainda acrescentar um novo desafio a todos aqueles que já enfrentou: jogar nas competições europeias. Na Liga dos Campeões?