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    Antigo jogador esteve à conversa com o zerozero

    Toni recorda a única vitória do Benfica frente ao Ajax: «Tínhamos vaselina nas pernas para não escorregar»

    Benfica e Ajax têm encontro marcado para esta quarta-feira e relançam uma história europeia que vem já desde os anos 60. No total, as duas formações já se defrontaram sete vezes na história, todas elas para a Liga dos Campeões, e dessas, os encarnados apenas venceram uma, curiosamente a primeira de todas.

    Feitas as contas, os neerlandeses venceram quatro dessas partidas, houve dois empates e apenas por uma ocasião as águias saíram vitoriosas. Ora, para recordar essa única vez, é preciso recuar até ao dia 12 de fevereiro 1969, há 53 anos. Na altura, os encarnados, campeões nacionais em título, viajaram até Amesterdão para defrontar uma jovem equipa do Ajax que começava a despontar para o mundo do futebol e que se ia tornando um caso sério.

    Entre os comandados de Otto Glória, na altura treinador do Benfica, constavam grandes nomes da história do futebol português, como eram os casos de Humberto Coelho, Eusébio, Mário Coluna ou José Augusto, apenas para nomear alguns. Entre os quais constava também um jovem Toni, na altura com 22 anos e a cumprir o seu primeiro ano na equipa principal das águias. O zerozero esteve à conversa com o antigo jogador e treinador do Benfica para relembrar essa inédita vitória.

    Toni foi estrela no Benfica ©SL Benfica
    «Fez agora, curiosamente, anos a 12 de fevereiro. O campo estava coberto de neve. Nós ficámos a 70 quilómetros de Amesterdão, numa cidade chamada Wageningen, e no dia do jogo estava a nevar imenso. O campo estava coberto de neve e o jogo até esteve em dúvida, mas tiram um pouco da neve e acabou por acontecer. As marcações do campo estavam a amarelo e a bola era vermelha. Nós jogámos sobre neve. Da nossa parte havia uma maior inadaptação. Era a minha primeira vez a ver e a jogar num campo com neve. Eles jogaram de collants e luvas, enquanto nós tínhamos vaselina nas botas e nas pernas para não escorregar», começou por descrever-nos.

    «Por estranho que pareça, nós acabámos por nos adaptar melhor do que eles. Fomos felizes no sentido em que não tivemos muitas oportunidades, mas aproveitámos as que tivemos. Foi uma boa exibição coletiva, que acabou por contrastar com o jogo da segunda volta, onde penso que não abordámos o jogo, do ponto de vista estratégico, como ele deveria ser abordado. O primeiro jogo deu-nos a falsa ideia sobre uma equipa que tinha os valores que tinha naquela altura. Estava ali a nascer o Ajax que ia dar cartas nos anos seguintes», acrescentou.

    De memória apurada, Toni não teve qualquer problema em nomear os vários talentos do Ajax que defrontou durante esses anos - entre 1969 e 1972 defrontaram-se cinco vezes - e eram bastantes, dentro e fora de campo. Cruyff, Neeskens, Keizer, Danielsson, Hulshoff, Blakenburg, Suurbier ou Swart foram apenas alguns dos que ficaram na retina do jovem Toni, que também não esqueceu o treinador Rinus Michels, o criador do «Futebol Total» e o «pai» do estilo implementado, mais tarde, por Cruyff e Guardiola no Barcelona.

    Liga dos Campeões

    Ajax vs Benfica
    4 Jogos, 3V 0E 1D (DG: 6-3)

    Últimos Resultados:
    18/: AJAX 1-0 SLB
    71/72: AJAX 1-0 SLB
    68/69: AJAX 1-3 SLB
    68/69: AJAX 3-0 SLB

    ver mais »
    Apesar dessa vitória inicial por 1x3, em Amesterdão, a eliminatória não sorriu ao Benfica. Em casa, na Luz, os encarnados passaram por dificuldades, estiveram a perder por 0x3 e apenas um golo tardio de Torres obrigou a que fosse disputada uma 3ª mão, como se fazia na altura: «Abordámos o jogo de forma errada. Subestimámo-los um pouco, demos tempo e espaço e o Cruyff naquele dia estava completamente inspirado. Acabámos por perder por 1x3 na Luz e foi necessário haver jogo 3. Ficou 0x0 no tempo regulamentar, o Simões teve uma grande oportunidade quase a acabar o jogo, mas no prolongamento eles acabaram por vencer e bem [3x0]. Importa também dizer que a equipa do Benfica na altura não estava num bom momento. Os resultados a nível nacional não estavam bons. Esse resultado conseguido em Amesterdão, tendo em conta as condições adversas, contrastou com o período que estávamos a atravessar.»

    Depois de ultrapassar o Benfica nos quartos de final, esse jovem Ajax acabaria mesmo por chegar à final e apenas foi travado por um AC Milan (4x1) que na altura era dos melhores clubes a nível europeu. Apesar disso, Toni não se atreve a dizer que o Benfica poderia ter somado mais uma conquista europeia - tinha vencido a Liga dos Campeões em 1961 e 1962 - se tivesse ultrapassado os neerlandeses. 

    Pressão encarnada e um Ajax diferente

    Depois dessa emocionante eliminatória, Benfica e Ajax voltaram a defrontar-se nas meias-finais da Liga dos Campeões em 1971/72. Aí, o equilíbrio foi maior - 1x0 na 1ª mão e 0x0 na 2ª -, mas mais uma vez foi a turma de Amesterdão quem sorriu no final. Largos anos mais tarde, em 2018, voltaram a encontrar-se na fase de grupos da Liga dos Campeões e mais uma vez o Ajax saiu por cima, empatando um (1x1) e vencendo outro (1x0), no ano em que apenas caiu nas meias finais da prova, uma edição que ficou na história.

    Ajax venceu em 2018 ©Carlos Alberto Costa
    Apesar deste moderno Ajax estar também a encantar o mundo do futebol, Toni recusa comparações com aquele que defrontou: «50 anos muito tempo no sentido em que o futebol, tal como os outros setores, evoluiu nos vários pontos de vista, tático, físico,….há princípios que ficam para sempre, mas não é possível comparar os dois Ajax’s. A filosofia dos dois é distinta. Os Países Baixos é um país formador, o Ajax é um clube que forma e vende e hoje tem jogadores de diferentes países e continentes(...). Naquela altura o Ajax mantinha quase todo o talento, mas agora o scouting está em constante movimento. Há uma procura incessante de jogadores. Este Ajax às vezes até compra caro, mas sempre com a possibilidade de vender. Tem um equilíbrio entre o comprar e o vender para se manter competitivo. Percebem que estar na montra, a Champions, é preciso para o tal equilíbrio.»

    Quanto ao momento atual do Benfica, Toni considera que irá dificultar frente a uma equipa que tem os processos bem consolidados e pauta por um grande equilíbrio em todos os sentidos, mas acredita que há hipóteses.

    «O que tem acontecido neste último ano e meio, onde o treinador mudou recentemente de treinador, sistema, alguns processo ainda em busca de consolidar com as novas ideias do Nélson Veríssimo, não são trunfos a favor do Benfica. A exigência é sempre brutal sobre o treinador . No campeonato, para já, o objetivo é chegar ao 2º lugar, o que está mais próximo, e depois neste confronto com o Ajax vai tentar encurtar as distâncias que existem entre um Benfica em busca de consolidar processos e uma equipa que já tem os seus processos mais do que consolidados. O Ajax não muda o treinador, muda alguns jogadores, mas mantém-se dentro daquilo que é a sua filosofia. A equipa é basicamente a mesma desde que defrontaram o Sporting. Têm maior estabilidade», concluiu.

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    jogos históricos
    U Quarta, 12 Fevereiro 1969 - 00:00
    Olympisch Stadion
    Bobby Davidson
    1-3
    Inge Danielsson 47'
    Jacinto Santos 32' (g.p.)
    José Torres 38'
    José Augusto 60'
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