Schelotto, da seleção italiana ao golo no Dérbi de Milão: «Procuro ser um exemplo na vida»

Sábado, dia 15, estava na Argentina, talvez a juntar os pertences para a aventura seguinte. No domingo, Ezequiel Schelotto viajou para Itália, onde já foi tão feliz, e na segunda-feira assinou pelo Barletta 1922, do quarto escalão do futebol transalpino. O zerozero já sabia da transferência, uma vez que, algures no processo de combinar esta mesma entrevista, quase tropeçou nesse furo.

Na terça foi oficializado e apresentado aos adeptos do novo clube, onde será capitão e parte integral de um ambicioso projeto. O que fez na quarta-feira? Talvez detalhes logísticos de (mais uma) mudança transatlântica, ou até mesmo uma sessão de dolce far niente, tão necessária num dos últimos dias de férias. Não sabemos, não perguntámos.

Quinta-feira, Schelotto estava já instalado na região de Apúlia quando o telefone tocou. Pediu-nos que a conversa não fosse além dos cinco ou dez minutos, mas, em crescente entusiasmo sobre a mesma, a disponibilidade multiplicou-se. Afinal, não foi uma entrevista sobre dias da semana, mas uma viagem pelo passado, presente e futuro de quem, aos 34 anos, já galgou o Mundo do futebol.

Esta é a PARTE II da entrevista. A metade que alberga mais e maiores fases da vida e carreira do Galgo, a atualidade, o futuro, mas também as antigas passagens pelo Inter de Milão e seleção italiana. Se quiser recordar a passagem de Schelotto pelo Sporting, leia a PARTE I: «O JJ ligou-me e disse ''vais ser um grande futebolista, mas não como extremo''»

Schelotto assinou, há cerca de uma semana, pelo Barletta 1922. @ASD Barletta 1922

zerozero: De volta a Itália, finalmente! Era algo que querias muito, não era?

Ezequiel Schelotto: Sim, sim... Foram quase oito anos desde que verdadeiramente vivi aqui pela última vez. Queria muito voltar aqui, onde está a minha família e os meus amigos.

zz: Regressas para jogar no Barletta 1922.

ES: Vim porque vou ter uma responsabilidade muito grande. Vou ser o capitão e um dos mais experientes, mas tenho de continuar a trabalhar com muita humildade, com a garra de leão que eu tenho sempre. É um passo importante para mim, voltar a Itália.

zz: Porquê aceitar uma oferta de um clube da quarta divisão?

ES: Acima de tudo porque queriam muito que eu viesse. O treinador e os adeptos também. Podia ter ido para a segunda divisão, talvez até para a Serie A, mas o que eu mais queria era regressar a Itália o mais rapidamente possível, por isso foi fácil convencer-me. E o projeto é muito bom, por isso não fico surpreendido se daqui a dois anos estiver a jogar na Serie B.

Schelotto recordou o golo que marcou no Dérbi de Milão @Getty /

ES: Não, isso foi uma notícia falsa. Deixo muitos amigos lá, fui feliz, mas chegou o Barletta e eu só tive olhos para Itália. Essa notícia veio de pessoas que não queriam que a equipa estivesse bem e surgiu enquanto jogávamos, ganhávamos e celebrávamos todos.

zz: Vais para o 14º clube da tua carreira. Tens uma paixão maior por algum dos 13 por onde já passaste?

ES: Posso falar de todos, na verdade. Em todas as equipas em que joguei, fi-lo sempre com o coração. Com a tal alma de leão, porque sou assim todos os dias. A vida de um futebolista é assim, estás num clube hoje e daqui a um ano estarás noutro, mas eu não me importo e gostava de continuar essa vida mais uns cinco anos. Depois, continuar a vivê-la como treinador.

zz: Se não consegues escolher um clube, então será que consegues escolher um momento? Quando é que foste mais feliz como jogador?

Uma internacionalização pela seleção de Itália @Getty /

zz: Tens uma grande ligação a Itália, como já disseste. Fala-me do dia em que jogaste pela squadra azzurra.

ES: Esse dia foi tudo para mim. Ter a oportunidade de jogar com campeões do Mundo, como o Buffon, Pirlo, e jogadores importantes como Cassano, Bonnucci, Chiellini... Eu tinha 22 anos e alguns deles eram jogadores que eu tinha crescido a idolatrar, via-os na televisão! Ser chamado para a seleção depois de três anos em Itália, e logo para jogar contra Inglaterra, foi algo que nunca vou esquecer.

zz: Chegaste a ser também pré-convocado para a seleção da Argentina, o país onde nasceste, mas nunca aconteceu. O que sentes acerca disso?

ES: Aconteceu isso quando estava no Sporting e mais tarde também no Brighton, mas o selecionador, que na altura era o Sampaoli, optou por outro jogador. Gostava muito de ter tido essa oportunidade, quiçá jogar um Mundial pela Argentina, mas já tinha a cabeça preparada com a ideia de que a seleção não era necessariamente um último passo.

zz: Voltemos a coisas boas. Este ano fez 10 anos que marcaste pelo Inter de Milão num dérbi frente ao Milan...

ES: Até ao dia de hoje ainda falam desse golo em Itália. Os adeptos enviam-me mensagens, porque é um golo muito famoso.

ES: Incrível! Tinha entrado e passados 20 segundos, na primeira bola em que toquei... golo. Foi uma grande alegria e fico contente que as outras pessoas também se lembram.

zz: Sabemos que tencionas continuar a jogar muito tempo, que depois queres ser treinador, então, para te perguntar pelo futuro, só mesmo por fora do futebol. O que procura o Ezequiel na vida? 

ES: Quero ser uma boa pessoa. Quero ser uma pessoa inteligente, quando tiver que falar. Procuro ser um exemplo na vida, que todas as pessoas me vejam dessa forma. Sei que não sou perfeito, que cometo erros, mas ainda assim tenho o desejo de ser alguém importante.

• Leia também a PARTE I desta entrevista a Ezequiel Schelotto: «O JJ ligou-me e disse ''vais ser um grande futebolista, mas não como extremo''»