Rui Pedro emigrou: «Os portugueses prejudicam-se a si próprios»

Tem apenas 24 anos, mas em Portugal já há muito que é nome conhecido. Rui Pedro mostrou-se naquele jogo contra o SC Braga, marcando logo na estreia.

Rui Pedro 2022/2023

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Nos escalões de formação do emblema azul e branco, o avançado era visto como um jogador com potencial de elite, ao lado de nomes como Diogo Costa e Diogo Dalot, mas o trajeto esteve longe de ser o esperado.

Depois daquela época às ordens de Nuno Espírito Santo, o jovem portista não voltou a encontrar espaço no plantel principal e andou de empréstimo em empréstimo, até deixar o FC Porto em definitivo, em 2020. Dois anos mais tarde, depois de passagens pela II Liga, o zerozero encontrou Rui Pedro na Eslovénia, onde está há pouco mais de um mês. O início da experiência não podia estar a correr melhor.

O avançado é titular no líder do campeonato esloveno, o Olimpija Ljubljana, e foi decisivo nos três jogos em que foi aposta de Albert Riera. Com os campeonatos em pausa, o avançado aproveitou para contar como está a correr a passagem por Ljubljana e explicar os motivos que o levaram a emigrar.

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Rui Pedro mudou-se para o Olimpija Ljubljana em agosto de 2022 ©Arquivo Pessoal

«Queria sair de Portugal para me lançar outra vez»

zerozero (zz): Como está a correr a adaptação na Eslovénia?

Rui Pedro (RP):  Está a correr bem. A adaptação está a ser difícil porque é tudo diferente de Portugal, mas desportivamente nunca me senti tão feliz e tão disponível.

zz: Até acaba por ser um paradoxo, não é? Adaptação difícil, mas nos relvados era difícil estar melhor.

RP: Desportivamente está mesmo a correr muito bem. Nunca pensei que fosse correr tão bem desde início porque é um país diferente. O futebol é diferente, é muito mais físico, mais intenso, não há muitas paragens e consegui adaptar-me rápido, futebolisticamente falando. No resto é que tem sido mais complicado. As pessoas são muito frias, aqui.

zz: Foste sozinho?

RP: Sim, inicialmente sim, mas em janeiro a minha namorada vem para aqui e isso também já facilita a adaptação.

zz: Como é o país?

RP: A cidade é muito bonita, mas é aquela cidade que é muito bom conhecer durante uma semana, mas depois é mais do mesmo. O tempo também é complicado. Está muito frio, com graus negativos, mas é sempre uma questão de hábito.

zz: A única experiência no estrangeiro foi em Espanha, no Granada...

RP: Sim, mas aí foi totalmente diferente. O espanhol é mais fácil, as pessoas são mais dadas. Aqui é muito difícil, até foi difícil para arranjar casa.

zz: E a comida?

RP: A comida é muito diferente. Estive a viver num hotel e dificultou muito as coisas. Aqui já é tudo caro, mas tinha de comer no hotel, no horário do hotel, era mais complicado. Agora já tenho casa e tenho um exercício para mim mesmo, que é aprender a cozinhar. Não sei ainda cozinhar, mas vou aprender.

zz: Também faz parte desta experiência. Voltando aqui ao futebol. Conta-me como estão a ser estes primeiros tempos.

RP: O principal era chegar e marcar de uma forma ou de outra. Não digo marcar golos, mas marcá-los para ganhar espaço na equipa, com a minha personalidade, que é difícil. Fora de campo sou uma pessoa muito simples e tranquila, mas dentro de campo exijo muito de mim e dos meus colegas. Tenho de melhorar isso. Já melhorei, mas preciso de melhorar mais. Dentro de campo, são três jogos a titular, três assistências e dois golos. Estou muito contente porque as coisas estão a sair muito bem. Estou atento, concentrado, muito disponível. Já não me sentia assim desde o FC Porto.

zz: Queria perguntar-te sobre o mister Albert Riera. Ao início houve muita confusão. Soubeste disso? Como é que tem sido lidar com os adeptos? Com estes resultados já está tudo mais calmo, não?

RP: Não me recordo se queriam outro técnico ou não, mas o mister ficou e nós só temos de agradecer e estar contentes com o que está a fazer. A qualidade de jogo é muito alta, criamos muitas oportunidades também graças ao mister. Taticamente tem-se revelado perfeito. Claro que há fases menos boas e aí é que vamos perceber se somos uma equipa forte como estamos a mostrar neste momento.

zz: O que estás a achar do campeonato?

RP: Não conhecia. Só conhecia o Maribor, mas quando jogamos contra o quarto ou o quinto pensava que a diferença era um bocado maior, mas é como na Segunda Liga. Os jogos são muito equilibrados.

zz: O que é que te fez aceitar o desafio?

RP: Tinha de sair de Portugal para levantar o meu astral. A minha confiança estava muito em baixo por causa do meu passado. Queria sair desse mundo. Os portugueses prejudicam-se a eles próprios, o que é estranho, mas é a realidade. Queria sair para me lançar outra vez. Confio muito em mim e quero ficar aqui este ano para me lançar para patamares mais altos, mas agora quero continuar a demonstrar o meu talento e o meu trabalho. Só assim vou conseguir atingir coisas melhores.

zz: Aquele período inicial no FC Porto pôs-te muita pressão?

RP: Não. Claro que há um período de adaptação, mas a equipa e o mister Nuno... Não há palavras. Senti muito carinho da parte de todos. Estando no meio dos bons, sentes-te importante. Tinha feito coisas boas na formação e o mister achou que me podia dar a oportunidade. Eu estava com a confiança no máximo, tal como me sinto agora. 

zz: Igual?

RP: Sim. Agora se tiver uma oportunidade para marcar, sinto que é a última, percebes? Estou muito focado nos números, não tanto em jogar. Sou um avançado que não fica só na área, mas agora estou mais preocupado com isso. Percebi que os números importam muito. Não demorei a perceber, mas custa-me ver que os números são mais importantes do que as exibições. Por isso é que depois vemos vendas que nem percebemos, de tão alucinantes. É o futebol hoje em dia.

zz: Aqui em Portugal critica-se o Paulinho por não marcar tantos golos como seria de esperar de um avançado.

RP: Exato! Esquecem-se do que dá à equipa. Na minha maneira de pensar, o Paulinho é um dos melhores pontas de lança que há em Portugal.

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