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Sub-17 campeões europeus em 2003

Portugal descobriu ouro em Viseu há 20 anos: as memórias de alguns heróis do Fontelo

17 de maio de 2003.

«Dia memorável. Dia em que concretizámos o que mais queríamos e sem dúvida um marco muito importante nas nossas vidas e carreiras. Festejar um título, ainda por cima em nossa casa, é um feito incrível e que vamos guardar para sempre na memória»

  • Artigo originalmente publicado a 17 de maio de 2018

Passaram vinte anos. Vinte anos. «É meia vida...». Lembra-se onde estava há 20 anos, caro leitor? Provavelmente, não. Mas há quem não se esqueça nem do dia nem tão pouco do que estava a fazer no dia 17 de maio de 2003.

Bruno Gama, João Coimbra, Tiago Gomes, João Pedro, Carlos Saleiro, Manuel Curto e Mário Felgueiras lembram-se como se fosse hoje. Não é difícil perceber o motivo.

Portugal
Europeu Sub-17 2003
5J
4V
1E
0D
10-5G
Há vinte anos, estes jovens, hoje homens feitos, alguns com carreiras consolidadas no mundo do futebol e outros que já abandonaram os relvados, integraram um grupo de 18 dignos representantes do nosso país, comandados por António Violante, que conquistou o Campeonato da Europa de Sub-17, em Viseu, frente a uma Espanha super favorita e que tinha David Silva como uma das principais figuras.

Naquela tarde de 17 de maio, o país parou para assistir à grande final em Viseu. Cerca de 9 mil pessoas pintaram as bancadas do Estádio do Fontelo com as cores da Seleção portuguesa, sem contar com aquelas que assistiam nos muros e até nas árvores que circundavam o recinto do encontro.

«Conseguimos dar essa alegria aos portugueses»

Desde 1988 que um Campeonato da Europa de Sub-17 da UEFA não era ganho por um país anfitrião e Portugal tinha uma oportunidade de ouro para escrever uma bonita página de história. Não desperdiçou. Alguns dos protagonistas recordam esse trajeto ao zerozero.

«Parece que passou tudo tão rápido. Recordo com um sentimento de felicidade esse momento. Houve uma grande envolvência, não estávamos habituados a jogar com tanta gente no estádio, mas penso que isso deu-nos uma grande motivação», introduz João Pedro, que saiu lesionado nessa final.

João Coimbra com Jurado na final do Europeu Sub-17, em Viseu @FPF
«Tínhamos a noção de que se não ganhássemos não voltaríamos a ser campeões da Europa de Sub-17. Felizmente, graças ao grupo que tínhamos, conseguimos dar essa alegria a todos aqueles que torciam por nós», acrescenta João Coimbra, atualmente treinador-adjunto da seleção olímpica do Catar.

«Guardo esse momento com grande nostalgia e orgulho! Foi um feito muito especial para nós, dos momentos mais bonitos que vivi na minha carreira», atira Manuel Curto, um dos muitos que já penduraram as chuteiras.

«Foi tudo perfeito. Sabíamos que tínhamos uma Seleção muito forte, com jogadores muito bons a nível individual, bastava perceber se a equipa funcionaria no coletivo. Acabou por funcionar. A Espanha era favorita, mas nós acabámos por ter a felicidade de ganhar a final. É uma memória que ficará para sempre marcada», defende Mário Felgueiras.

«Sentíamos que estávamos todos a remar para o mesmo lugar e chegámos a esse dia com a confiança no máximo, principalmente por jogarmos em casa e num estádio cheio. Para nós era uma coisa nova jogar perante tanta gente e em canal aberto na televisao portuguesa», acrescenta Carlos Saleiro, que continua ligado ao futebol pela via do agenciamento.

«Recordo com agrado. Foi algo muito importante na altura e penso que esse título contribuiu muito para a motivação desses jovens para a prossecução das suas carreiras profissionais. A grande maioria acabou por ser profissional [n.d.r. 14 dos 18 jogadores chegaram à Primeira Liga] e alguns deles chegaram inclusive à Seleção A. Isso também quer dizer que o trabalho nos clubes e nas seleções foi importante», conta António Violante, treinador dos sub-17, em 2003.

Momento em que a equipa se uniu no desempate através da marca das grandes penalidades na meia-final do Euro @FPF

O caminho de Portugal até à final...

Antes da final que marcou a carreira e vida destes jogadores, importa também recordar como tudo se foi desenrolando até ao grande jogo com nuestros hermanos. Portugal não teve a necessidade de fazer a fase de qualificação, graças ao estatuto de país anfitrião, e por isso entrou diretamente para a fase de grupos onde encontrou Dinamarca, Áustria e Hungria.

«É verdade, tive a felicidade de fazer dois golos importantes [nos dois primeiros jogos] que ajudaram a equipa a concretizar esse sonho», recorda Manuel Curto, uma das referências ofensivas dos sub-17 e da equipa de juvenis do Benfica, que desatou o nó frente aos dinamarqueses (3x2) e resolveu frente aos austríacos (1x0).

Manuel Curto foi decisivo na fase de grupos do Europeu @FPF
Três vitórias em igual número de jogos na fase de grupos conduziram Portugal às meias-finais do Europeu, onde o adversário era tão só um dos favoritos ao troféu: a Inglaterra, de James Milner, Aaron Lennon, Tom Huddlestone, Steven Taylor, entre outros. Os ingleses estiveram a vencer, por 1x2, mas dois jogadores lançados do banco por Violante resolveram empatar no último minuto e levar a decisão para grandes penalidades.

«Recordo-me que tinha feito os três jogos na fase de grupos a titular e que nesse jogo o mister deixou-me no banco, talvez por estratégia. Eu e o Bruno Gama entrámos e sei que o Bruno tirou um inglês da frente e eu finalizei de cabeça. Uma excelente jogada de dois jogadores que tinham vindo do banco. Foi um golo decisivo porque foi muito perto do fim, quando as forças estavam a faltar, e, nesse momento, toda a equipa voltou a acreditar que era possível disputar a final e conquistar o Euro», defende Saleiro, na altura ligado ao Sporting.

«Quando nos sentimos confiantes partimos para as grandes penalidades sem pensar na responsabilidade que temos em cima de nós. Recordo-me que na altura em que ia para a baliza sentia-me plenamente confiante e acreditava que ia conseguir defender pelo menos uma grande penalidade. Defendi uma, outra foi para fora e acabámos por ser felizes», descreve Felgueiras.

«Passou meia vida. Sinto uma enorme felicidade quando recordo esses momentos porque foram tempos realmente muito bons», aponta o mais novinho do grupo, Bruno Gama, ainda com 15 anos na altura da conquista.

«Não quero saber da Espanha, quero saber de vocês!»

Após o triunfo frente a Inglaterra, Portugal teve três dias para preparar a final. Aos 15, 16 e 17 anos, será que os jogadores tinham noção daquilo que estavam prestes a conquistar para o nosso país? Esta seria a primeira grande conquista de uma seleção portuguesa no Séc. XXI.

Camisola e medalha de João Coimbra @DR
«Sinceramente, nem pensei muito nisso. Pensei em jogar e ganhar. Ao fim de algum tempo é que realmente percebi que tinha sido campeão da Europa», lembra o lateral esquerdo Tiago Gomes, um dos jogadores que atingiu a Seleção A.

«Acho que naquela altura não tínhamos bem noção do que aquela conquista poderia significar no nosso futuro. Sabíamos que era muito importante para nós, que era algo que queríamos muito conquistar, mas acho que com aquela idade não se pensa no que pode ou não resultar no futuro», corrobora João Coimbra.

«Naqueles momentos, nós queríamos era desfrutar do futebol. É verdade que depois de termos conquistado o Europeu sentíamos uma grande satisfação pessoal, mas só nos dias a seguir é que tivemos consciência do feito. Só depois é que nos caiu a ficha. Antes era apenas mais um jogo, com a alegria e a vontade de ganhar de sempre», completa Bruno Gama, atualmente no AEK Larnaca, de Chipre.

Habituado a momentos como este, já que esteve também presente nas conquistas dos Sub-18 (1999, em Israel) e dos Sub-16 (2000, na Suécia), o selecionador António Violante confessa que não teve grandes dificuldades na última palestra.

António Violante levantado pelos jogadores @FPF
«Terá sido das preleções técnicas mais curtas que eu terei feito durante a minha vida de treinador. Não demorei quase tempo nenhum. Disse quem ia jogar e: “Eu não tenho nada para vos dizer, não vos vou falar da Espanha, não quero saber da Espanha, quero saber de vocês... Vocês são uma boa equipa e vão pôr em campo o que sabem fazer. É o jogo de uma vida pois não sei se alguns de vocês vão jogar mais alguma final. Portanto, isto é para guardar a vida toda”. E eles foram lá para dentro...», recorda Violante ao nosso jornal.

«Eu fiz o meu papel. Tenho ideia de que um treinador não é nada daquilo que se diz por aí, que é um grande condutor de homens. Claro que tem de ter particularidades para liderar um grupo, mas o grande mérito é dos jogadores. Quem ganha são os jogadores dentro de campo. Eu só os ajudei», completa.

Jogadores deram a volta olímpica ao Estádio do Fontelo após a vitória frente à Espanha @FPF

David Silva contra... Márcio 'Maradona' Sousa

«Sabíamos que a Espanha era poderosíssima, pois já os tínhamos defrontado uns meses antes e percebíamos que eram claramente superiores, mas queríamos dar uma alegria ao povo português. Falava-se muito da nossa Seleção, muitas entrevistas, os canais a passarem muito daquilo que era o nosso dia-a-dia e depois o estádio cheio. Tudo ajudou na conquista.»

António Violante
Europeu Sub-17 2003

5 Jogos
4 Vitórias
1 Empates
0 Derrotas

10 Golos
5 Golos sofridos

ver mais �
As palavras são de Carlos Saleiro e ajudam a perceber aquilo que os jogadores portugueses pensavam e sentiam antes da final. Uma final entre Portugal e Espanha. Entre David Silva e Márcio Sousa. Um deles joga hoje na Real Sociedad e o outro jogou a época passada na distrital da AF Braga, mas foi o camisola 10 português, que nunca chegou à Primeira Liga, a resolver nesse dia. Mas teremos oportunidade de falar com o Maradona do Vitória SC e do FC Porto com mais detalhe.

O resto é história. Escrita não só pelo Bruno, João, Tiago, Carlos, Manuel, Mário, António ou Márcio. Portugal venceu a Espanha (2x1) e sagrou-se campeão europeu com a ajuda de milhares de portugueses. Uma história que jamais será esquecida. Pelo menos na memória destes jogadores, que, ainda hoje, se tratam como naquele dia 17 de maio de 2003. Vinte anos depois...

«Sinto saudades das brincadeiras que tivemos naquela altura, mas ainda hoje mantenho o contacto com muitos dos meus colegas», garante Tiago Gomes.

«Ainda costumo falar com a maioria pelo Whatsapp e parece que ainda estamos nesses tempos. As conversas, as piadas e as brincadeiras acabam por ser as mesmas. Continuamos crianças e a gozar uns com os outros. É o melhor que fica de tudo isto», concretiza Coimbra.

 NomePosiçãoEquipaGM
1Gr
Portugal
Vitória SC
12Gr
Portugal
Sporting
 Def
Portugal
Vitória SC
2
2Def
Portugal
Braga
3Def
Portugal
Benfica
5Def
Portugal
FC Porto
13Def
Portugal
Académica
14Def
Portugal
Vitória SC
1
15Def
Portugal
Braga
1
4Med
Portugal
Sporting
6Med
Portugal
FC Porto
8Med
Portugal
Sporting
10Med
Portugal
FC Porto
2
17Med
Portugal
Benfica
18Med
Portugal
Benfica
2
9Ava
Portugal
Sporting
1
11Ava
Portugal
FC Porto
16Ava
Portugal
Braga
1
[GM=Golos Marcados]

Comentários

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motivo:
Sub17
2023-05-17 12h17m por moumu
Deu em alguns bons jogadores mas nem todos têm a mesma sorte, destaco Moutinho, Vieirinha, Paulo Machado e Miguel Veloso, quase toddos médios, aliás a maior parte ainda joga.
Ainda me lembro desta final
2023-05-17 12h13m por Politikices
Esta geração prometia muito, depois desta vitória. De facto, o nome maior na altura era o Márcio Sousa, que acabou por fazer carreira discreta. Prometeram igualmente muito jogadores como Paulo Machado, Helder Barbosa ou Bruno Gama, que todos eles se revelaram bons jogadores tecnicamente mas sem aquela capacidade mental de poder dar o salto. Nomes maiores ficam o Moutinho e o Miguel Veloso, sendo que do lado espanhol já brilhava o mega craque David Silva (e curiosamente com os GRs bem nossos conhecidos Adán e Roberto Jimenez. . . )
jogos históricos
U Sábado, 17 Maio 2003 - 17:30
Estádio do Fontelo
Novo Panić
1-2
David Rodríguez 42'
Márcio Sousa 22' 47'

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