Passaram vinte anos. Vinte anos. «É meia vida...». Lembra-se onde estava há 20 anos, caro leitor? Provavelmente, não. Mas há quem não se esqueça nem do dia nem tão pouco do que estava a fazer no dia 17 de maio de 2003.
Bruno Gama, João Coimbra, Tiago Gomes, João Pedro, Carlos Saleiro, Manuel Curto e Mário Felgueiras lembram-se como se fosse hoje. Não é difícil perceber o motivo.
Naquela tarde de 17 de maio, o país parou para assistir à grande final em Viseu. Cerca de 9 mil pessoas pintaram as bancadas do Estádio do Fontelo com as cores da Seleção portuguesa, sem contar com aquelas que assistiam nos muros e até nas árvores que circundavam o recinto do encontro.
Desde 1988 que um Campeonato da Europa de Sub-17 da UEFA não era ganho por um país anfitrião e Portugal tinha uma oportunidade de ouro para escrever uma bonita página de história. Não desperdiçou. Alguns dos protagonistas recordam esse trajeto ao zerozero.
«Parece que passou tudo tão rápido. Recordo com um sentimento de felicidade esse momento. Houve uma grande envolvência, não estávamos habituados a jogar com tanta gente no estádio, mas penso que isso deu-nos uma grande motivação», introduz João Pedro, que saiu lesionado nessa final.
«Guardo esse momento com grande nostalgia e orgulho! Foi um feito muito especial para nós, dos momentos mais bonitos que vivi na minha carreira», atira Manuel Curto, um dos muitos que já penduraram as chuteiras.
«Foi tudo perfeito. Sabíamos que tínhamos uma Seleção muito forte, com jogadores muito bons a nível individual, bastava perceber se a equipa funcionaria no coletivo. Acabou por funcionar. A Espanha era favorita, mas nós acabámos por ter a felicidade de ganhar a final. É uma memória que ficará para sempre marcada», defende Mário Felgueiras.
«Sentíamos que estávamos todos a remar para o mesmo lugar e chegámos a esse dia com a confiança no máximo, principalmente por jogarmos em casa e num estádio cheio. Para nós era uma coisa nova jogar perante tanta gente e em canal aberto na televisao portuguesa», acrescenta Carlos Saleiro, que continua ligado ao futebol pela via do agenciamento.
«Recordo com agrado. Foi algo muito importante na altura e penso que esse título contribuiu muito para a motivação desses jovens para a prossecução das suas carreiras profissionais. A grande maioria acabou por ser profissional [n.d.r. 14 dos 18 jogadores chegaram à Primeira Liga] e alguns deles chegaram inclusive à Seleção A. Isso também quer dizer que o trabalho nos clubes e nas seleções foi importante», conta António Violante, treinador dos sub-17, em 2003.
Antes da final que marcou a carreira e vida destes jogadores, importa também recordar como tudo se foi desenrolando até ao grande jogo com nuestros hermanos. Portugal não teve a necessidade de fazer a fase de qualificação, graças ao estatuto de país anfitrião, e por isso entrou diretamente para a fase de grupos onde encontrou Dinamarca, Áustria e Hungria.
«É verdade, tive a felicidade de fazer dois golos importantes [nos dois primeiros jogos] que ajudaram a equipa a concretizar esse sonho», recorda Manuel Curto, uma das referências ofensivas dos sub-17 e da equipa de juvenis do Benfica, que desatou o nó frente aos dinamarqueses (3x2) e resolveu frente aos austríacos (1x0).
«Recordo-me que tinha feito os três jogos na fase de grupos a titular e que nesse jogo o mister deixou-me no banco, talvez por estratégia. Eu e o Bruno Gama entrámos e sei que o Bruno tirou um inglês da frente e eu finalizei de cabeça. Uma excelente jogada de dois jogadores que tinham vindo do banco. Foi um golo decisivo porque foi muito perto do fim, quando as forças estavam a faltar, e, nesse momento, toda a equipa voltou a acreditar que era possível disputar a final e conquistar o Euro», defende Saleiro, na altura ligado ao Sporting.
«Quando nos sentimos confiantes partimos para as grandes penalidades sem pensar na responsabilidade que temos em cima de nós. Recordo-me que na altura em que ia para a baliza sentia-me plenamente confiante e acreditava que ia conseguir defender pelo menos uma grande penalidade. Defendi uma, outra foi para fora e acabámos por ser felizes», descreve Felgueiras.
«Passou meia vida. Sinto uma enorme felicidade quando recordo esses momentos porque foram tempos realmente muito bons», aponta o mais novinho do grupo, Bruno Gama, ainda com 15 anos na altura da conquista.
Após o triunfo frente a Inglaterra, Portugal teve três dias para preparar a final. Aos 15, 16 e 17 anos, será que os jogadores tinham noção daquilo que estavam prestes a conquistar para o nosso país? Esta seria a primeira grande conquista de uma seleção portuguesa no Séc. XXI.
«Acho que naquela altura não tínhamos bem noção do que aquela conquista poderia significar no nosso futuro. Sabíamos que era muito importante para nós, que era algo que queríamos muito conquistar, mas acho que com aquela idade não se pensa no que pode ou não resultar no futuro», corrobora João Coimbra.
«Naqueles momentos, nós queríamos era desfrutar do futebol. É verdade que depois de termos conquistado o Europeu sentíamos uma grande satisfação pessoal, mas só nos dias a seguir é que tivemos consciência do feito. Só depois é que nos caiu a ficha. Antes era apenas mais um jogo, com a alegria e a vontade de ganhar de sempre», completa Bruno Gama, atualmente no AEK Larnaca, de Chipre.
Habituado a momentos como este, já que esteve também presente nas conquistas dos Sub-18 (1999, em Israel) e dos Sub-16 (2000, na Suécia), o selecionador António Violante confessa que não teve grandes dificuldades na última palestra.
«Eu fiz o meu papel. Tenho ideia de que um treinador não é nada daquilo que se diz por aí, que é um grande condutor de homens. Claro que tem de ter particularidades para liderar um grupo, mas o grande mérito é dos jogadores. Quem ganha são os jogadores dentro de campo. Eu só os ajudei», completa.
«Sabíamos que a Espanha era poderosíssima, pois já os tínhamos defrontado uns meses antes e percebíamos que eram claramente superiores, mas queríamos dar uma alegria ao povo português. Falava-se muito da nossa Seleção, muitas entrevistas, os canais a passarem muito daquilo que era o nosso dia-a-dia e depois o estádio cheio. Tudo ajudou na conquista.»
António Violante Europeu Sub-17 2003 |
O resto é história. Escrita não só pelo Bruno, João, Tiago, Carlos, Manuel, Mário, António ou Márcio. Portugal venceu a Espanha (2x1) e sagrou-se campeão europeu com a ajuda de milhares de portugueses. Uma história que jamais será esquecida. Pelo menos na memória destes jogadores, que, ainda hoje, se tratam como naquele dia 17 de maio de 2003. Vinte anos depois...
«Sinto saudades das brincadeiras que tivemos naquela altura, mas ainda hoje mantenho o contacto com muitos dos meus colegas», garante Tiago Gomes.
«Ainda costumo falar com a maioria pelo Whatsapp e parece que ainda estamos nesses tempos. As conversas, as piadas e as brincadeiras acabam por ser as mesmas. Continuamos crianças e a gozar uns com os outros. É o melhor que fica de tudo isto», concretiza Coimbra.
Nome | Posição | Equipa | GM | |
---|---|---|---|---|
1 | Gr | |||
12 | Gr | |||
Def | 2 | |||
2 | Def | |||
3 | Def | |||
5 | Def | |||
13 | Def | |||
14 | Def | 1 | ||
15 | Def | 1 | ||
4 | Med | |||
6 | Med | |||
8 | Med | |||
10 | Med | 2 | ||
17 | Med | |||
18 | Med | 2 | ||
9 | Ava | 1 | ||
11 | Ava | |||
16 | Ava | 1 |
1-2 | ||
David Rodríguez 42' | Márcio Sousa 22' 47' |