«Na altura do Abel Braga, em que o Famalicão estava na primeira divisão, tinha o privilégio de ser o apanha bolas dos jogadores. Tinha cinco ou seis anos de idade e nunca pensei vir a assumir a função de diretor desportivo no clube. É um privilégio». As palavras, proferidas ao zerozero.pt, são de Pedro Sá, um dos diretores desportivos mais novos em Portugal.
Nascido em Famalicão em 1981, Pedro Sá acaba de completar a primeira temporada como diretor desportivo do clube da cidade na qual nasceu e cresceu, ajudando-o a manter-se na segunda divisão após a subida na época passada. Na memória ficam situações que jamais esquecerá.
«Esta experiência permitiu-me viver o futebol de forma diferente. Já o tinha vivido como jornalista, como relatador, como comentador e até como observador e como assessor de imprensa no Famalicão. Mas como diretor desportivo nunca imaginei que ao meu terceiro jogo fôssemos eliminar uma equipa da segunda Liga, o União da Madeira, da Taça de Portugal. E que ao oitavo jogássemos contra o Sporting, recebendo-o em casa. Foi muito bom viver um momento de grande visibilidade para o clube, numa espécie de ressurgimento de uma instituição que já esteve na primeira divisão», revelou, recordando especialmente o momento em que os leões estiveram na cidade nortenha.
«Nunca pensei defrontar o clube do qual sou simpatizante, o Sporting, recebendo figuras comoCarlos Freitas ou Domingos Paciência, que era o treinador na altura. Aproveitei para conhecer um pouco a dinâmica do clube», continuou, mostrando satisfação por ter trabalhado em pouco tempo com várias pessoas ligadas ao futebol, como o ex-jogadorNuno Cavaleiro, a quem sucedeu como diretor desportivo, José Augusto, técnico que levou a equipa à segunda divisão, Micael Sequeira, ex-treinador do Desportivo das Aves e que orientou o Famalicão na parte final da época, ou Porfírio Amorim, que durante vários anos esteve ligado ao Trofense.
A exercer um cargo que entende ser ainda pouco explorado em Portugal e que normalmente é ocupado por ex-jogadores, algo que não acontece consigo, Pedro Sá não sabe se vai continuar nessa função no Famalicão, mas por ser jovem tem a ambição de aprender mais para, quem sabe, um dia poder trabalhar num dos três grandes em Portugal e ajudar a evoluir o futebol luso.
«Se continuar como diretor desportivo gostaria de um dia trabalhar num dos três maiores clubes portugueses. É um sonho que tenho. Mas também entendo que seria um passo importante passar algum tempo em Inglaterra, onde para mim está o melhor futebol do mundo, e reter um pouco daquilo que se faz na Premier League para trazer algo de novo para Portugal».
Contributo para cimentar o Famalicão na segunda divisão e projetar outros voos
É preciso recuar até à temporada 1993/1994 para encontrar a última época em que o Famalicão esteve no principal escalão do futebol português. Na altura, o penúltimo lugar resultou na despromoção à segunda Liga, juntamente com Paços de Ferreira e Estoril.
Começou aí a queda de um clube histórico do nosso futebol e que tenta reerguer-se novamente. Chegou a estar nos distritais mas durante duas épocas consecutivas conseguiu subir de escalão e esta temporada manteve-se na segunda divisão. Para Pedro Sá, pode ser o início de uma nova era que, «com orgulho», ajudou a construir no Famalicão.
«Não sou eu que faço milagres em conseguir subir de divisão ou garantir a manutenção. Mas penso que na minha função, fazendo o elo de ligação entre os jogadores e a comissão administrativa liderada por João Araújo, ajudei o Famalicão a conseguir uma permanência que é importante. Não podemos esquecer que há uns anos a equipa estava nos distritais», explicou, dando a entender que no emblema famalicense se acredita em voos mais altos.
«O Famalicão é uma equipa com muitos adeptos e nos últimos dois jogos tivemos um somatório de cerca de quatro mil apoiantes. Na última partida em casa, com o Macedo de Cavaleiros, estiveram 3500 pessoas e o tempo não ajudava. Para uma equipa que estava a lutar pela manutenção, penso que é um bom pronuncio e não tenho dúvidas de que se estivéssemos a lutar para subir o apoio seria semelhante àquele verificado contra o Sporting, em que tivemos casa cheia», disse, apelando às forças do concelho para ajudarem o clube a ter ambições maiores.
«Na altura em que soubemos que íamos jogar com o Sporting, disse que seria um prémio para todas as pessoas de Famalicão, que há muito tempo não tinham futebol de primeira Liga. Espero que as forças vivas do concelho se possam unir e ajudar a ter o clube de volta aos grandes palcos, que é onde merece estar».