O dragão Fábio Silva que também já foi águia: «Foi quem melhor me tratou no Seixal»

O nome de Fábio Silva circula entre as bocas dos adeptos de futebol português há já alguns anos, desde que o avançado se começou a destacar nas camadas jovens e chegou muito novo à equipa principal do FC Porto, ajudando os dragões a conquistar um campeonato e uma Taça de Portugal, depois de já ter conquistado uma Youth League. Contudo, há um passado que o liga ao rival Benfica, clube que agora reencontra.

Natural do Porto, Fábio Silva começou a jogar muito novo, no Nogueirense, tudo devido à proximidade da casa do avô ao Estádio Municipal de Nogueira e por causa do irmão, Jorge Silva, que também aí iniciou o percurso futebolístico. De resto, ambos seguiram na época seguinte para o Gondomar SC, antes de chamarem à atenção do FC Porto e para lá se mudarem, em 2010.

Após cinco anos na academia portista, no entanto, ambos decidiram mudar-se para a capital e representar o grande rival do seu até então clube, o Benfica, num percurso nem sempre visto com bons olhos. Contudo, na altura, os encarnados «agradeceram.»

Fábio Silva nos tempos de Benfica, frente ao FC Porto @Global Imagens / 8962

«Não foi o primeiro a trocar entre rivais, mas não houve grande surpresa. Para nós, no que diz respeito à área técnica, recebemos de bom grado e ainda hoje é assim. Sabíamos que vinha do FC Porto, mas que também era um jogador com muito potencial», conta ao zerozero Filipe Coelho, o primeiro treinador a acolher Fábio Silva no Seixal, nos Sub-14.

Fábio Silva Benfica [Jun.C S15] Total

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«Chegámos a discutir entre equipa técnica sobre se o 4x3x3, que era a bandeira da formação do clube, encaixava verdadeiramente bem para o Fábio estar isolado na frente, porque era um miúdo muito inteligente, que preenchia muito bem os espaços entre linhas e identificava facilmente os espaços. Talvez conseguisse maior mobilidade com um colega na frente. Estes jogadores inteligentes precisam que se dê alguma liberdade, porque eles acabam por perceber o espaço que podem ocupar. O Fábio beneficiava de ter pessoas à frente para se associar, juntando o tal faro para o golo», acrescenta o agora técnico da equipa Sub-23 do Estoril Praia.

Um bom colega de cacifo

No Benfica, Fábio Silva conviveu com outras grandes promessas do futebol nacional, incluindo algumas que agora reencontra nesta eliminatória entre Rangers e Benfica. Samuel Soares, Tomás Araújo, Paulo Bernardo, Henrique Pereira ou Gonçalo Ramos foram apenas alguns dos nomes com quem dividiu balneário. Entre esses colegas esteve Renato Matos, que recorda de sorriso na cara a amabilidade de Fábio.

Renato, Famana e Fábio nos tempos de Benfica @Arquivo pessoal

«Fora de campo é uma pessoa bastante normal, um rapaz super humilde e trabalhador. Partilhei um ano com ele no Benfica e alguns anos na seleção nacional, mas o que me marcou mesmo foi a maneira como me tratou, não me conhecendo pessoalmente. Já nos tínhamos defrontado várias vezes, mas nunca convivido fora do ambiente de jogo. A maneira como ele recebe um jogador que acaba de chegar, porque eu não tinha cacifo e ele ofereceu-se para eu ficar com ele e ajuda. Levou-me a todo o lado e apresentou-me toda a gente. Criámos uma boa relação», acrescenta.

Miguel Pires, atualmente no Alverca, foi outro dos membros desse Benfica e destaca a precoce qualidade de Fábio: «Jogámos muitas vezes contra o FC Porto e o Fábio sempre se destacou muito, mesmo no futebol de 7 e em torneios internacionais. Sabíamos que era um grande jogador e confirmou isso. Não surpreendeu ninguém. Era um bom colega de balneário. Não era aquele amigo com quem combinava coisa fora do contexto de treino, mas não tenho nada a apontar. Porreiro, trabalhador e humilde.»

Insatisfeito? Nem por isso, mas com surpresa

Fábio voltou ao FC Porto em 2018 @FC Porto

Embora com sucesso, visto que foi campeão nacional de iniciados, a estadia de Fábio Silva (e do irmão) no Seixal foi curta, com a duração de apenas duas épocas. Na altura, o jovem avançado e o irmão decidiram voltar para o FC Porto, em 2017/18. Surgiram rapidamente relatos de que Fábio estaria insatisfeito na Luz, ao qual se juntava a perda de espaço do irmão Jorge na equipa de juniores.

Isto terá levado a que José Tavares, então coordenador da formação dos azuis e brancos, fosse propositadamente ao Algarve, onde a família Silva passava férias, para garantir o seu sucesso. Procurámos perceber a razão deste alegado descontentamento, mas todos os intervenientes com quem falámos admitiram desconhecê-lo e até garantiram que dificilmente seria verdade, pelo que viam de Fábio.

Fábio venceu a Youth League pelo FC Porto @FC Porto

«O Fábio nunca esteve insatisfeito no Benfica, porque sempre foi visto como uma das maiores promessas do centro de estágio. Sempre foi, e ainda hoje é, uma pessoa muito ligada à família e a família sempre lhe deu a estabilidade, que é muito importante para um jogador. Liga muito à situação da família, tem uma ligação muito próxima ao pai e ao irmão. Não sai do Benfica por causa do irmão, que tem a carreira que tem. Acho que o que aconteceu ali foi que o FC Porto fez uma proposta ao Fábio de valores que o Benfica não chegaria e a verdade é que o Fábio também é do Norte e ficava mais perto da família. Tudo pesou um bocado. Pelo que sei, não estava descontente do Benfica. Nem sequer sabíamos que ia sair», concorda Renato Matos.

E foi campeão nacional @Vítor Parente / Kapta+

«Surpreendeu-me ele voltar para o FC Porto. Não o sentia insatisfeito e que o projeto Benfica era interessante para ele e para outros jovens. Era um projeto com camadas de formação muito boas, onde ele jogava um ou dois escalões acima, porque sempre se destacou muito. Contudo, quando ele vai para o FC Porto, vai para os juvenis, mas começa logo nos juniores e até ganha a Youth League. Isso são questões que ele sabia e nós não e aparenta que tomou a decisão certa», aponta Miguel

«Surpreendeu-nos um bocado, para ser sincero. Nós sabíamos que ele não tinha contrato. Estava a tratar da renovação, mas não estávamos à espera que saísse. As coisas correram-lhe bem, porque foi para o FC Porto, estreou-se na equipa principal e fez a carreira dele. Foi a melhor decisão dele e tenho a certeza absoluta que ele tem a certeza que foi a melhor opção para ele. Se voltasse atrás fazia tudo igual e tem razão», conclui Renato.