Chegou a Portugal pela porta do Torreense, mas rapidamente saltou para a I Liga, onde começou a dar nas vistas. Marçal iniciou em Portugal um caminho que teve como auge a campanha em grande destaque na Liga dos Campeões da última temporada, onde só caiu na meia-final, perante o eventual vencedor.
Na primeira parte da entrevista ao zerozero, o agora jogador do Wolverhampton falou do seu humilde percurso no futebol português, que começou no terceiro escalão e acabou no Benfica. Parte de um lote de jogadores contratados e que acabaram por nunca representar o clube, contou-nos que não guarda rancor, mas confessou-se «desiludido» pela maneira como foi tratado. Pelo caminho ainda foi a tempo de contar a razão para não ter sido aposta...
zerozero: Chegas à Europa pelo Torreense. Porquê esta escolha?
Marçal: «Sempre foi uma vontade minha vir jogar na Europa. Apesar de ser um ferrenho torcedor do Brasil, acho que o campeonato não fazia muito o meu estilo de jogo. Sempre tive uma vontade grande de vir para Portugal. Quando surgiu a oportunidade, não soava mau na minha cabeça a questão do Torreense ou da terceira divisão. O que estava na minha mente era ir para Portugal, uma porta que muitos brasileiros usam como porta de entrada na Europa. Senti que era uma oportunidade interessante.»
zz: Depois saltas para o Nacional. Quais são melhores recordações?
Marçal: «O Nacional foi muito bom. Foram três épocas e meia muito boas. Ter conseguido a qualificação e depois jogar na Liga Europa foi, na altura, um dos melhores momentos. Mas existem outras, como ter ganho ao FC Porto na Choupana, o Nacional tinha uma equipa muito boa e passei lá três anos e meio muito bons.»
zz: Partilhaste o balneário com jogadores como o Rui Silva, que está em destaque em Espanha, o Soares, que esteve no FC Porto, e o Lucas João, que foi para o Sheffield Wednesday. Sentes que o clube é uma boa rampa de lançamento?
zz: O que faltou para aproveitar mais?
Marçal: «Passaram muitas joias pelo Nacional e não posso dizer que não souberam aproveitar. O problema hoje em dia é a questão financeira, que influencia muito o campeonato português. Há ainda um desnível nessa questão. Os grandes têm muito e essas equipas acabam por ter pouco. São clubes que não conseguem segurar esses jogadores por muito tempo.»
zz: Uma boa temporada levou-te ao Benfica. É verdade que o Sporting também tinha feito proposta?
Marçal: «O Sporting acabou por ficar a detalhes do fecho do contrato. Foram pequenas coisas que acabaram por levar mais tempo e o Benfica tinha sido campeão nacional, e estava a ser. Uma temporada antes, o Jorge Jesus já me tinha tentado levar para o Benfica e acabei por optar, principalmente, por causa do treinador que já tinha mostrado empatia pelo meu trabalho. Assinei com o Benfica e meses depois o Jorge Jesus acabou por assinar pelo Sporting e isso influenciou muito o tempo que estive no clube.»
zz: O que sentiste quando soubeste que serias emprestado?
zz: Que resumo fazes desses dois anos?
Marçal: «Muito positivo. O primeiro empréstimo à Turquia foi a minha primeira experiência fora de Portugal e fora da língua portuguesa e foi muito especial para mim. Cheguei, joguei sempre e acabei por ter muita confiança dos adeptos e do clube. Abri um mercado para mim que antes não tinha. Até hoje, a quantidade de clubes que me ligam na janela, para poder ir para os clubes, 90% são turcos. No ano seguinte, no Guingamp, foi tão boa ou melhor como na Turquia. Acabei por chamar à atenção a clubes grandes e Lyon fez um esforço grande para me ter. Num momento em que um jogador ficaria chateado por não ficar no Benfica, eu vi uma oportunidade de abrir dois mercados e deu certo.»
zz: Até onde é que achas que podias ter ido se tivesses sido aposta no Benfica?
Marçal: «É difícil falar do que não aconteceu, seriam só hipóteses. Eu acredito no meu potencial, sei que na equipa do Benfica eu poderia jogar facilmente, como joguei no Lyon. Até chegámos a jogar no mesmo grupo da Champions League e quem ficou para trás foi o Benfica. Em termos de capacidade e trabalho tenho a certeza que posso jogar em qualquer clube.»