É um dos nomes mais míticos da história do futebol francês. É um dos presidentes mais míticos da história do futebol europeu e mundial. E vamos ser já 'spoilers', ao dizer de quem é este título: France Football. A prestigiada revista francesa classificou, em 2021, Jean-Michel Aulas como o «melhor presidente da história do futebol francês».
É este o nosso ponto de partida para traçar o perfil do homem que afirmou, sem problemas, que o Lyon vai eliminar o FC Porto e do homem levou este clube para patamares impensáveis em 1987, ano em que passou a liderar um clube que só tinha... quatro funcionários assalariados. Sempre explosivo, polémico e sem 'papas na língua'... eis Jean-Michel Aulas, caros leitores.
Empresário do ramo industrial desde cedo, Aulas foi o fundador e Diretor Executivo da CEGID (Compagnie Européenne de Gestion par l'Informatique Décentralisée), empresa dedicada a software de gestão e contabilidade. Jogador de andebol na sua juventude, Jean-Michel também tinha como grande paixão o futebol, ao ponto de se ter tornado convidado regular do Ambitions, programa de futebol da televisão francesa TF1... que um dia recebeu Bernard Tapie como convidado especial.
O resto, como se costuma dizer, é história. E uma história bem grande que tem muitos capítulos de sucesso nas margens do Rio Rhône. Aulas começou rapidamente a preparar o futuro daquele que viria a ser um 'Super Lyon', dominador do futebol francês no início do novo milénio. Com estratégias muito bem definidas e com objetivos pincelados com ambição extrema. Que começariam na II Divisão francesa.
Jean-Michel Aulas não perdeu tempo para colocar mãos à obra. Com o Lyon mergulhado no segundo escalão há quatro temporadas, o agora presidente tratou de meter em marcha um plano que, anos mais tarde, admitiu ser mais a pensar no marketing do que no plano desportivo: o projeto OL-Europe.
O grande Lyon começaria aí, com Raymond Domenech, lenda do clube enquanto jogador, a ser a o treinador do projeto até se tornar selecionador francês anos depois. A cara, essa, era outra. Foi assim durante grandíssima parte do tempo de Aulas como presidente do Lyon: Bernard Lacombe.
Foi com este antigo internacional francês, também ele ídolo do clube enquanto jogador, que Jean-Michel Aulas viu o Lyon crescer em termos futebolísticos. Sempre com uma política desportiva bem definida, o Lyon foi subindo patamares até chegar ao topo dos topos. E chegar ao tão desejado título que mudou a visão para com o clube: de clube respeitado a clube temido.
Mas antes existiu uma fase decisiva para que a estratégia resultasse. A contratação de jogadores consagrados, como Sonny Anderson, Edmilson ou Juninho deram um cunho de maior respeito a este inovador conceito de aposta desportiva. E resultou. Formou-se a base necessária para os jovens terem espaço para crescer e explodir. Depois era tempo de vender, com o implacável Jean-Michel Aulas a conseguir muitos milhões nas transferências.
Com os títulos (foram sete seguidos) a darem o embalo necessário para o projeto seguir como se de um cruzeiro se tratasse, Aulas ia vendo, por outro lado, as críticas a crescer. A política de vendas milionárias trouxe para as capas a sua visão empresarial, poucas vezes bem vista no que ao futebol diz respeito. Mas o certo é que... resultou. Em 20 anos, Jean-Michel Aulas tornou o Lyon na principal referência do futebol francês. Faltava a parte europeia...
A modernização foi sempre uma das preocupações de Jean-Michel Aulas. Ciente de que o Stade Gerland não se poderia tornar mais funcional do que já era (foi construído em 1926), o presidente idealizou a construção de um estádio próprio para o clube: o Stade des Lumières ou Parc OL. Por ser longe do centro da cidade, Aulas foi alvo de muitas críticas, avanços e recuos... mas conseguiu.
Com um custo total de 480 milhões de euros, o Parc OL foi inaugurado em 2016, quatro anos depois da sua construção ter começado. O 'menino dos olhos' de Aulas foi um dos palcos do Euro 2016 e o seu financiamento nunca foi escondido: continuar com a política de formar e vender jogadores de grande potencial. Falta apenas o acompanhamento desportivo, que ficou pelo caminho com o último do hepta e que agora tem nova cara: a lenda Juninho, que rendeu Lacombe e, entretanto, também já saiu do clube.
De lá para cá, o Lyon esteve mais perto na Europa, mas nem por aí o sucesso chegou. Duas meias-finais de Liga dos Campeões aqueceram o coração de Aulas, sempre muito ativo em organizações inovadoras, como são os casos do G14 (entretanto extinto) e do ECA. E sempre muito ativo no seu Twitter, onde continua polémico como sempre, nomeadamente no que diz respeito à arbitragem...