É preciso ter letra

Nuno Santos tem 28 anos e seguramente ainda alguns bons anos na elite do futebol, mas o golo desta noite jamais vai ser esquecido. Uma obra de arte. Se houvesse um museu para os grandes golos, este entraria sem pedir licença. Além da jogada ter sido fabulosa, a finalização, em andamento e sem grande tempo para a executar revela bem da boa desfaçatez do jogador. Além do golo, Nuno Santos somou várias oportunidades para voltar a marcar, mas a noite ficou feita com classe pura.

O uruguaio voltou a estar em grande nível. A capacidade física que demonstra é algo assinalável e neste desafio foi imperial na forma como anulou os ataques do Boavista. O médio permitiu que Morita e jogasse mais adiantado sem qualquer tipo de problemas. Só em recuperações de bola foram quase uma dezena. Teve pulmão para tudo, até para tirar um golo ao Boavista, depois de um erro primário de Gonçalo Inácio.

Quando não há medos, nem preocupações tudo parece mais fácil e sai com maior naturalidade. Ricardo Esgaio assinou uma exibição de grande nível. Teve muito espaço para explorar o corredor (as combinações com Edwards deixaram a defesa do Boavista perdida), tentou marcar um golo de pé esquerdo e terminou a noite a assistir Paulinho. Muito bem.

Edwards teve mais uma noite em que sabemos o que vai fazer, mas nunca sabemos como os adversários vão reagir. Sempre muito rápido, intenso e a procura os lances de envolvência ofensiva, o inglês foi fundamental para que os leões produzissem muito futebol ofensivo durante os primeiros 45 minutos. Chermiti roubou-lhe uma assistência, mas a forma como trabalhou o lance do primeiro golo, chamando a si muitos adversários foi notável.

Seba Pérez não sabe jogar mal, mas precisa muito de espaço para conseguir jogar o melhor futebol que tem. Durante a primeira meia hora esteve muito preocupado com as tarefas defensivas e só se soltou depois disso. Teve a capacidade de dar profundidade ao jogo, com os passes teleguiados para as saídas de Mangas e Yusupha. Tentou mexer com o jogo, mas faltou-lhe o apoio de outros jogos.

Mais um jogo aceitável do reforço de inverno do Sporting. Amorim voltou a dar minutos ao costa-marfinense e o central não comprometeu. Soube antecipar-se às saídas do Boavista e teve de lidar com as subidas de Bruno Onyemaechi. Nunca teve grandes problemas e ainda tentou explorar os passes em profundidade na variação de jogo. Ainda com o processo de crescimento a andar, destaque para o amarelo despropositado que viu, já com o jogo resolvido.

Ibrahima Camará tem sido um dos jogadores de destaque do Boavista desta temporada, mas em Alvalade o jogador da Guiné-Conacri somou vários erros. Desde o posicionamento, pois sendo médio defensivo ocupou várias vezes zonas mais adiantadas e o Sporting aproveitou para explorar esse espaço na perfeição. Além disso, não teve a intensidade que é habitual: para um jogo deste nível, esse fator, é muito importante.

Em menos de um minuto Salvador Agra passou do azar para o muito azar. O extremo tinha acabado de controlar mal uma bola no ataque boavisteiro e logo a seguir tentou fazer um corte, mas fuzilou a baliza de Bracali. O jogo não estava a correr bem, pois Salvador Agra esteve sempre muito distante das zonas de ação, mas aquele auto-golo dissipou todas as dúvidas: não foi o dia dele.