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Pormenores deliciosos revelados pelo dirigente

De Robson a Conceição, passando por AVB: Pinto da Costa analisou os seus treinadores

2022/12/27 23:30
E7

Ao longo de quatro décadas, Pinto da Costa trabalhou e conviveu com treinadores que deixaram, de uma ou de outra forma, a sua marca na vida do dirigente. Agora, no programa Os Homens do Presidente, no Porto Canal, o presidente do FC Porto revelou pormenores curiosos sobre essas relações. O zerozero selecionou algumas dessas partes, com palavras que vão desde o carismático Bobby Robson até Sérgio Conceição, «o mais parecido com Pedroto» e que até podia ter chegado anos antes ao Dragão. Garantia de Pinto da Costa. 

SOBRE JOSÉ MARIA PEDROTO: «Adorava ouvi-lo falar de futebol, estava adiantado 50 anos. A coerência, a maneira de ser, não tinha medo de nada e ia em frente até conseguir os objetivos. Ele achava que iríamos fazer uma boa dupla, houve vontade de nós os dois e do presidente [Américo de Sá]. Conseguimos vencer dois campeonatos, uma ou duas Taças, eliminámos o Manchester United, fizemos exibições fantásticas. Foi um bom período e justificou-se a confiança depositada num grande treinador, estratega e condutor de homens. Pedroto não tinha o discurso que tinha para me agradar Tinha-o por convicção. Os ideais dele em termos de região, de combater o centralismo de Lisboa.»

SOBRE ARTUR JORGE: «Noventa por cento das conversas com Pedroto eram sobre futebol. O Artur Jorge gostava de falar de literatura, de música. E eu também gostava. Claro que também falávamos de futebol e do FC Porto, mas não era como Pedroto, que era obcecado pelo futebol. O intelecto de Artur Jorge não estava totalmente virado para o futebol. Artur Jorge tinha ideias e conceitos diferentes de Pedroto. No tempo de Pedroto, o FC Porto jogava muito bem, mas não tinha jogadores como teve o Artur Jorge, a começar pelo guarda-redes: o Mlynarczyk foi dos melhores guarda-redes que passaram pelo clube. Teve o Madjer, o jogador mais completo do FC Porto. O Gomes no expoente máximo. Com jogadores desse valor, mais necessário é ter jogadores com personalidade para pegar numa equipa.»

SOBRE TOMISLAV IVIC: «Íamos jogar com o Ajax na Supertaça, uma equipa poderosíssima, e ele a dizer: 'Vamos ganhar. Eles contam com o Madjer e não vai haver Madjer. Vai o Rui Barros, a vir de trás como uma lebre!' E aconteceu exatamente como ele disse. Não perceberam que não havia ponta de lança e o Rui isolou-se três vezes, fazendo golo numa delas. Ivic tinha outro estilo, outra nacionalidade, mas ganhou!»

SOBRE QUINITO: «O Quinito sentiu a pressão, tinha feito um campeonato sensacional com o Espinho, mas não aguentou a pressão. Recordo-me de que fui com ele ver um jogo quando íamos jogar com o PSV e no final do jogo disse-lhe que o jogo passava todo pelo Ronald Koeman. E ele: 'Não sou treinador de marcações, o FC Porto tem de se impor!' Ora, o Koeman ficou à solta e levámos 5-0. Ainda no balneário, ele disse: 'Presidente, tinha razão e eu demito-me.' Eu não aceitei, disse era que ele tinha de ganhar, mas ele não aguentou a pressão.»

SOBRE CARLOS ALBERTO SILVA: «Foi um treinador interessante, sui generis, que gostava de agitar as coisas. Gostava de sentir o ambiente. O que é certo é que criava esse ambiente hostil e ganhava. Aproveitava para motivar a equipa, dizia aos jogadores que estava tudo contra eles. Era engraçado, uma pessoa excelente e teve êxito, foi bicampeão nacional. Infelizmente já faleceu.»

SOBRE BOBBY ROBSON: «Fomos a Lisboa, deram-nos a morada dele, andámos perdidos lá por Monsanto, mas chegámos, entrámos e vejo o homem a fazer as malas. E eu: 'Isto está a correr mal, o homem vai-se embora'. Eu disse: 'Míster, quero que venha para o FC Porto'. E ele: "Não, Portugal não! São loucos!' Então, ele ligou para a mulher e explicou a situação, disse que o FC Porto era diferente, mas ela dizia que não. Tanto conversámos que ele percebeu: 'Tem de mostrar ao Sporting, em particular, que é um grande treinador.' Deixou as malas em Lisboa, veio para cima e, no dia seguinte, assinou pelo FC Porto. Foi duas vezes campeão, festejou um dos campeonatos em Alvalade. Eu disse: 'Quem tinha razão?'»

SOBRE ANTÓNIO OLIVEIRA: «O Oliveira tinha uma grande intuição para alterar não só as substituições, mas também o próprio jogo. Não vou dizer que ele foi um dos grandes treinadores que conheci a treinar, porque aí conheci três: o Pedroto, o Robson e o Sérgio Conceição. Não era mau, mas não era aquilo que se possa chamar fantástico. Mas nasceu para o jogo. Na visão de jogo, substituições, tática, ele era top.»

SOBRE FERNANDO SANTOS: «Ia a descer com ele para o apresentar, naquela rampa das Antas, e íamos com o rádio ligado e ouvimos assim: 'o benfiquista Fernando Santos é o novo treinador do FC Porto. Ele ficou incomodado. Perguntei qual era o problema, disse-lhe que ser do Benfica é de mau gosto, mas não é crime. E ainda que não tem problema nenhum, que passados a 15 dias estaria a viver o FC Porto. Ele mais tarde deu-me razão e hoje não tenho dúvidas de que ele ainda sente o FC Porto.»

SOBRE OCTÁVIO MACHADO: «Para mim não é fácil falar do Octávio Machado, porque sei que tem uma má relação comigo, embora eu não tenha má relação com ele. Infelizmente, nem sequer tenho relação. Mas tenho que reconhecer que, para mim, foi o melhor adjunto que conheci no FC Porto nestes quase 45 anos que estou ligado ao futebol. Sem dúvida alguma, em termos de dedicação, de colaboração com o treinador, lealdade com o treinador, pela postura… diria que foi, para mim, o que personificou o adjunto ideal.»

SOBRE JOSÉ MOURINHO: «Eu acho que o Mourinho foi e é um dos grandes treinadores de sempre, mas é o que é muito por fruto dos anos que passou com o Bobby Robson. Lembro-me que o Mourinho, quando veio, revolucionou o nosso futebol. Era a transição, transição, transição… E as equipas eram apanhadas por essa nova transição que teve origem no Bobby Robson, que também dizia transição, transição, transição. E o Mourinho implantou esse espírito numa nova geração de jogadores e conseguiu dar uma confiança à equipa que a levava a vencer.»

SOBRE VICTOR FERNANDEZ: «Não foi um fracasso. Um treinador que ganha uma Supertaça e uma Taça Intercontinental não precisa ganhar mais nada. Por isso está no museu em destaque, entre os que venceram provas internacionais. Eu acho que ele era, no futebol, demasiado boa pessoa. E nós tivemos um problema disciplinar, dois dias antes de um jogo com o Braga: três jogadores que foram passar a noite a Vigo, fizeram uma direta e foram para o treino e quando entendi que tinham de ser suspensos, ele aceitou isso, mas depois pô-los em jogo. E perdemos por nítida incapacidade desses jogadores.»

SOBRE JOSÉ COUCEIRO: «Foi uma transição para acabar a época. Não teve sorte, também foi vítima de algumas arbitragens esquisitas, mas deixou no FC Porto um rasto de simpatia, porque além de ser profundo conhecedor de futebol, deixou grande impressão e amizade em todos nós, a começar por mim.»

SOBRE CO ADRIAANSE: «Tinha informações de que era um disciplinador e fui à Holanda, com o Antero, falar com ele. Era um pouco extravagante, mas no bom sentido. Praticamente nesse dia ele ficou de vir ao Porto, mas ficou assente que aceitava vir. Veio muito disciplinador. Ele só queria dois por cada lugar e três guarda-redes. Eu cheguei ao fim e disse: 'Ó míster, não está aqui o Jorge Costa.' Ele respondeu: 'O Jorge Costa não pode jogar neste sistema. No meu esquema não cabe. Presidente, o meu plantel é este. Se quiser pôr o Jorge Costa, ponha. E se ele for melhor do que outros, melhor. Mas ele não tem condições para jogar com três defesas, porque já não tem velocidade. Se estiver bem joga, se se portar como os outros...'»

SOBRE JESUALDO FERREIRA: «Eu conhecia o Jesualdo, era admirador dele, embora não fosse o meu tipo de treinador. O meu estilo era mais Mourinho, Jesualdo era mais conservador, mas era um autêntico professor de futebol. Ficámos sem o Adriaanse a oito dias de começar o campeonato. Os treinadores possíveis já estavam colocados e o Jesualdo, que vinha do Braga, onde fez um grande trabalho, tinha ido para o Boavista. Falei com ele, que me disse imediatamente que desde que resolvesse o problema com o Boavista ele vinha. E veio. Foi o treinador que mais fazia evoluir os jogadores.»  

SOBRE ANDRÉ VILLAS-BOAS E VÍTOR PEREIRA: «Sempre achei que muito do mérito do André Villas-Boas também vinha do Vítor Pereira, embora o mérito venha sempre do chefe. A forma como preparava os treinos, era ele que os dava, o Villas-Boas ouvia-o sempre. Acreditei sempre que era uma boa solução. Como o André saiu intempestivamente, face a um contrato fabuloso do Chelsea. Eu até exigi 'cash' e eles pagaram, dinheiro do Abramovich e do Putin, então não pude impedir que fosse embora. Se eu considerava que o Vítor Pereira tinha uma grande percentagem do sucesso no Villas-Boas, para que é que ia buscar uma pessoa que não conhecia o clube e o plantel? Apostámos nele e com sucesso. Foi o campeonato do Kelvin, campeonato sem derrotas. Foi uma aposta ganha.»

SOBRE JULEN LOPETEGUI: «O Lopetegui tinha um jogo de que as pessoas não gostavam, mas é preciso não esquecer que é ele quem apanha o tempo das arbitragens lastimáveis do tempo do Vítor Pereira. Não podemos dizer que não fomos prejudicados por isso e depois não dar o conforto ao treinador. É evidente que, fruto dessas coisas e também de falta de audácia, não venceu nada. Ao fim desses dois anos entendemos que o melhor era acabar a nossa ligação. Mas, curiosamente, mantenho uma excelente relação com ele, porque tivemos um convívio muito agradável.»

SOBRE JOSÉ PESEIRO: «Falta falar num pequeno hiato, que é quando Lopetegui vai embora. Eu entendia nessa altura que o Sérgio Conceição era o treinador indicado. Ele estava no Vitória e senti da parte de quem comandava comigo o futebol e a SAD, que não acreditavam no que eu acreditava. Como era uma período de transição, para não criar guerras com o Vitória de Guimarães, fomos buscar o José Peseiro. Uma transição para esquecer, mas nunca deixei de ter o Sérgio como prioridade.»

SOBRE NUNO E. SANTO: «Foi muito vítima das arbitragens, mas acho que o Nuno não conseguiu entrar bem nos jogadores. Trabalhava muito bem o setor defensivo, mas faltou-lhe empatia com os jogadores. Acho que o Nuno desconfiava de toda a gente. Ia para um almoço com o staff e não falava, estava sempre fechado nele mesmo. Não criou empatias com ninguém, nem com os jogadores. Faltou isso para que, quando era preciso darem algo mais, os jogadores estivessem dispostos a tal. O feitio dele era muito introspetivo, não ajudou e foi vítima das arbitragens.»

SOBRE SÉRGIO CONCEIÇÃO: «Eu percebi que o Sérgio Conceição daria treinador quando ele assumiu o comando do Olhanense. Eu não conheço nenhum clube que fosse tão difícil de trabalhar, que tivesse tantos problemas. Conheço-o desde que ele tinha 16 anos e vejo-o quase como um familiar, sempre gostei muito dele. E comecei a acompanhar o trabalho dele. Falava com o presidente do Olhanense, que me dizia maravilhas. Dizia-me: 'Nós não temos nada, mas este treinador consegue segurar-nos.' Acompanhei a carreira dele também no Braga, onde faz um trabalho fantástico, mas perde uma Taça de Portugal a três ou quatro minutos do final por causa do erro de um defesa. Não é culpa do treinador.»

Portugal
José Maria Pedroto
NomeJosé Maria Carvalho Pedroto
Nascimento1928-10-21
Nacionalidade
Portugal
Portugal
FunçãoTreinador

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Comentários

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Onde está?
2022-12-28 09h02m por f1950
Paulo Fonseca?
N0nameboy1
2022-12-28 08h21m por NandoTobias
Onde é dificil de perceber? O. o não ter má relação e nem sequer ter relação, é coexistente, se não tem má relação pode n ter relação, se ñ têm relação ent é normal que não tenha uma má relação, ñ estou a perceber a tua logica, só mesmo para tentar criticar?
Engana!!!
2022-12-28 04h05m por N0nameboy1
Respostas como no caso do treinador. Quando fala do Otávio Machado e passo a citar "Para mim não é fácil falar do Octávio Machado, porque sei que tem uma má relação comigo, embora eu não tenha má relação com ele. Infelizmente, nem sequer tenho relação. "
"
Tem relação má com ele, mas o PAPA nao tem má relação com e depois já nem sequer relação têm? Que jogo psicológico é este kkk
Mourinho
2022-12-28 01h51m por moumu
O que levou o FCP à glória em 2 épocas seguidas.

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