Portugal está no Campeonato do Mundo!
Há 10 anos, muitos julgavam impossível. Hoje, é real. A Seleção Nacional de futebol feminino vive os melhores dias da sua história depois de ter conquistado o tão ansiado lugar na principal competição de seleções do planeta e Carole Costa é um dos nomes que vai ficar eternamente gravado a letras douradas no livro de memórias.
Jogadora com mais minutos da era Francisco Neto. Jogadora com mais minutos e melhor marcadora da fase de qualificação para o Mundial. Segunda mais internacional de sempre. E autora do «golo mais importante» da história de Portugal. Um conjunto de epítetos que podemos associar à central portuguesa.Depois da história feita na Nova Zelândia, Carole esteve presente no "Primeiro as Senhoras", podcast do zerozero inteiramente dedicado ao futebol feminino, e deixamos aqui agora as principais notas de uma conversa imperdível.
Primeiro as Senhoras (PS): As emoções já estão todas recompostas?
Carole Costa (CC): Ainda é tudo muito recente. A felicidade é enorme, tanto nossa como de todos os portugueses. Confesso que festejei muito. Acho que merecemos e o futebol feminino em Portugal merece. Foi uma jornada difícil, com 13 jogos, para estarmos no Mundial, mas acho que já mostramos que nos momentos mais difíceis é quando nos agregamos mais. Conseguimos por nós e por todas as gerações do futebol feminino.
PS: O que há mais por fazer?
CC: Agora que já estamos no Mundial, é conseguirmos passar à próxima fase. Não é um objetivo fácil, mas depois de estarmos lá temos de ter esse objetivo. É isso que nos move. Temos de nos agarrar a qualquer coisa. Evoluímos muito e as seleções já tem muito respeito por nós. Temos de ser humildes, responsáveis e trabalhar muito acima de tudo. Vamos dar o nosso melhor por todas as gerações.
PS: O que te passou pela cabeça naquele minuto 90+4?
PS: Como foram essas semanas na Nova Zelândia, na antecâmara do jogo mais importante das «nossas vidas»?
CC: Não foi fácil. Tivemos alguns contratempos: ciclones, sismos, alertas de tsunami, praga de grilos… Acabamos por conseguir preparar o jogo da melhor maneira possível e acho que correu bem. A equipa estava unida.
PS: Jogadora com mais minutos nesta qualificação, melhor marcadora… Tem um sabor ainda mais especial?
CC: Todas as jogadoras que estão na Seleção são importantes. Estou muito feliz por esses números e sinto que estou na melhor fase da minha carreira, contudo quero dizer também que acho que esta Seleção está muito forte e é isso que nos tem feito crescer. Não ligamos muito ao nome que temos nas costas, nós lutamos por uma causa e lutamos pelo futebol feminino em Portugal. Queremos elevar o nome do nosso país o mais alto possível.
PS: Nota-se muito que as jogadoras se sentem muito umas às outras. É algo muito importante para momentos de sofrimento constante, como esta vitória contra os Camarões nos últimos minutos?
CC: Sabe melhor, mas a verdade é que damos sempre tudo dentro de campo. Contra os Camarões foi uma questão mais física, mas acabamos por impor o nosso jogo. É importante salientar o balneário saudável que temos, o bom ambiente que temos. Costumamos dizer no balneário que a bola pode passar por uma, mas que não passa por outra. É este compromisso que temos. Os clubes também têm papel importante nesta evolução.
PS: Acreditas que estas conquistas são importantes para alertar as pessoas para a necessidade de haver mais investimento? Ainda vemos muitas jogadoras na nossa Liga BPI que têm de conciliar o futebol com outra atividade profissional…
CC: Sem dúvida! Acho que tudo isso é importante. Acho que trabalhar e jogar é muito difícil, mas jogar e estudar deve conciliar-se sempre. A carreira de uma desportista, ainda por cima mulher, é curta e devemos ter plano B. Os estudos são fundamentais. Percebo as realidades, entendo as jogadoras que o fazem, mas se me perguntassem se gostava que todas fossem profissionais no futebol acho que a resposta é fácil.
PS: Ainda é uma diferença grande quando jogam Liga dos Campões e depois passam para a Liga BPI?
CC: Sim, ritmos diferentes. Não é fácil passar de uma Liga dos Campeões para Liga BPI, mas tentamos adequar essa diferença no treino. Mas também é importante dizer que a Liga tem crescido muito. Nós enquanto atletas damos o nosso máximo, os clubes tentam dar o melhor também e a Federação ajuda nesse crescimento.
PS: Fazemos uma pequena pausa no teu percurso em Portugal para falarmos um bocadinho sobre a tua experiência na Alemanha.
Carole Costa 8 títulos oficiais |
PS: Da Casa Povo Martim a 152 internacionalizações pela Seleção Nacional…
CC: Acho que nem nos meus melhores sonhos imaginava tal coisa. Imaginava que podia ir à Seleção, pois era um objetivo que tinha, agora que ia jogar tantos jogos nunca imaginava. Estou feliz por isso e espero fazer mais alguns. Vamos lá ver até quando é que as pernas aguentam.
PS: Já conseguem bater-se com as melhores seleções.
CC: As seleções com mais estatuto começam a ter mais respeito por nós. Veem o futebol que nós praticamos. Acho que o segredo é estarmos tão unidas e perceber o que a equipa técnica quer para determinado jogo. Não somos surpreendidas muitas vezes e conseguimos impor o nosso jogo. Além disso, temos jogadoras que fazem coisas diferentes e confiamos muito em nós.
PS: Começa a chegar à Seleção uma nova geração. Jogadoras que já viveram o contexto seleção noutros escalões. Chegam com outra bagagem?
CC: Uma bagagem completamente diferente. Vêm melhor preparadas, chegam e integram-se muito facilmente. Nós tentamos ajudar no que podemos e passamos valores da nossa geração. O sonho é igual para todas.
PS: O que aprendem com elas?
CC: Elas são um bocadinho mais irreverentes, com regras é mais difícil, mas passamos conselhos dentro do que achamos corretos. É uma geração que é muito mais talentosa, com muita bola nos pés, e que nos vai dar muitas alegrias. Esta mescla conjuga muito bem e permite que tenhamos uma seleção com tanta qualidade.
CC: A Kika é, sem dúvida, das melhores jogadoras com quem joguei de todos os tempos, mesmo contabilizando as com quem joguei na Alemanha. Tem toque de bola diferenciado, percebe o jogo de uma maneira que poucos percebem. Sou suspeita porque gosto muito dela, mas é uma pessoa com muito coração e muito divertida. Nunca sabemos o que vem dali. É maluca, mas maluca numa forma positiva. Tem paixão pelo que faz e vai dar-nos muitas alegrias.
PS: Tens a felicidade de trabalhar com jogadoras de muita qualidade, tanto na Seleção como no clube. Também te ajuda a ser melhor?
CC: O nosso contexto de treino tem muita qualidade. A equipa técnica tenta sempre que sejam treinos duros e em que temos de decidir em espaço curto. Acho que é isso que nos faz jogadoras melhores. Tenho felizmente companheiras de clube e de seleção com muita qualidade. Sem elas também não tinha tanto sucesso individual.
PS: A motivação mantém-se intacta?
CC: É cada vez maior. Sinto-me bem e o meu corpo corresponde. Tenho muitos cuidados com a minha recuperação e isso ajuda a eu ter esta idade e ainda conseguir dar resposta. Sinto-me melhor agora do que há uns anos. Dou atenção a outros departamentos que há alguns anos não dava.
2-1 | ||
Diana Gomes 22' Carole Costa 90' (g.p.) | Ajara Nchout 89' |