*com Rui Miguel Tovar
O Benfica venceu-a duas vezes, o FC Porto também. Quando se olha para a maior prova de clubes da UEFA - e do mundo - o lamento de não se ver aí inscrito o nome de mais algum clube português existe para as cores lusitanas. E, não dá para o dizer de outra coisa, mais ninguém esteve perto do feito. Mais longe chegou o Sporting, como esperado, se bem que só até aos quartos de final.
Depois de passar Dinamo Zagreb e CSKA Sofia, numa altura em que a prova era mesmo só jogada por campeões, calhou ao português o espanhol, que naquela altura se vivia o El Dorado basco, com campeonatos sucessivos de Athletic e Real Sociedad.
O Sporting era, na altura, muito poderoso. Tinha sido campeão, tinha Mészáros na baliza, Rui Jordão e Manuel Fernandes na frente e tinha um pensador no meio, chamado António Oliveira, antigo craque do FC Porto e da seleção, então com 31 anos, mas já com o gostinho do banco... mas a jogar. Era o treinador e também jogador - imprescindível, diga-se. Mesmo com a saída de Eurico Gomes e Inácio para as Antas, não faltava qualidade e potencial à equipa.
Dava para passar? Pois claro que dava, mas não deu. Uma série de atípicas peripécias ditaram que dali os leões não passariam.
«Tínhamos noção do valor da Real Sociedad; bicampeã espanhola em título e vencedora da Supertaça espanhola dessa época com 4-0 ao Real Madrid em San Sebastián», a narrativa de Oliveira, prestável e entusiasta perante o telefonema de Rui Miguel Tovar.
«Apanhámos uma Real Sociedad muito boa, com muitos jogadores na seleção espanhola, incluindo o guarda-redes Arconada e o jovem Bakero. Se me perguntar se tivemos o pássaro na mão, tivemos pois; podíamos ter vencido por mais de 1-0 no José Alvalade e o golo só apareceu mesmo fim, pelo Manuel Fernandes, a passe meu», lembrou.
Não saiu de casa nos fins de semana seguintes: ganhou 1-0 ao Portimonense e 2-0 ao Varzim. Três golos de Rui Jordão, o jogador em melhor forma. Sem sofrer golos, folha limpa da equipa. Sete vitórias seguidas. Ir a San Sebastián calhava num ótimo momento. Só que...
Havia tempo, havia espaço e confiança para que as meias-finais fossem alcançadas, mas um infortúnio abateu-se sobre Rui Jordão e, por consequência, sobre a equipa. «Acometida de trombose», como escreveu na altura o Diário de Lisboa, a mãe do goleador entrou em coma e acabaria por falecer.
Várias ausências que debilitaram a ambição do leão e do próprio treinador, que optaria por começar a ver o jogo desde o banco: «Eu próprio não era para jogar, só ia fazer de treinador, só que as ausências todas fizeram-nos alterar os planos e joguei injetado. Mesmo assim, estava a 60/70 por cento.»
«Quem ficou a orientar a equipa do banco foi o Marinho (herói da final da Taça de Portugal de 1971), que era o meu adjunto, e também o Osvaldo Silva, que tinha ido buscar à formação, mais o excelente preparador físico Radisic». As peças estavam lá, mas eram insuficientes, sobretudo quando as principais não se mostraram ao melhor nível.
«O jogo em si também foi esquisito, o 1-0 é um livre indireto dentro da área a castigar passos do Mészáros; ninguém consegue perceber porque é que o Mészáros fez passos. Atenção, ele era fabuloso, mas ali cometeu um erro e o árbitro apanhou-o em flagrante. Curiosamente, fui substituído no mês seguinte pelo Jozef Venglos (checoslovaco), intermediado por um húngaro».
De Oliveira foi tudo. Mas não resistimos a terminar com uma citação do Diário de Lisboa, no dia seguinte, da autoria de Neves de Sousa, bem ilustrativo da noite leonina no Atocha, então o campo da Real: «Era muito 'galo' junto: depois do percalço acontecido a Jordão ter lancetado toda a comitiva leonina, ainda veio aquele descontrolado passeio de Meszáros pela grande área, de que resultou o livre indireto concluído triunfalmente por Larrañaga. Este erro imperdoável a um mestre de futebol acabaria por desencadear tal confusão nas hostes sportinguistas que, às quinhentas, andava lá pela vanguarda (como se fosse homem-salvação) o defesa Kikas que, mau grado a sua bela estatura física não salta mais que um rato.»
O fim da história do Sporting foi aí. Nunca mais foi além na prova. Falta dizer que a Real foi, mas o fim foi próximo, ao cair com os alemães do Hamburger SV, de Ernst Happel, que se sagrariam campeões europeus frente à Juventus.
3-1 | ||
Mikel Merino 6' Mikel Oyarzabal 11' Ánder Barrenetxea 21' | Rafa Silva 49' |