«Turbo Gomes» e o dragão sem cabeça

Destroçou o flanco direito da defesa do FC Porto. Poderoso, velocíssimo, um quebra-cabeças para os dragões. Merecia um golo e merecia ter visto os colegas (Heriberto, pelo menos) a aproveitarem melhor as arrancadas e assistências. Noite fantástica deste futebolista dos quadros do SC Braga, a condená-lo a uma transferência para um palco de outro mediatismo na próxima época. António Salvador estará a esfregar as mãos de contente, certo de fazer mais um avultado encaixe. 

O golo de livre direto é o momento mais explícito de uma bela exibição do ponta-de-lança do Estoril. Pontapé para o lado de Cláudio Ramos, a beneficiar do movimento errado do guarda-redes que acabara de entrar e estava «a frio». Leva 12 golos na época e sobressai muito também no trabalho sem bola, como se completasse um triângulo de operários com os médios Mateus Fernandes e Vinícius Zanocelo. Teve o golo nos pés logo no início, mas aí a resposta de Diogo Costa foi estratosférica. 

O esquerdino formado no Benfica começa a ser um senhor lateral. Entendimento perfeito com Rodrigo Gomes, procura de apoio frontal para tocar e receber à frente, consciente a fechar o flanco e perigoso a cruzar - de pé esquerdo, claro. Colocou Cassiano em frente ao golo uma vez e teve a capacidade de ir controlando o desconcertante futebol de Francisco Conceição, tarefa nada fácil para nenhum defesa. Nota altíssima. 

Excelente ação de mercado do Estoril Praia em janeiro. O ex-Arouca veio dar solidez ao trio defensivo e uma maturidade que Bernardo Vital e Pedro Álvaro ainda eram incapazes de dar. Bela aparição frente ao FC Porto, a servir de posto de comando para as ações de Vital e Mangala, a ler com o cuidado que Evanilson exige e a sair a jogar também com qualidade. Já é o patrão do setor mais recuado dos canarinhos. 

Mais 90 minutos de rotação altíssima para Rúben Amorim ver. Formou uma dupla interessantíssima com o brasileiro Vinícius Zanocelo, ambos corajosos com bola e solidários sem ela. Cresceu fisicamente, cresceu taticamente e tecnicamente já tinha tudo o que um médio tem de ter. Grande exibição. 

É verdade que o atraso de Otávio Ataíde é horrível, mas Diogo Costa não podia ter arriscado uma receção daquelas quando estava a ser pressionado a dois metros. Ali pedia-se pragmatismo e a bola para bem longe. O guarda-redes colocou mal o pé e depois fez falta clara sobre o adversário. Um cartão vermelho que deixou o FC Porto em desconforto profundo - e agudizado com o golo de Cassiano segundos depois. A Lei de Murphy aplicada em tempo recorde. Com um erro tão grave, falar da defesa extraordinária perante Cassiano, logo a abrir, perde grande parte do valor. 

O futebol de Francisco é entusiasmante e já recebeu os elogios mais do que justos nas últimas semanas - e premiado com a estreia na Seleção Nacional. Com isso, a exigência e a responsabilidade sobem e o comportamento de Chico no Estoril foi inaceitável, por muita razão que possa ter no lance de possível penálti com Mangala. Ao ver o primeiro amarelo, insultou o árbitro António Nobre com um dislate raras vezes visto e só a falta de personalidade do juiz o poupou do vermelho nessa circunstância. Já de cabeça perdida, o extremo acabaria mesmo por ser expulso mais tarde, com reações mais do que condenáveis a seguir. Repetimos: ter razão num lance polémico não significa livre-trânsito para um comportamento inconcebível. Muito mau.  

A velocidade do central resolve muitos problemas, mas contra as más opções técnicas e um tempo de entrada rudimentar pouco pode fazer. Otávio cometeu no Estoril mais erros do que nos sete jogos anteriores de dragão ao peito. O atraso deficiente para Diogo Costa, numa bola em balão e descontrolada, simboliza uma noite de pouco juízo e demasiado faltosa. Aparição terrível.