Capitão Fausto jogou no FC Porto e fala da receção aos dragões: «Jogo diferente»

*Com Cristiano Tavares Faria

A reboque das memórias arrancadas a dois ícones do FC Porto dos anos 70, que inscreveram o nome na lista de marcadores do único jogo dos dragões contra o Anadia, o zerozero faz agora uma prolepse no tempo, de 1972 a 2022. A viagem foi num ápice e ao encontro de Fausto Lourenço, um dos capitães do Anadia e figura dos Trevos da Bairrada - que, ainda por cima, vestiu a camisola dos dragões de 2003 a 2005, nos escalões de juvenis e juniores. 

«Mentia se dissesse que não é um jogo diferente», introduziu Fausto. O nome e a qualidade vêm de outro patamar e a mais recente jornada europeia dos dragões comprova na íntegra as suas palavras: «Uma equipa com quem não estamos habituados a competir. A nível qualitativo toda a gente sabe quem é o FC Porto, uma das melhores equipas da Europa», assegura Fausto. O nome impõe respeito, mas o experiente extremo garante que a preparação será idêntica à de qualquer outro desafio.

«A semana de trabalho é como as outras, o mister vai preparar dentro do que é a nossa semana de trabalho. Claro, sabendo que o adversário é o FC Porto», um dos Golias que entram em ação, nesta 3ª eliminatória da Taça de Portugal, que nem por isso tem projetado os nervos do plantel para patamares desproporcionais: «Até posso considerar um pouco de nervosismo, por ser um jogo diferente, mas nada de muito exagerado.»

A parca história entre os dois emblemas não abona a favor da formação bairradina, mas qualquer adepto do Anadia, por muito cético que seja, vai querer amplificar a superstição escudada no Trevo de quatro folhas - figura central do símbolo do clube - e esperar que este ajude a ludibriar o favoritismo do tal Golias, Dragão de Sérgio Conceição. 

Fausto Lourenço será uma das armas do Anadia para derrubar os dragões �FPF

A cidade está por isso motivada pela presença de um grande, evento raro, que à mistura com a referida crença, deverá atrair milhares de Trevos da Bairrada até ao Municipal Eng. Sílvio Henriques Cerveira, estádio que já costuma atrair em bom número, os adeptos do Anadia: «As gentes de Anadia têm vindo, aos poucos, cada vez mais ao estádio. Com este clube também aproxima, é importante este tipo de jogos.»

Uma subida das assistências, também conectada com o profissionalismo crescente que o formato da Liga 3 veio fomentar. Condições, competitividade e interesse pela competição, que fomenta o crescimento dos emblemas da divisão e que para Fausto Lourenço tem ajudado a encurtar as assimetrias de qualidade para as divisões profissionais.

«A Liga 3 está muito bem organizada. Quem teve a ideia de criar esta liga, criou-a de uma forma muito organizada e profissional. A exigência engloba várias áreas, como o relvado, a comunicação, enfim... É assim que tem de ser. Deve haver exigência também para os nossos clubes criarem condições de trabalho para os jogadores serem exigidos, mediante o profissionalismo da Liga. A Liga 3 está muito equiparada à Liga 2. Existe muita qualidade. Aliás a nossa série é a prova disso mesmo», congratula, ao sublinhar o amplificador de argumentos, que estas condições trazem para os duelos da Prova Rainha, contra emblemas das divisões superiores .

A fechar a conversa com o zerozero, Fausto Lourenço foi convidado a adivinhar o histórico de duelos com os azuis e brancos e pode dizer-se que não se saiu mal no prognóstico: «Acho que o FC Porto defrontou uma vez o Anadia!» Aposta certeira, seguida de um tiro ligeiramente ao lado, justificado pela traiçoeira linha cronológica.

«Já falamos disso... foi há muito tempo, não foi em 79?», questionou Fausto, ao que retificamos os sete anos de adianto da sua previsão. Cinco de março de 1972 deu início ao primeiro capítulo deste histórico de confrontos entre os emblemas, o segundo será escrito mais de meio século depois. É já no domingo, pelas 20h 45. A caneta azul-bairradina ou a esferográfica azul e branca, só uma delas vai prevalecer às marcas do tempo.