O jogo grande desta noite europeia, dos mais aguardados da semana e dos mais equilibrados da eliminatória. O Atlético de Madrid-Inter prometeu e não desiludiu. Em campo, 90 minutos não foram suficientes e só as grandes penalidades conseguiram tirar as teimas, num duelo que ficou marcado pela alma colchonera (2-2, 3-2 nos penáltis).
Consciente que tinha de marcar para continuar na prova, o Atleti, apesar de nem sempre ter bola, rondou com maior frequência as imediações da área contrária. Com vários cruzamentos e cabeceamentos, os da casa foram criando perigo e incomodaram Sömmer. Morata, Griezmann — com pouco ritmo até, face à recente lesão, mas com a técnica do costume —, Samuel Lino e Savic — destinatário de muitos cruzamentos — foram os maiores destaques.
Contudo, do outro lado, o Inter nunca tremeu verdadeiramente (até então, claro; tremeu depois do 0-1, na reta final dos 90 minutos e nas grandes penalidades). Aliás, é difícil incomodar o líder do campeonato italiano (ainda assim, o Atleti conseguiu). Cínico e camaleónico, o Inter adaptou-se e sentiu-se confortável, independentemente das necessidades do jogo. Além disso, não menosprezou o ataque: Dumfries, numa dupla ocasião, ameaçou e Carlos Alberto marcou. Numa jogada fluida, Barella (médio centro) deslocou-se até ao flanco esquerdo e Carlos Augusto (lateral canhoto) apareceu na área para finalizar.
Após o golo, os italianos desligaram e aproveitou o Atlético. Na jogada seguinte, o conjunto espanhol chegou à área com facilidade e, ajudado pela rosca de Pavard, Griezmann apareceu sozinho, pronto a desviar de Sömmer para o empate. Minutos depois, ainda antes da pausa, o avançado francês bailou na área e por pouco não bisou. O descanso, necessário e merecido face ao ritmo registado até então, fez mal a ambas equipas, que entraram menos interventivas. Deu-se meia hora de pouco futebol, injustificado pragmatismo e demasiada cabeça, mas a emoção voltou nos últimos quinze minutos.
As entradas de Depay e Riquelme deram outra vida ao Atleti. Foram decisivas, ambos tiveram ao seu dispor várias oportunidades para desfazer o nó do empate. Os visitantes, contudo, não serviram apenas de carne para canhão e a braçadeira de capitão foi o farol nerazzurri: Lautaro foi fundamental e orquestrou — brilhantemente, diga-se — os ataques rápidos que colocaram os italianos vivos na luta pela vitória.
O golo farejava-se, estava perto e chegou. Depay, essencial, foi merecedor de uma das melhores assistências da prova (bola teleguiada, com olhos, de Koke) e, com toda a classe, virou-se para a baliza e não perdoou: 2-1, euforia nas bancadas, desilusão (misturada com desespero e exaustão) italiana: mais meia hora de futebol.
No tempo extra, após um momento inicial partido, de variadas ocasiões para os dois lados, o Inter repôs algum equilíbrio e tranquilidade na partida. Mostrou menos fragilidades defensivas, voltou a jogar no meio-campo adversário e, com isto, teve uma meia hora menos sofrível.
Poucos acontecimentos e mais equilíbrio no prolongamento, por norma, são a receita que, levada meia hora ao forno, resulta num desempate por grandes penalidades. Assim foi. Dos onze metros, voltou a sentir-se a aura madrilena. Aquela que pairou no ar no último quarto de hora regulamentar. Os homens de Simeone pareceram querer mais, tremeram menos, mostraram-se talhados para estes momentos e, por isso, levaram a melhor. O Atlético de Madrid está nos quartos de final da Liga dos Campeões.
Foi uma relação mútua e saudável. Quando os adeptos precisaram de motivos para apoiar, a equipa deu-os. Quando a equipa precisava de força para lutar, os adeptos armaram-se, qual escudo protetor e faca afiada. No final, o resultado só podia ser um: noite histórica e festa garantida.
Lautaro bem tentou. Fez o possível, recuou, foi à frente, driblou e serviu. Thuram esteve apagado, longe do nível mostrado mesmo nesta época. Falhou duas ou três oportunidades de ouro, daquelas que não se podem falhar nestes palcos. Além disso, não mostrou a força e o compromisso do costume. Antes de dar lugar a Alexis, apertou Savic e podia ter sido expulso.
Exibição bastante positiva do árbitro polaco. Szymon Marciniak deixou o jogo correr, admoestou quando se justificou e não foi protagonista, o que é sempre positivo. Só existiu um aperto forte, antidesportivo quiçá, de Thuram a Savic, que o árbitro não viu, mas o VAR também não alertou: consideraram não ser caso para tal provavelmente, por isso, pouco ou nada a apontar.