O Benfica até surgiu mais personalizado no dérbi do que nos últimos jogos, mas o Sporting mostrou estar num nível maturacional e anímico acima e até à expulsão precoce (51') de Gonçalo Inácio sobreviveu em quase todo o jogo. Contudo, no final, a alma de campeão surgiu e dois golos nos descontos, de João Neves e Tengstedt, ditaram uma reviravolta épica, para o Benfica vencer o rival por 2-1, num jogo impróprio para cardíacos.
Depois da derrota com a Real Sociedad a meio da semana (3-1), havia curiosidade para perceber como o Benfica se ia apresentar no dérbi e a aposta de Schmidt parecia passar pelo 3x4x2x1, com a inclusão de Musa, no lugar de Arthur Cabral, como única novidade, mas este surpreendeu. Já no Sporting, Rúben Amorim fazia a rotação esperada e voltava a chamar à titularidade Diomande, Matheus Reis Gyokeres e Morita, recuperado de lesão.
Assim que saíram os onzes iniciais, parecia certa a aposta do Benfica no recente 3x4x2x1, mas cedo se percebeu que Schmidt vinha para surpreender e voltou ao habitual 4x2x3x1, com Morato a lateral esquerdo, algo pouco comum na sua carreira. O regresso a este desenho permitiu ao Benfica pressionar mais alto e isso causou algumas dificuldades ao Sporting a espaços, que até resultaram em perigo - Rafa atirou ao lado, aos 9', numa grande jogada de insistência de Musa, e à barra, aos 12', num remate fora da área -, mas os leões começaram a perceber onde podiam sair a jogar.
O 🔴Benfica sofreu o primeiro golo numa 1.ª parte num jogo da 🇵🇹Liga Betclic 2023/24, também é a primeira desvantagem ao intervalo das águias no campeonato.
Sempre que o 🔴Benfica esteve em desvantagem na temporada, os encarnados nunca fizeram uma reviravolta. pic.twitter.com/HBNZUsUhDB
— Playmaker (@playmaker_PT) November 12, 2023
Di María e João Mário estão longe de fazer a pressão que faziam os extremos na época passada (sendo que João Mário era um deles) e o Sporting começou a começar a sair por aí com maior frequência. João Neves ia fazendo um trabalho exímio a tapar Hjulmand e Morita, à vez, mas a descida de Pote ajudou nesse processo, embora tenha tirado poder de fogo na ala esquerda, onde Matheus Reis tinha que ser mais presente. Gyokeres foi tentando compensar essa ausência com as habituais diagonais eletrizantes, mas Aursnes e António Silva iam estando bem.
O Benfica, embora menos confortável em ataque organizado, ia sendo a equipa mais perigosa, mas o Sporting sabia como ferir a águia e aproveitava bem o espaço para a transição, sempre que falhava a pressão encarnada. Trubin encheu os postes duas vezes, primeiro aos 30', num cabeceamento de Diomande, e depois aos 33', numa oportunidade enorme para Pote, desmarcado na cara do golo com um passe picado de Edwards.
Por esta altura, o Sporting já insistia mais na sua ala direita, tentando explorar uma menor rotação de Morato e o brasileiro até ia estando bem na antecipação e marcação a Edwards, mas em cima do intervalo, aos 45', o inglês, na transição, fez o que quis do defesa, fez-lhe um túnel na direita e viu a desmarcação de Gyokeres do meio para o seu lado. O sueco encheu o pé e fez um golaço, para gelar o Inferno da Luz e fazer vibrar os milhares de leões presentes.
O jogo estava bom, num ritmo frenético e bem disputado e assim continuou no arranque da 2ª parte, mas isso acabou por ser prejudicial para o Sporting, uma vez que Gonçalo Inácio viu o segundo amarelo, e consequente vermelho, por uma entrada fora de tempo sobre Di María, logo aos 51', deixando os leões reduzidos para o resto do jogo. Amorim foi obrigado a reajustar, retirou Edwards para colocar St. Juste e perdeu poder de jogo, mudando as dinâmicas do jogo por completo.
🟥Expulsões + rápidas do Sporting em casa do Benfica:
25' João Jurado [1934]
37' Oceano [1997]
42' Rochemback [2004]
50' Gonçalo Inácio [2023] pic.twitter.com/KfViTyqd9h
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Perante isto, e a perder, o Benfica assumiu claramente as rédeas e responsabilidades do jogo, encostando o Sporting, agora em 5x3x1, às cordas. Os leões estavam de tal modo pressionados, que só conseguiam jogar para a velocidade de Gyokeres, mas a distância entre linhas era tão grande que nem o sueco conseguia fazer algo. Do outro lado, Schmidt apostou em Cabral e Tengstedt (aos 64')para maior poderio ofensivo, libertando mais Di María (bastante desaparecido) e as oportunidades, embora bastante à base do cruzamento, começaram a surgir.
Já em 4x4x2, com João Mário no miolo, e com o Sporting em bloco baixo, apostando na coesão defensiva e transição rápida de Gyokeres (e Nuno Santos e Trincão, que entraram aos 73'), o Benfica sabia que era o tudo ou nada e cada minuto diminuía a probabilidade de retirar algo. As dificuldades a construir no último terço iam continuando, com o bloco leonino baixo, e apenas os rasgos individuais, muito espaçados, de Di María - bom remate aos 77', para defesa de Adán - pareciam realmente desequilibrar uma defesa tão bem organizada.
Os últimos 15 minutos (mais compensação) foram praticamente todos disputados no primeiro terço defensivo forasteiro, mas a verdade é que o Benfica, embora com muita bola, continuava sem um pingo de criatividade ofensiva. Apenas restava ao Benfica a bola parada e até Trubin chegou a subir para a área adversária nos minutos finais, até que, aos 90+4, voltou a ser João Neves a mostrar-se decisivo num dérbi, fazendo o 1-1 final na sequência de um canto. Pouco depois, a Luz quase ia abaixo com um golo de Tengstedt, que ditou a reviravolta de loucos nos descontos. Ninguém aguentava a felicidade e o Sporting caía com estrondo ante o rival.
O Sporting percebeu cedo que podia passar a primeira linha de pressão do Benfica a partir dos corredores, com Pote a baixar para ganhar vantagem numérica, e isso deu espaço para a transição rápida, como bem se viu no lance do golo de Gyokeres. Contudo, a expulsão mudou tudo e o Benfica teve coração para uma reviravolta épica.
O Sporting veio com a lição estudada e depois de um par de sustos iniciais, viu onde podia ferir o Benfica e conseguiu-o. A expulsão mudou o jogo, mas Amorim soube defender e reequilibrar a equipa, que teve menos bola, mas ainda assim assustou.
No geral, o Benfica melhorou no regresso ao habitual 4x2x3x1, mesmo tendo Morato adaptado (nem lhe correu mal, apesar do lance do 0-1), mas a pressionar tão alto, Di María e João Mário têm que fazer algo mais parecido ao que se fazia na época passada. Aursnes tão descido não ajuda.