Emoção e jogo de bancos não faltou num dérbi intenso e que acabou, como se esperava, decisivo para as contas do topo do campeonato. O 2-2 final mostrou-se justo pelo que cada equipa fez em cada parte do jogo e, no final, o título ficou em aberto para a última jornada e o Sporting disse o adeus à possibilidade dos milhões da Liga dos Campeões.
Privado de Antonio Adán, a grande novidade no onze inicial leonino era a titularidade de Franco Israel, habitual guarda-redes suplente, mas Rúben Amorim não se ficou por aqui e chamou ainda Gonçalo Inácio, Ricardo Esgaio, Nuno Santos e Morita, para os lugares de Matheus Reis, Bellerín, Arthur Gomes e Paulinho. Já do lado encarnado, destacava-se o regresso de Otamendi e a opção do meio campo composto por João Neves e Chiquinho. O título, e a Liga dos Campeões, jogava-se em Alvalade.
Ainda o apito inicial não tinha soado e a pressão era palpável no ar - até porque, infelizmente, houve incidentes relativos à venda de bilhetes -, mas as duas equipas entraram com tudo assim que João Pinheiro apitou a primeira vez. Ambas pressionavam alto, não dando tempo para grande estudo, e entreajudavam-se na recuperação e reação à perda e isso resultou numa série de erros, especialmente no capítulo do passe, logo a abrir.
🚨Há 22 anos que o 🟢Sporting, em 🏟️Alvalade, não chegava ao intervalo a vencer o 🔴Benfica por uma diferença de dois golos.
Os leões nunca perderam em casa com vantagem de dois golos frente ao eterno rival (13V, 2E) pic.twitter.com/dDKuNkYU1v
— Playmaker (@playmaker_PT) May 21, 2023
Contudo, as duas equipas não aguentaram este nível, naturalmente, por muito tempo e a pressão foi baixando, especialmente do lado encarnado, que ia dando mais iniciativa aos leões - embora com mérito na recuperação de bola do Sporting - e estes assumiram com alguma naturalidade as rédeas do jogo. Com o Benfica em claro bloco baixo, defendendo com todos atrás da linha da bola, o Sporting tinha praticamente a bola sempre na sua posse e tinha «apenas» que controlar as transições adversárias, algo que fez de forma quase exímia.
Ofensivamente, o ataque do Sporting até estava algo estático, tendo em conta que tinha o seu trio mais móvel, e Trincão estava a passar algo ao lado, cabendo aos alas Esgaio e Nuno Santos dinamizar a equipa para tentar o tal bloco baixo. Com essa chegada dos alas mais frequente à área, as oportunidades leoninas foram surgindo e Pote até teve uma grande perdida aos 21', curiosamente três minutos antes de Rafa também ter falhado à boca da baliza, de cabeça, na única real oportunidade do Benfica.
Depois de uma 1ª parte que deixou e muito a desejar, talvez a pior do Benfica esta época, Roger Schmidt claramente passou uma mensagem diferente aos seus jogadores. Tirou João Mário ao intervalo, depois de uma 1ª parte paupérrima, onde foi massacrado por assobios e pela marcação de Morita, colocou Bah e a equipa mostrou-se finalmente mais parecida a si mesma, pressionando alto e trocando a bola com uma maior intensidade, embora elementos como Neres estivessem num dia não.
Percebendo que o jogo estava claramente diferente, Rúben Amorim procurou proteger a sua equipa, baixou o bloco de pressão e chamou Paulinho a jogo, numa altura em que a sua equipa estava com dificuldades em segurar (e ter) a bola na frente. Ora, esta opção de segurar a vantagem da parte do técnico leonino fez o Benfica acreditar que podia crescer e reentrar na partida e a verdade é que isso acabou mesmo por acontecer. A equipa encarnada melhorou claramente com Aursnes a apoiar Bah na direita e ainda mais aquando das entradas de Musa e Guedes para a frente (Ramos e Rafa desaparecidos).
Paulinho teve a oportunidade perfeita de fechar o jogo aos 86', mas Vlachodimos agigantou-se e o jogo ficou relançado até ao fim, até porque foram dados oito minutos de compensação. Estes minutos foram de sufoco praticamente total para os leões, perante o desespero encarnado, e acabou mesmo por sofrer, nos descontos, o golo que ditou dois destinos distintos. Num lance cheio de confusão, onde o Sporting não afastou o perigo, foi o novo «menino de ouro» da Luz, João Neves, quem alimentou o sonho do Benfica ser campeão, colocou a bola pelo buraco da agulha e fez o 2-2 final aos 90+4.
Com este resultado, as contas do título apenas ficarão decididas na última jornada, com o Benfica a receber o Santa Clara com mais dois pontos que o rival FC Porto, que defronta o Vitória SC. O Sporting, por sua vez, disse o adeus definitivo à possibilidade de marcar presença na próxima edição da Liga dos Campeões, depois de ter estado a vencer por 2-0.
A chave do jogo esteve claramente na forma como o Benfica se mostrou a jogo depois daquela entrada intensa de parte a parte. Um pouco à imagem do Clássico com o FC Porto na Luz, as águias entraram bem, mas rapidamente se descaracterizaram, baixaram linhas e apostaram na transição. Mérito para o Sporting que soube assumir bem o jogo.
Se Roger Schmidt teve demérito na forma como a equipa entrou, Rúben Amorim teve mérito em balancear a equipa para aproveitar isso mesmo. Na 2ª parte, os papéis inverteram-se. Rúben Amorim tentou defender-se, Schmidt aproveitou. Um bom jogo para entender a importância do papel e mentalidade de um treinador ao longo de todo o jogo.
Roger Schmidt planeou mal a entrada para este jogo e a equipa pagou carro, dando de avanço uma parte ao Sporting, em vez de se baterem de frente para frente. Nem parecia a mesma equipa de tantos outros jogos e o Sporting teve todo o mérito em aproveitar para mandar.