Um líder de volta às vitórias e a manter a margem de quatro pontos para o FC Porto e de seis para o SC Braga, com uma vitória por 1-0 recheada de volume ofensivo, mas que não convenceu na totalidade, tendo em conta a intranquilidade da equipa de Roger Schmidt em alguns momentos e as fragilidades do Estoril.
Com David Neres e João Neves, o tal da camisola dentro dos calções, no onze, o Benfica trouxe novas ideias para o ataque e podia ter construído um resultado volumoso, mas numa tarde de desperdício atacante foi preciso o capitão Otamendi para resolver a partida a favor dos encarnados.
Quando, depois de uma longa fase positiva, a equipa entra no pior momento da época, por vezes é preciso dar um passo atrás para reencontrar o caminho da felicidade.
Roger Schmidt fez isso. Sem Enzo Fernández, que tem os seus problemas no Chelsea, mas com João Neves. Não estamos, com isto, a comparar os jogadores, mas sim o que mudou no jogo da equipa encarnada.
O passe para a frente, uma arte quase sempre desvalorizada no futebol, foi um dos pontos fortes da melhor versão do Benfica de Schmidt e foi isso que o treinador procurou com a mudança no meio-campo. A capacidade individual de Neres, diferenciadora na primeira fase da temporada, voltou a ser determinante.
No Estoril, Ricardo Soares ainda tenta dar os seus pequenos passos em frente. Com o técnico, os canarinhos conquistaram os únicos três pontos da segunda volta, mas também entraram na luta pela manutenção, que, no final da primeira volta, estava longe do pensamento da equipa então treinada por Nélson Veríssimo.
Com uma linha de cinco a defender, o Estoril não conseguiu mostrar o seu futebol no ataque e passou por dificuldades evidentes frente a um Benfica com mais ideias ofensivas do que nos últimos jogos.
É certo que os minutos foram passando e o resultado manteve-se 0-0, mas as oportunidades desperdiçadas pelo Benfica - Rafa e Gonçalo Ramos estão numa má fase - deixaram os problemas do Estoril expostos e mostraram à equipa de Schmidt que o caminho era por ali, mesmo que o penálti desperdiçado por João Mário, com recurso ao VAR que Roger Schmidt tem vindo a criticar, tivesse sido defendido por Dani Figueira.
Depois desse lance, a partida não mudou assim tanto, mas percebe-se que a equipa de Roger Schmidt passa por alguns momentos de desconfiança, que acabam por ser naturais depois de várias oportunidades desperdiçadas, incluíndo uma grande penalidade que andou a rondar a linha de golo.
Nessa fase, o Estoril tentou finalmente uma aproximação à baliza de Vlachodimos. Cassiano, cujos movimentos foram tantas vezes contestados pelo seu treinador, cabeceou muito perto do poste da baliza benfiquista, como que a dar um alerta à equipa encarnada, até que o golo apareceu finalmente.
Um finalmente que se explica por tudo o que escrevemos até aqui e pela superioridade evidente da equipa de Roger Schmidt, que, com a genialidade de Neres e as fragilidades defensivas do Estoril, completamente ligadas ao longo da partida, chegou ao golo num cabeceamento de Otamendi.
Podia pensar-se que o tão procurado e justificado golo funcionasse como um desbloqueador da mente para a equipa encarnada, mas os traumas do passado recente (e talvez a pressão de quem vem atrás) causaram dúvidas no Benfica.
Na segunda parte, o Estoril já se esticou até zonas de ataque, mesmo sem criar perigo, e o jogo acabou por partir mais do que seria de esperar.
Com as entradas de Musa e Florentino, Schmidt tentou sentenciar a partida e moralizar a equipa para a reta final da temporada, mas sentiu-se sempre alguma intranquilidade, mesmo depois do golo anulado ao avançado croata, por fora de jogo de Aursnes.
No entanto, o Estoril foi sempre incapaz de aproveitar essa intranquilidade e o Benfica colocou finalmente um ponto final numa sequência negativa de resultados.
A margem continua de quatro pontos, mas a luta vai ser até ao fim.
Se é verdade que Rafa tomou más decisões, João Mário falhou um penálti e Gonçalo Ramos andou longe da baliza, também é verdade que há muito não se via tanta frescura ofensiva na equipa de Roger Schmidt. A titularidade de David Neres foi fundamental para que os encarnados fossem mais criativos no último terço, mas a influência de João Neves no passe também merece o seu destaque. O Benfica precisava de novas ideias e elas apareceram no jogo desta tarde.
Os problemas defensivos do Estoril começaram no início da época e Ricardo Soares ainda não os conseguiu resolver. Frente ao Benfica, os canarinhos atuaram várias vezes com uma linha de cinco, com Tiago Araújo, primeiro, e Carlos Eduardo, depois, a fecharem no lado esquerdo, mas a linha defensiva nunca conseguiu coordenação e com isso o Benfica chegou com facilidade a zona de perigo. A terceira pior defesa da Liga também está explicada neste jogo.