Num jogo onde o líder não teve o proveito e a eficácia que nos habituou ao longo desta temporada, valeu a sua adaptabilidade, a inspiração de Grimaldo na esquerda e um Gonçalo Ramos à matador para conseguir uma vitória por 2-0 perante um Famalicão que levou à Luz algumas dificuldades táticas para as águias.
Líder isolado do campeonato, o Benfica procurava assim continuar e inaugurava a jornada 23 ao receber o Famalicão. Do lado encarnado, Roger Schmidt apresentava uma mudança no onze inicial, com a entrada de Rafa para o lugar do lesionado Gonçalo Guedes, enquanto do lado famalicense o treinador João Pedro Sousa fez duas mudanças, com as entradas de Pablo Felipe e Sanca para os lugares de Dobre e Denilson Jr.
Apesar de Roger Schmidt não estar no banco de suplentes - expulso frente ao Vizela, na última jornada -, o Benfica tentou entrar em jogo à sua imagem habitual e deparou-se com um Famalicão em bloco baixo quando em missão defensiva, mas que pressionava alto quando os encarnados saíam a jogar a partir de trás. Os famalicenses, ofensivamente, iam tentando também construir, mas a pressão das águias alta ia resultando e a reação à perda estava bastante boa.
É a 2.ª vez desde 2018 que 🇵🇹@Goncalo88Ramos volta a fazer 20 golos numa temporada:
2022/23 @SLBenfica (A)
2018/19 @SLBenfica (Juniores A) pic.twitter.com/uzlT2QoaHx
— Playmaker (@playmaker_PT) March 3, 2023
Ora, defensivamente, apesar desse bloco baixo, o Famalicão estava bem organizado e não ia deixando o Benfica penetrar no último terço com perigoso, até porque estava a faltar aquele elo de ligação do lado encarnado, para unir o miolo ao ataque em zona adiantada. As deambulações de posição de Rafa iam causando algum perigo, mas os famalicenses estavam a saber utilizar as faltas no momento exato para não deixar os extremos adversários arrancar.
Com o ataque algo bloqueado, o Benfica mudou o paradigma e começou a chamar mais a jogo os seus laterais, primeiro a partir da construção e, depois, no jogo mais direto e a verdade é que, curiosamente, esta segunda opção foi a que mais frutos colheu, especialmente do lado esquerdo, onde Grimaldo ia sendo o principal dinamizador ofensivo da equipa. Não foi, por isso, de estranhar que o golo chegasse dessa forma: aos 36', Otamendi desmarcou o espanhol com um grande passe e este, dentro da área, cruzou rasteiro de primeira. A defesa ainda cortou, mas Grimaldo voltou a cruzar e Gonçalo Ramos surgiu a desviar para o 1-0.
Em desvantagem, o Famalicão pareceu subir ligeiramente mais as linhas no arranque da 2ª parte e durante alguns minutos o Benfica conseguiu ter mais espaço para sair na transição, algo que potenciou a maior presença dos extremos, mas foi através da pressão que os comandados de Roger Schmidt causaram estragos. O Famalicão insistiu a sair a partir da defesa, mas a pressão alta do Benfica foi aplicada de forma exímia e os forasteiros foram sufocados e obrigados a vários erros durante algum erro. Não fosse a falta de pontaria encarnada e a vantagem teria sido rapidamente dilatada.
Percebendo que este plano não estava a resultar, João Pedro Sousa pediu a Luiz Júnior que passasse a bater a bola e isso corrigiu esse deficiência da equipa durante algum tempo, de tal modo que equilibrou as contas e baixou o ritmo consideravelmente, com os conjuntos algo encaixados, especialmente no meio campo.
As oportunidades de golo estavam caras na Luz e durante algum tempo apenas os cânticos dos mais de 56 mil adeptos aqueceram o frio de Lisboa, mas, aos 68', Gonçalo Ramos disparou de fora da área, obrigou Luiz Júnior a grande defesa e a Luz acordou. No minuto seguinte, Rafa atirou de cabeça à barra, numa jogada estudada num canto. Faltava eficácia para o Benfica fechar um jogo que estava a ser tudo menos fácil.
Depois destes dois grandes avisos, esperava-se que o jogo espevitasse, mas a verdade é que apenas uma mão na bola na área famalicense foi destaque. Ivo Rodrigues tocou com a mão, mas Artur Soares Dias, após consultar o VAR, considerou que não havia nada a assinalar. Contudo, pareceu incorreto, uma vez que o português, apesar de estar algo fora da noção da jogada, tem o braço a dar volumetria ao corpo. Tudo parecia fixado, mas já nos descontos Grimaldo atirou para defesa incompleta de Luiz Junior e Gonçalo Ramos, novamente à matador, apenas teve que encostar para fixar o 2-0 final. Agora, o Benfica volta a virar atenções para a Liga dos Campeões.
O momento chave do jogo esteve na perceção do Benfica das suas dificuldades em construir no último terço e na possibilidade de explorar a pressão alta do Famalicão. Quando ia aconteceu, surgiu a aposta no jogo mais direto, os laterais apareceram e isso fez toda a diferença, como se viu no lance do 1-0.
O árbitro Artur Soares Dias esteve algo apressado na tomada de certas decisões ao nível de faltas, mas no geral tentou deixar o jogo corretor e foi ouvindo o VAR quando necessário. A grande questão teve que ver com o alegado penálti a favor do Benfica: Ivo Rodrigues toca nitidamente com a mão na bola, quando tem o braço aberto onde não deve. É verdade que o português não tem noção de onde está a bola por causa da disputa com Otamendi, mas é imprudente como tem a mão. Parece que fica um penálti por assinalar.
Quando há soluções, tudo fica mais fácil. O Benfica tem-se mostrado uma equipa que se adapta bem aos adversários e isso é uma vantagem. Sem conseguir jogar com o dinamismo habitual, os laterais do Benfica mudaram o jogo e a forma como a equipa abordou o jogo, acabando por desbloquear a partida.
Faltou algo habitual, especialmente na 1ª parte, no que se costuma ver do Benfica, especialmente nas movimentações impostas pelos jogadores mais adiantados, que pareceram estar demasiados fixos às suas posições. Foi preciso os laterais subirem e apostar no jogo direto para desbloquear as linhas coesas famalicenses.