Deveres são para cumprir, e a vitória será certamente classificada como obrigação numa jornada em que o maior rival já tinha feito a sua parte, vencendo e aproximando-se do primeiro posto.
Quem cumpre os deveres, pode também usufruir dos seus direitos. Neste caso, o direito de encontrar divertimento e abandonar o relvado de sorriso rasgado, depois de um jogo que foi tudo menos fácil. O Boavista fez o possível e obrigou Schmidt a pensar bastante, mas, na casa da águia, raro é o caminho que não leva à vitória. 3-1, esta segunda-feira.
O espetáculo começou alguns minutos antes do apito inicial, com uma bela pintura audiovisual. Os LEDs recentemente instalados entre-anéis permitem a construção de novas rotinas pré-jogo, muito apropriadas num estádio que é, por batismo, «da Luz». Há, no entanto, tradições mais importantes para os adeptos. Uma delas tem selo de Schmidt e prende-se na forma como a equipa entra confiante, como se tivesse o golo e a vitória já garantida.
Essa confiança tinha bons motivos e foi justificada logo no primeiro minuto de jogo, quando Rafa quase abriu o marcador depois de se isolar no interior da área, mas esfumou-se, lentamente, à medida que o primeiro tempo avançou. Petit tinha feito o trabalho de casa.
Schmidt escutou Petit e Bracali antes de reagir. Pode não falar português, mas o técnico das águias entende futebol e por isso optou por dar dinamismo à equipa com a entrada de David Neres para o lugar de Florentino, recuando Aursnes. E funcionou! O tabuleiro virou a favor da águia e a primeira oportunidade teve selo do extremo brasileiro, mas depois foi o compatriota Gilberto - titular na ausência de Bah - que abriu o marcador em jeito de recarga, após (mais uma) boa intervenção do guarda-redes visitante.
Loucura na Luz, com o nome do lateral direito a ser gritado a plenos pulmões. Festa frenética, mas não particularmente duradoura, já que houve resposta.
Apenas três minutos depois do golo, o artilheiro-mor do Boavista restabeleceu a igualdade. Vlachodimos levou algum tempo a corrigir os apoios depois de um cruzamento e o remate de Yusupha, embora pouco colocado, foi suficiente e valeu ao avançado um nono golo na Liga Bwin. Cinco nos últimos seis jogos, para o gambiano!
O avançado deixou Sasso (final de jogo tenebroso) no chão e finalizou o 2-1, aos 82 minutos. Tranquilidade já instalada na Luz, quando o 88 cedeu o posto a Petar Musa, que ainda foi a tempo de fazer o gosto ao pé frente a um clube que representou no passado. Três pontos no bolso, frente a um adversário competente. Quem pediria mais que isso?
Começou a temporada por cima na disputa do lugar com um reforço, mas o andar do calendário tirou-lhe espaço e colocou-o cada vez mais como alternativa a Bah. Hoje, na ausência do dinamarquês (por suspensão), Gilberto mostrou aos adeptos que ainda é um elemento importante no plantel. Foi o homem do jogo.
Difícil apontar um dedo acusativo ao Boavista e a Petit, depois de um bom jogo da equipa visitante. O plano estava bem delineado e durante muito tempo funcionou, mas isso só comprova o quão difícil é travar este Benfica, a quem não faltam ideias nem armas.