Nada parece travar esta quase imaculada temporada do Casa Pia. Depois de dois resultados positivos no regresso da Liga Bwin, também a Taça de Portugal voltou com desfecho positivo para os gansos, que venceram por 0-1 numa hostil visita ao Estádio do Bonfim.
Os adeptos da casa queriam a passagem e o Vitória FC lutou até ao final por ela, mas a equipa de Filipe Martins soube sofrer mesmo nos momentos mais quentes e acabou garantir a passagem aos quartos de final, pela primeira vez na sua centenária história. Nessa ronda, receberá o Nacional.
A casa do Vitória FC, junto ao rio Sado, é sempre um bom lugar para atracar em dias de festa da Taça. Os setubalenses, hoje com menos oportunidades para pisar os maiores palcos do futebol português, chegaram felizes e não arredaram desse entusiasmo mesmo quando, muito cedo, viram o seu otimismo testado pela eficácia visitante.
Foi logo ao terceiro minuto de jogo que o Casa Pia abriu o marcador. Yan Eteki, camaronês com currículo (e perfume) de La Liga, aproveitou o desvio de um defesa para abrir o marcador. Filipe Martins, confiante na sua defesa que poucos dias antes segurara o nulo com 10 jogadores frente FC Porto, encontrou rapidamente tranquilidade.
Os da casa continuaram barulhentos, entre aplausos por cada jogada bem trabalhada e risos por cada passe ou remate que saía mal a um jogador, sadino ou adversário. Também o árbitro ouviu bastante, com e sem razão. Mesmo em desvantagem, com o segundo golo sofrido nesta edição da Taça (primeiro em casa), o tal otimismo das bancadas prevalecia.
Aquilo que se passava em campo é que era o problema. O Vitória não estava mal - longe disso -, mas não estava a conseguir criar ocasiões para empatar. Ambos os homens da frente (José Varela e Rodrigo Pereira) conseguiam segurar bem a bola e esperar por apoio, que tardava em chegar. A frustração crescia e o jogo pedia a Luís Loureiro que olhasse para o banco.
A segunda parte começou com uma substituição especial, com duas figuras do clube envolvidas. Saiu José Semedo, já amarelado, e entrou Zequinha, uma arma que de nenhuma forma pode ser classificada como secreta.
O impacto foi imediato. Logo nos primeiros segundos em campo, o veterano driblou um adversário e encontrou um colega com um passe de letra, levando os adeptos à loucura. A partir daí, desempenhou exemplarmente a ligação entre meio-campo e ataque, permitindo que o Vitória FC começasse a criar ocasiões de golo.
Primeiro Rodrigo Pereira, depois o próprio Zequinha. Ricardo Batista começou a ser testado e os gansos começavam a acusar algum nervosismo, embora também tenham conseguido explorar algumas transições ofensivas com bom trabalho de Godwin. O jogo estava mais aberto e havia uma sensação de que todos os desfechos estavam em cima da mesa.
A pressão foi sadina, nos minutos finais, mas o golo nunca chegou e foi o Casa Pia a marcar encontro com o Nacional. Prova da tensão acumulada foi a reação de Ricardo Batista (ex-Vitória FC) ao soar do apito final, com um gesto de «falem agora» para os adeptos que o tinham assobiado durante todo o jogo. Foi confrontado por Zequinha e acabou expulso.
O Casa Pia chegou ao Bonfim com o estatuto de equipa de Primeira Liga, frente a um emblema de Liga 3. Apesar do Vitória FC ter uma história muito mais rica nesta competição, o Casa Pia esteve à altura do seu favoritismo e garantiu a primeira presença nos quartos de final, em toda a sua história centenária. A fantástica campanha dos gansos não conhece limites...
As coisas não estão a correr tão bem na Liga 3 como a massa associativa ambicionava, de forma que a Taça de Portugal se tornou poço dos desejos para o povo setubalense. Já tinham eliminado uma equipa do primeiro escalão, mas agora caem frente ao Casa Pia, depois de terem dado uma boa luta a uma das melhores equipas do país nesta temporada.
Tomou algumas más decisões, mas nenhum dos lances teve impacto direto no desfecho do jogo.