Personalidade, qualidade e os golos no momento certo. O Sporting já é líder do grupo D, depois de vencer o Tottenham por 2-0, em Alvalade, com dois golos na reta final do encontro. Paulinho e Arthur Gomes saíram do banco para fazerem os golos leoninos, numa das maiores noites de Champions da história do Sporting.
A personalidade do leão para toda a Europa ver. O facto de o Sporting - Tottenham ter acontecido num horário com menos jogos em simultâneo certamente fez com que mais pessoas tivessem espreitado a partida dos leões, até porque à partida seria a mais equilibrada. A equipa de Amorim aproveitou os holofotes e mostrou a sua personalidade frente ao terceiro classificado da Premier League.
Com mais peso nas pernas, por ter jogado no sábado, a equipa de Rúben Amorim nunca mostrou menos ritmo do que o adversário, pelo contrário. Com bola no pé e coragem para assumir o jogo a partir do pé esquerdo de Adán, o Sporting foi sempre controlador, mas isso não enervou a equipa de Conte.
Tal como se esperava, a equipa inglesa, apesar de pressionante, não entrou em loucuras em Alvalade. A vitória da primeira jornada, que o Sporting também tinha alcançado, ajudou nesse sentido. A espaços, viu-se um Tottenham perigoso, capaz até de bater Adán caso a partida entrasse num descontrolo que Rúben Amorim nunca quis que tivesse.
Sem tremer com bola nos pés, começaram por brilhar aqueles que davam ar aos pulmões leoninos, mesmo que, aqui e ali, o coração sofresse um bocadinho. A cada passe a rondar a baliza de Adán, sentia-se em Alvalade um suster de respiração, mas a lição estava bem estudada e depois de encontrados os caminhos para sair do próprio meio-campo, foi a vez de procurar os da baliza.
Aí não houve tanta capacidade, mas a mobilidade dos três da frente foi agitando as bancadas de Alvalade, do lado verde e branco e também do lado inglês. Com camisolas brancas, alguns adeptos do Tottenham terão dado pela presença de um tal de Marcus Edwards. O 10 inglês jogou de leão ao peito, mas muitos já se ofereceram a levá-lo de volta a casa, muito por causa de uma jogada que prometia (e ainda promete) correr mundo.
Depois da personalidade coletiva, apareceram a capacidade e personalidade individual dos jogadores leoninos. Pedro Gonçalves e Trincão deram rasgos de bons momentos e Lloris até já tinha sido obrigado a uma defesa complicada no início da partida, mas o francês, que tão boas recordações nos dá, ficou na retina depois de Edwards puxar todos os olhares e objetivas até si. Uma jogada individual brilhante, com um toque de Trincão pelo meio e aquele remate de pé direito travado por Lloris. Era o golo de uma carreira!
Aquela defesa evitou que o Sporting conseguisse levar para o balneário uma vantagem que seria importante, mas também justa. Não pelo volume de oportunidades, que os ingleses até tiveram algumas, nomeadamente por Richarlison, que teve um golo anulado por fora de jogo, mas pela tal personalidade para Europa ver. Que grande estava a ser o Sporting de Amorim.
Para a segunda parte, a equipa de Rúben Amorim vivia num dilema. Por um lado, o Sporting já tinha mostrado capacidade para bater a formação inglesa, mas por outro já se sabia que, no plano teórico, os Spurs seriam a equipa mais forte do grupo.
Talvez por isso tenhamos visto um Sporting mais prático nas saídas, mas sem que isso fizesse com que a equipa leonina deixasse de aparecer com muita gente na frente. A ideia passou por manter o controlo do jogo, mas não arriscar um erro que resultasse num golo para a equipa inglesa.
Do lado do Tottenham houve uma intenção clara de pressionar mais e aumentar o ritmo. Também Conte tinha percebido que a equipa de Rúben Amorim sentia algumas fragilidades na defesa, especialmente no jogo aéreo. Foi por isso que se viu Harry Kane a recuar mais para ter bola e os alas com mais à vontade para atacar. Emerson teve a melhor ocasião para os ingleses e Perisic ofereceu uma bola de golo a Richarlison. Provas de um Tottenham que foi à procura do seu resultado, mas que, tal como o Sporting, mostrou não querer ser apanhado em contrapé.
Só que o jogo foi mudando e o Sporting controlador voltou a assumir o comando da partida. Já sem tanta paciência a contruir, mas com outras armas na hora de atacar. Com Sotiris e Paulinho em campo, os leões passaram a ter outro tipo de soluções para respirar com bola e ao mesmo tempo procurar a baliza contrária, que na segunda parte tinha passado um pouco mais distante da visão verde e branca. Até que...
Paulinho mostrou os dentes! No espaço de dois minutos, houve festa rija em Alvalade e tudo começou na cabeça do camisola 20. O canto à esquerda encontrou a finalização certeira do avançado e, tal como na época passada, Paulinho voltou a aparecer em noite de Champions. Uma reta final para mais tarde recordar, que acabou com a consagração do estreante Arthur Gomes.
Que minutos! Que personalidade! Que Sporting (o líder do grupo)!
Não é qualquer equipa que obriga um emblema da Premier League a correr atrás da bola por não conseguir encontrar forma de a recuperar. Sem medo de sair apoiado, o Sporting começou aí a mostrar uma personalidade que durou 90 minutos e passou por todos os setores. Muito mérito de Rúben Amorim e dos seus jogadores.
É um dos chavões do futebol: «Quando se ganha não está tudo bem e quando se perde não está tudo mal.» É igual no Sporting. Apesar da excelente exibição e da vitória leonina, ficam algumas notas para Rúben Amorim trabalhar com a sua equipa. Os leões sentiram algumas dificuldades defensivas, especialmente para lidar com cruzamentos.