A prova que o futebol nem sempre é linear. O Santa Clara exibiu-se a bom nível na 1ª parte, mas apenas na 2ª, com um nível bastante mais baixo, chegaram os golos e acabou por vencer (merecidamente) o Vizela por 3x1. O conjunto vizelense, por sua vez, juntou uma fraca exibição a uma derrota e à ameaça da zona de despromoção, que está já ali.
Frente a frente estavam duas equipas em situações minimamente semelhantes e em busca de fugirem, de preferência já nesta jornada, à zona de despromoção da Primeira Liga. Do lado do Santa Clara, o treinador Mário Silva mexeu em três peças em relação ao empate (0x0) com o SC Braga, sendo que duas das quais foram os castigados Morita e Mansur. Álvaro Pacheco, por sua vez, adicionou apenas Samu Silva, em relação ao empate com o Portimonense (1x1).
Sem poder contar com Morita, Mário Silva modificou um pouco o desenho tático da equipa e apresentou-se num género de 4x4x2 dinâmico - que rapidamente passava ao habitual 4x3x3 -, com os extremos em constantes permutas posicionais com os homens mais centrais do ataque (Ricardinho e Mohebi) com o intuito de descoordenar a defesa vizelense. Lincoln, por sua vez, baixou um pouco no terreno e a este quem coube a missão de ligares setores.
Esta opção tática acabou por, de certa forma, surpreender um pouco o Vizela, que teve claras dificuldades ao longo dos primeiros minutos - até de toda a 1ª parte - em ter bola no meio campo adversário e, percebendo o à vontade açoriana, foi recuando as suas linhas de pressão. Ora, isso acabou por dar mais bola ainda ao Santa Clara, mas retirou espaço para sair rápido com perigo e a melhor oportunidade acabou por sair dos pés de Cryzan, ao minuto 31, depois de um belo passe a rasgar de Lincoln.
No ataque, os comandados de Álvaro Pacheco foram tendo dificuldades em ter bola em zonas recuadas devido à pressão alta do Santa Clara e foram obrigados a apostar num estilo de jogo mais direto para conseguir aliviar o sufoco da qual estavam a ser alvos. As oportunidades vizelenses foram escassas e na única vez que Schettine conseguiu colocar Marco à prova, já uma falta tinha sido assinalada.
Depois de uma boa 1ª parte, o Santa Clara não conseguiu transportar esse momentum para o segundo tempo e, embora a turma açoriana estivesse ainda por cima, os primeiros minutos da 2ª parte foram marcados por um nível qualitativo um pouco baixo, com os dois conjuntos a limitarem-se a uma série de bolas paradas (quase sempre inofensivas).
Perante a escassez criativa da equipa no arranque dos segundos 45 minutos, Mário Silva procurou mexer (e bem) as coisas e, pouco depois da hora de jogo, colocou em campo Rui Costa e Óscar Barreto. A dupla acabou por ter impacto imediato, uma vez que nos minutos seguintes o conjunto açoriano marcou por duas vezes. Primeiro, aos 66 minutos, foi Rui Costa quem, a meias com Bruno Wilson, respondeu a um bom cruzamento de Rafael Ramos na direita (acabou por ser considerado auto golo) e logo de seguida, nem dois minutos depois, voltou-se a festejar. Recuperação em zona adiantada do terreno, Óscar Barreto cruzou na esquerda e Cryzan apenas teve que encostar para o 2x0.
Tudo parecia controlado para o Santa Clara daí em diante, mas à entrada para os dez minutos finais Barreto fez um passe complicado para Boateng - especialmente tendo em conta a chuva que se fazia sentir - e Kiki Bondoso aproveitou para recuperar a bola em zona proibida para os açorianos e, com o todo o tempo do mundo, reduzir. O Vizela ainda procurou correr atrás do prejuízo, mas, mesmo em cima do apito final, acabou por ser completamente surpreendido e permitiu a Rui Costa, num remate de nível elevado, fixar o 3x1 final.
Com este resultado, o Santa Clara regressou às vitórias quatro jogos depois e deu um importante passo rumo ao objetivo de permanência na Primeira Liga. Os açorianos têm agora 29 pontos e subiram ao 9º lugar da tabela classificativa. O Vizela, por sua vez, continua com 24 pontos e pode ver a zona de despromoção aproximar-se nesta jornada.
Excelente 1ª parte do Santa Clara, especialmente na primeira meia hora, onde conseguiu impor um estilo de jogo positivo e bastante atrativo através das constantes permutas posicionais dos jogadores mais adiantados. Faltou apenas o golo.
A irregularidade exibicional do Vizela atacou e assim que o Santa Clara impôs uma pressão um pouco mais alta os comandados de Álvaro Pacheco limitaram-se a recuar no terreno e bater bolas na frente. Assim fica mais difícil e a atitude apenas melhorou (a espaços) no final
O árbitro Artur Soares Dias teve um jogo relativamente fácil de arbitrar e foi deixando o jogo correr de forma natural. Um bom exemplo é o último golo do Santa Clara, onde outros seus colegas de profissão até podiam não ter deixado a jogada desenrolar-se.