O Sheriff é 'Guerreiro' e vive no Minho. Manda na cidade e na bola, afugenta mauzões e candidatos a pilantras, adora um bom duelo ao pôr-do-sol. Mais rápido do que a própria sombra a pensar e a executar, abate fantasmas na Europa e visitantes possuídos por más intenções.
«O meu nome é Horta, Ricardo Horta», exclama o herói da pedreira de Braga, um anfiteatro com ares de Old West. Duas balas à queima-roupa, o fora-de-lei moldavo caído por terra, gravemente ferido. 120 minutos de espera, o jogo do gato e do rato, e tudo a acabar nos tiros de penáltis. A Liga Europa a fumegar no cano da pistola ainda a escaldar.
Sofrimento desnecessário, sim, mas História escrita numa noite de emoções à flor da pele: o Sp. Braga segue em frente na UEFA.
Ricardo Horta por todo o lado. À porta do saloon a acabar com zaragatas; com as chaves da cadeia a meter os bandidos na linha; montado num Jolly Jumper a limpar as ruas da cidade. Muito futebol, uma tremenda exibição, a prova mais recente de uma qualidade que pede a Seleção Nacional e palcos de excelência.
Tiveram duas ameaças junto à baliza de Matheus - o guarda-redes foi decisivo -, mas sempre no aproveitamento do risco assumido desde o início por Carlos Carvalhal. Adama Traoré e Momo Yansané são verticais, perigosos, mas a restante equipa pareceu um escombro daquela que derrotou o Real Madrid na Liga dos Campeões.
O Sp. Braga fez dois golos e podia ter feito quatro ou cinco. Faltou mais um homem na frente ao nível de Horta, que ergueu o punho da lei por todo o lado, e de Iuri Medeiros. André, mano do xerife, atirou ao poste e foi também um dos melhores. Aposta certíssima de Carvalhal.
Linha de três defesas, com Fabiano adaptado; Yan Couto na direita e o imberbe Rodrigo Gomes à esquerda; Al Musrati e André Horta a pegarem no meio-campo e, para a frente, o xerife Ricardo a dividir as despesas com Iuri Medeiros e Vitinha, o incansável. A fórmula acertou, levou o visitante moldavo para onde era suposto, mas os minutos avançaram e o terceiro golo não apareceu.
A noite não foi de um homem só. Não é justo reduzir este excelente Sp. Braga europeu aos ditames do Sheriff (ou xerife) Ricardo Horta. Mas, o que se sentiu em Braga é simples de explicar: podiam vir comanches, apaches ou cheyennes, exércitos ameaçadores, selvagens expansionistas. O Sheriff Ricardo Horta tinha a estrela a brilhar ao peito e podia bem com todos.
Um tipo duro, um tipo destinado à grandeza.
A capacidade do Sp. Braga acelerar e criar perigo pelo corredor central, fruto das recuperações altas de André Horta e, depois, do entendimento perfeito entre o irmão Ricardo e Iuri Medeiros. Faltou mais Rodrigo Gomes e um Vitinha menos desgastado com coisas que não seriam para ele.
A pobreza do Sheriff moldavo - não confundir com o sheriff Horta. Custa acreditar que esta equipa venceu há poucos meses o Real Madrid.