A sorte faz parte do jogo e só quem a procura a pode atingir. Tudo frases feitas neste desporto que é o futebol, mas que se aplicam na perfeição a mais uma vitória do Sporting, que quebra o seu registo histórico de invencibilidade na Liga depois de uma exibição pouco conseguida, mas que culminou com a eficácia e festa que vem sendo habitual na equipa de Rúben Amorim. Coates, cada vez mais uma figura deste Sporting mais próximo da história, foi novamente decisivo e resgatou os três pontos diante de um Santa Clara que merecia regressar aos Açores com algo mais.
Este Sporting raramente facilita. Numa altura em que se vai discutindo qual a equipa que joga melhor em Portugal, o Sporting vai mostrando o quanto essa questão, para além de subjetiva, pode ser irrelevante para as contas do campeonato. À partida para esta jornada, os leões lideravam com nove pontos de vantagem e tinham sofrido apenas um golo nos últimos sete jogos. Os dois números estão associados e esta noite ficou mostrado isso mesmo.
O Santa Clara viajou até Alvalade, onde nunca venceu, depois de um imponente triunfo sobre o Paços de Ferreira, num jogo em que os açorianos foram eficazes ofensivamente, aproveitando também as falhas defensivas da equipa pacense. O problema para Daniel Ramos e para a sua equipa na primeira passou muito por aí: este Sporting não deu abébias.
Os açorianos entraram bem na partida e mostraram desde logo argumentos para que este fosse um jogo desconfortável e exigente para a equipa de Rúben Amorim. A adaptação de Matheus Nunes no lugar do lesionado Pedro Porro fez com que o Santa Clara procurasse essa zona. As oportunidades, lá está, não eram evidentes, mas o Santa Clara estava melhor na partida. Estava, mas deixou de estar.
Cínico, este leão às vezes quase parece uma equipa italiana do início do século XXI. Bem fechada atrás e sem permitir ocasiões de golo apesar do bom começo açoriano, a equipa de Rúben Amorim marcou à primeira oportunidade e ao primeiro remate à baliza. Primeiro e único na primeira parte. A recuperação de Palhinha numa zona subida é também imagem de marca da equipa leonina, tal como os golos de Pedro Gonçalves, muito bem servido por Tabata, também ele surpresa no onze, que num dos primeiros toques na bola alargou a vantagem que já leva na lista dos melhores marcadores da Liga.
O golo veio mesmo alterar o jogo. Não só pelo que foi significando no resultado mas também pelo que que aconteceu, a partir daí, dentro das quatro linhas. O Santa Clara quebrou muito depois daquele bom começo e não conseguiu chegar com tanta facilidade a zonas de perigo, com Lincoln muito pressionado mesmo quando se juntava a Alano junto ao lado mais débil (ou menos rotinado) dos leões.
Essa foi também a estratégia do Sporting. Feito o primeiro não se pode dizer que a equipa leonina tenha decidido gerir o resultado tão cedo, mas pode sim referir-se que a equipa de Rúben Amorim decidiu gerir a partida. Num ritmo baixo, mas sempre muito eficaz defensivamente, o Santa Clara viu-se anulado por completo e ia para o intervalo com a difícil tarefa de desmontar a melhor defesa da Liga.
Mais uma vez o vento soprou da mesma forma no reatar do encontro, mas com a diferença no marcador que tanto significava para leões e açorianos. O Santa Clara voltou a entrar muito melhor do que o Sporting, que nem por isso tremeu. Habituada a sofrer, a equipa de Rúben Amorim manteve-se tranquila no seu processo defensivo, mesmo sem conseguir chegar ao meio-campo contrário como havia acontecido na primeira parte.
Mérito para o Santa Clara, atenção. Se a defensiva leonina foi mostrando uma força inquebrável, o que dizer dos açorianos? Sem oportunidades, a jogar em casa no líder e em desvantagem no marcador, a equipa de Daniel Ramos tentou de tudo. Afinal, se o Sporting podia marcar no primeiro remate à baliza por que motivo não podia acontecer o mesmo do outro lado?
As mexidas de Rúben Amorim deixaram a equipa leonina algo perdida, mais esticada no ataque, mas mais frágil no momento da recuperação. A concentração defensiva, que por vezes cansa mais do que um sprint de um lado ao outro do campo, estava nos limites e quando Feddal vacilou estava lá Rui Costa para aproveitar. O Santa Clara merecia, mas...
É impossível não falar em estrelinha. A sorte procura-se, é um facto, mas com tão pouco tempo para jogar e depois de um jogo pouco convincente no momento ofensivo, poucos esperavam a reação leonina. Só que na frente estava o capitão Coates. A bola tensa de João Mário encontrou o defesa na pequena área contrária e o uruguaio procurou essa tal estrelinha, que, uma vez mais, veio ter com ele (e com o Sporting).
Uma palavra válida para as duas equipas. O contexto foi difícil, mas tanto Santa Clara como Sporting acreditaram em algo mais. Os açorianos chegaram ao empate com muito mérito e os leões conquistaram os três pontos no último lance. A tal questão da sorte que se procura.
O Santa Clara entrou bem e mostrou vontade de incomodar o líder, mas o golo de Pedro Gonçalves no primeiro (e único) remate do Sporting na primeira parte travou o bom arranque açoriano e com isso a partida perdeu muita qualidade.