Houve mesmo jogo e quem o ganhou foi o Benfica, por 0x4. O Desportivo das Aves foi digno e merece uma palavra de apreço, pela atitude e pelo espírito, numa semana que nenhuma equipa profissional merecia passar.
Num jogo quase sempre dominado pelos encarnados, destaque ainda para a entrada e para a estreia fulminante de Gonçalo Ramos, que bisou depois de entrar ao minuto 85.
Como se os problemas do Aves já não fossem suficientes, as últimas horas antes do jogo deram ainda mais dores de cabeça a Nuno Manta Santos. Nas redes sociais, o guardião Aflalo anunciou que os meses de salário em atraso não podiam ter outra consequência que não a saída e o médio Falcao também não entrou nas contas para o encontro com o Benfica. Ainda mais limitações para quem já tinha a tarefa muito complicada.
Quando ainda tentávamos perceber qual seria a estrutura utilizado pela equipa da casa, um momento arrepiante atraiu a atenção de todos, quase que petrificando quem assistia no estádio e pela televisão. Não houve jogo durante os primeiros 50 segundos. O banco e os suplentes mantiveram-se de pé e os titulares não saíram do seu lugar, num protesto respeitado pelo Benfica, que se limitou a trocar a bola. No fim, todos aplaudiram.
Com Svilar, em estreia, no lugar do antigo totalista Vlachodimos, a Águia demorou apenas quatro minutos para inaugurar o marcador. A visão de jogo de Pizzi descobriu a desmarcação e a velocidade de Rafa no timing certo e, diante do búlgaro Sheytanov, também ele novidade na baliza, o extremo não facilitou.
Parecia embalado para uma primeira parte de bom nível, este conjunto de Veríssimo que já pensa na final da Taça e no confronto com o FC Porto. Chiquinho esteve bem na ligação como segundo avançado e a dinâmica imprimida por Pizzi e Rafa conduziram a um Benfica dominador durante a fase inicial e capaz de criar oportunidades. Contudo, a novidade na baliza avense respondeu a um bom nível, quando a pontaria do ataque adversário não era a melhor.
Ainda assim, há que dar uma palavra de apreço a este Desportivo das Aves. Mergulhada numa coleção de problemas, incapaz de, sequer, treinar, a equipa de Nuno Manta foi séria, digna, capaz, até, de incomodar o Benfica, particularmente no último quarto de hora. É certo que as limitações desta equipa encarnada a defender, especialmente os lances de bola parada, são conhecidas e também ajudaram, mas que valentes foram estes avenses.
Talvez por ter sido espicaçada pelo adversário na reta final da primeira parte, a equipa do Benfica voltou a entrar com uma atitude afirmativa. Muito mais velocidade no último terço, mais criatividade e uma grande oportunidade desperdiçada por Vinícius, antes do golo de Pizzi, de grande penalidade. A luta pelo título de melhor marcador também promete ser um dos motivos de interesse do dérbi com o Sporting.
Ao contrário do que aconteceu na primeira parte, o Aves não conseguiu esticar tanto o seu jogo, também porque o regresso de Florentino ao onze, mais de 20 jornadas depois, foi marcado por um sentido posicional assinalável e uma capacidade de desarme que terá já agradado ao novo treinador Jorge Jesus. Numa noite de mais conservadorismo de Gabriel no passe, foi o jovem português a destacar-se e a reclamar (muitos) mais minutos.
Veríssimo pressentia que o domínio encarnado ia continuar e, também por isso, chamou, de uma vez só, Seferovic e Dyego Sousa. Eram muitas as bolas que chegavam ao último terço e os dois avançados tentaram mostrar serviço, até nas assistências. Mas nem Rafa nem Pizzi aproveitaram os brindes.
Quem aproveitou para mostrar serviço à atual e à futura equipa técnica foi Gonçalo Ramos. Lançado para o lado direito do ataque encarnado, o jovem avançado fez golo no primeiro toque de águia ao peito, logo de calcanhar. Pouco depois, assistência de Dyego e finalização de classe da pérola made in Seixal. Há dois clássicos pela frente e um talento a mostrar serviço.
Logo depois, o apito e o fim do calvário do Desportivo das Aves, por agora. Que se faça tudo para que haja jogo em Portimão, até porque não está só em causa a competitividade de um clube, também a verdade desportiva tem que sair por cima em qualquer e também nesta liga profissional de futebol.
Depois de tudo aquilo que passou, o Desportivo das Aves foi digno e sério no jogo contra o Benfica. Na primeira parte, a equipa de Nuno Manta até assustou a baliza de Svilar, mas o que verdadeiramente impressionou foi a solidariedade, a atitude e o espírito.
Não houve jogo durante os primeiros 50 segundos. O Aves decidiu protestar e não competir, numa atitude respeitada pelo Benfica. O pior é o que esta atitude representa. Uma SAD que não protegeu o clube e que deixou a credibilidade do futebol português novamente em cheque.