De que serve ter toda a posse de bola quando não se faz o que é preciso com ela? O líder FC Porto voltou a não conseguir uma exibição ao nível do lugar que ocupa, voltou a estar bem longe disso, e desta vez largou mesmo pontos preciosos nesta cada vez menos entusiasmante (ainda que mais equilibrada) luta pelo campeonato. Contra todas e quaisquer expectativas, o lanterna-vermelha Aves travou os dragões e manteve o resultado a zeros. E não terá sido por falta de laterais que os portistas não marcaram nem venceram...
Sérgio Conceição fez uma série de mudanças na equipa, surpreendeu até no esquema tático, mas os novos nomes e a mudança na formação não conseguiram esconder a falta de criatividade da equipa no seu todo, contra um Aves que foi muito competente na principal tarefa da equipa de Nuno Manta Santos: evitar sofrer.
O FC Porto dominou a posse de bola, passou a esmagadora maioria do jogo na grande área adversária e até teve direito a um penálti logo no primeiro tempo (Fábio Szymonek travou o remate de Zé Luís). Nada disso bastou, porque o resto do que se pedia aos dragões foi quase tão vazio como as bancadas. Nos longos descontos finais houve tudo-por-tudo portista, mas a última linha de resistência avense continuou firme até ao último apito de Xistra e segurou um ponto precioso para uma equipa em desespero.
Sem Manafá e Telles (castigados), a juntar ao lesionado Marcano, Sérgio Conceição tinha mesmo de mexer no setor defensivo. E quais seriam as soluções? Tomás Esteves? Diogo Leite? Mbemba? Corona? O treinador escolheu... todos eles. Promoveu a estreia de Esteves na Liga, colocando-o à direita (correspondeu, até ser substituído), colocou Leite à esquerda, mantendo a dupla Pepe-Mbemba no centro, e subiu Corona no terreno. Talvez ainda mais surpreendente: Danilo, Soares e Marega estavam no banco.
O Aves entrava em campo com apenas 13 pontos, um registo dramático e que deixava a equipa a poucos passos da descida (continua a estar, apesar da surpresa) e a jogar contra a equipa do extremo oposto. Nuno Manta Santos juntou mais um defesa para formar uma linha de cinco, que procurava estar próxima da linha de meio-campo e ganhar as bolas ao meio-campo ofensivo portista. Com um trio bastante móvel, composto por Luis Díaz, Otávio e Corona, o FC Porto teria - na teoria - argumentos para ser bem mais criativo do que foi logo nesse primeiro tempo. Os remates eram bloqueados, as bolas eram perdidas, até que logo depois do quarto de hora de jogo caiu do céu uma ocasião de golo, servida em bandeja de prata: Carlos Xistra viu falta numa saída de Fábio Szymonek perante Otávio, Zé Luís teve o golo no pé esquerdo... e permitiu a defesa do guardião brasileiro.
A posse de bola era esmagadoramente favorável aos portistas (76% durante o primeiro tempo), imaginava-se que tal como essa ocasião surgiu, surgiriam outras, mas o FC Porto não descobria as linhas de passe no último terço. Corona ia definindo bem, mas aparecia pouco, Zé Luís exibia-se a baixo nível lá na frente, e não só pelo penálti falhado. Só num pontapé de canto o golo voltou a pairar, mas Pepe cabeceou ao lado, e uma outra jogada de perigo iminente foi interrompida por suposta falta de Tomás Esteves, que surgia em zona ofensiva.
Uma primeira parte que desiludia, e muito.
A entrada do FC Porto no segundo tempo foi bem melhor, mas nem era preciso muito para o ser. Começaram a surgir jogadas bem construídas, em particular uma entre Sérgio Oliveira, Corona e Luis Díaz, mas o colombiano não conseguiu bater a resistência do guardião adversário, tal como poucos minutos depois. Pertenciam a Díaz as ocasiões que tanto tinham escasseado, faltava a definição.
Sérgio Conceição olhou para o banco em busca de possíveis soluções e viu-as nos homens que melhor conhece. Um deles, Moussa Marega, foi o primeiro a entrar, e Tomás Esteves o primeiro a sair. Perdia-se um lateral que dava profundidade (bem mais do que o adaptado Leite), perdia-se também parte do Corona que se ia vendo, já que o mexicano passava a ter também obrigações defensivas. Marega aparecia no flanco direito, sem conseguir também ele descobrir o caminho para a baliza. Aos 69', recebeu a bola vinda de Corona e atirou para mais uma defesa de Szymonek.
Com bolas paradas não ia lá, com troca de bola também não, nem sequer na sempre ameaçadora meia-distância de Sérgio Oliveira. Juntaram-se ao campo Soares e o jovem Vítor Ferreira, para uns últimos minutos de sufoco sem eficácia. O FC Porto desesperou na busca do golo, não deixou o Aves respirar, mas Soares cabeceou ao lado, Szymonek voltou a brilhar perante Marega (belo passe de Vítor Ferreira) e não houve soluções para o líder.
Assim, o Benfica vai a Vila do Conde sabendo que pode igualar os 64 pontos dos dragões.
Demasiada tendência para puxar do apito. O penálti é no mínimo duvidoso (parece-nos demasiado forçado), mas pelo menos a equipa de arbitragem foi mantendo o critério... um critério demasiado apertado. Muitas dúvidas também numa falta assinalada a Tomás Esteves (num lance em que a bola entrou na baliza mas já com o lance interrompido).
Não se pode pedir muito mais a uma equipa que está no lugar em que está. O Aves permitiu que o FC Porto jogasse muito subido no terreno, mas conseguiu segurar o resultado até ao fim, com o guarda-redes Fábio Szymonek a destacar-se em particular.
A nível individual também, mas acima de tudo a nível coletivo. A equipa de Sérgio Conceição construiu muito poucas jogadas entusiasmantes num jogo em que encostou o adversário às cordas durante longos períodos. Pede-se muito mais ao líder do campeonato nacional.