Notícia atualizada às 9h50 de 19 de dezembro
Grande dose política, enorme expectativa futebolística, mas zero golos. Barcelona e Real Madrid entraram no clássico igualados a nível classificativo e assim dele saíram, sem que alguém fosse capaz de fazer a diferença.
Foi, por isso, a equipa de Zidane a sair por cima. Houve oportunidades para ambos os lados, mas os merengues deram uma demonstração de personalidade e intranquilizaram um Barcelona que insiste em ser apenas uma sombra de todo o potencial de que dispõe. Valverde tem muito mais para espremer do que o que está à vista.
Dissociando desde o começo: há um extra-jogo, que não começou agora, que já tem anos e anos e que está em fase de ebulição, perante a vontade da Catalunha de ser independente; houve um pré-jogo, num dia de muito mediatismo, de revolta social e de gritos por independência, que se ouviram depois nas bancadas de forma impressionante; e houve o jogo, que é futebol e que nada teve a ver. Sendo um aglomerador de massas, seria um veículo político que acabava no apito inicial.
E o começo até parecia indicar um Barcelona bem superior. A equipa de Valverde conseguia esticar o jogo com facilidade, quer pelos passes cortados de Ter Stegen, quer pela visão extraordinária de Messi. Só que não foram mais do que 15 minutos nesse ascendente.
Aos poucos, o Real Madrid começou a solidificar linhas. O meio-campo bloqueou o jogo curto de De Jong (sentiu a falta de Busquets) e as entradas de fora para dentro por parte dos laterais (Semedo foi novidade). Sergio Ramos fechou a esquerda, onde Messi estava em demasia. E Isco pautou todas as jogadas de ataque, qual cérebro multiplicado a encontrar caminhos para incomodar Ter Stegen, com contributo decisivo de Carvajal e Mendy para vários momentos de superioridade ofensiva.
Não se pode dizer que foi sentido único, longe disso, até porque Jordi Alba ia sabendo ler as ideias de Messi e, aqui e ali, criava bons sobressaltos nas bancadas. Ainda assim, muito mais exceção do que regra. O normal era o Real Madrid revelar maior sabedoria nas alturas de aplicar as suas fórmulas, ora em contra-ataque, ora em bolas paradas. Nota também para dois lances em que os merengues ficaram a reclamar dois penáltis sobre Varane, em lances divididos com Lenglet e Rakitic, aos quais o juiz não atendeu.
Valverde tinha de fazer algo e o intervalo era uma boa oportunidade.
Não o fez, mas não tardou. Perante um Real Madrid igualmente cómodo, o técnico dos culés tirou Nélson Semedo, baixou Sergi Roberto e lançou Vidal, com melhorias imediatas. Messi podia mesmo ter marcado, só que estranhamente trocou os pés.
Foi fugaz. Logo depois, Bale atirou à malha num bom lance de contra-ataque e os blancos tornaram a subir. O próprio Bale marcaria, mas seria anulado. E a seguir Suarez quase marcava na outra baliza. Assim, sim. Era a melhor fase do jogo e pedia golos, que tardavam.
Os jogadores não aguentariam muito mais o ritmo. Por isso, Zidane mexeu em duplicado e Valverde foi atrás, com Fati a dar mais dinamismo, mas pouco.
O jogo tornou-se amarrado porque aí, perante novas ameaças, passou a ser prioritário não sofrer e, como tal, houve mais contenção, mais faltas e menos futebol.
No fim, tudo igual.
Estivemos no estádio, pudemos assistir ao vivo a um dos maiores acontecimentos mundiais de futebol e é algo que qualquer adepto devia poder vivenciar uma vez. Um ambiente ímpar, num estádio monumental e num cenário belíssimo. Um regalo.
Um jogo sem golos é como comida sem sal. Saboreia-se, mas nunca é a mesma coisa. Este jogo merecia-o, teve momentos para isso, mas, por uma razão ou outra, repetiu o que há 17 anos não se via: um clássico terminar empatado.