Há resultados que enganam e o 4x0 com que o Benfica venceu o Estoril é um deles. É verdade que os campeões nacionais iniciaram a defesa do título com um triunfo - justo essencialmente pela eficácia demonstrada nos últimos minutos - e portanto a missão foi cumprida na jornada inaugural. No entanto, a exibição – exceção feita aos últimos 15 minutos – foi cinzenta e chegou a levar os cerca de 53 mil adeptos presentes no Estádio da Luz a alguns ataques de nervos.
Um grande cabeceamento de Mitroglou, após uma assistência majestosa de Nico Gaitán, aos 74 minutos, lançaram o Benfica para uma vitória que teve números de goleada - com Jonas a marcar, de grande penalidade, aos 78 minutos, a bisar, de cabeça, ao minuto 82 e Nélson Semedo a estrear-se a marcar aos 89 minutos – mas que não espelham aquilo que se passou durante a maior parte do tempo.
Se se disser que Júlio César teve mais trabalho que Kieszek até ao momento do primeiro golo, não é mentira. Desde o início, o Estoril aproveitou o facto do Benfica estar a jogar sobre brasas – devido às exibições menos conseguidas e resultados negativos na pré-época e também na Supertaça – e fê-lo na forma como estendeu o seu jogo, fazendo bastante uso da velocidade do trio da frente: Sebá, Léo Bonatini e Gerso. Durante a primeira meia hora, os canarinhos discutiram o jogo pelo jogo e as águias, intranquilas e ansiosas, sentiam bastantes dificuldades para impor o seu jogo, com Pizzi – a par de Ola John – a ser um dos piores em campo e a falhar na ligação entre os setores da equipa.
Nos últimos 15 minutos da primeira parte, pela primeira vez o Benfica conseguiu exercer um domínio claro sobre o Estoril, mas não o traduziu em ocasiões de golo. Mitroglou chegou a introduzir a bola dentro da baliza e Luisão atirou à barra, mas ambos os lances foram bem invalidados pela equipa de arbitragem. Pelo contrário, a grande ocasião da primeira parte acabou por pertencer ao Estoril, num lance que começou numa perda de bola de Luisão e que apenas foi resolvido por Júlio César, impecável na forma como negou o golo a Léo Bonatini, tendo Sebá, na recarga, rematado por cima.
Pela defesa feita mesmo antes do apito final e também pela atenção que demonstrou noutros lances de aproximação do Estoril à sua baliza, Júlio César tinha obrigatoriamente que ser considerado um dos melhores em campo ao longo dos primeiros 45 minutos. E quando o guarda-redes de uma equipa como o Benfica é o melhor em campo, é sinal de que nem tudo corre bem. Era o caso e o estatuto de melhor em campo, o guardião brasileiro ganhou-o de vez logo a abrir a etapa complementar, na forma fantástica como negou o golo, que parecia certo, a Sebá.
Rui Vitória demorou a mexer no jogo – só aos 61 minutos tirou os piores jogadores em campo, Pizzi e Ola John, e colocou Talisca e Victor Andrade – mas quando o fez, aos poucos a equipa foi ganhando algum ascendente sobre o Estoril. Os canarinhos começaram a recuar, mas Fabiano Soares, técnico dos visitantes, não queria que tal acontecesse e lançou dois homens de características ofensivas – Mattheus e Bruno César. Mas as alterações não tiveram o efeito desejado porque, três minutos depois de ambos terem entrado, o Benfica chegou à vantagem num dos poucos lances que até então conseguiu fazer com princípio, meio e fim.
O golo de Mitroglou mudou tudo e os últimos 15 minutos foram de um mundo completamente à parte daquilo que se tinha visto até então. Jonas, de grande penalidade, fez o 2x0 e a partir daí o Benfica soltou-se de qualquer amarra psicológica que os jogadores encarnados pudessem ter e chegou à goleada, com um bom golpe de cabeça de Jonas e um belo golo de Nélson Semedo, após boa jogada coletiva. O Estoril, sem nada poder fazer, assistiu à festa do campeão nacional, saindo da Luz com um resultado demasiado pesado para o futebol que praticou durante 74 minutos.