João Meira num «espaço onde o português se pode valorizar muito»

A primeira época fora de Portugal foi também uma experiência totalmente nova, se bem que com resultados coletivos que não foram os melhores. Que balanço fazes?

Sinceramente, foi uma experiência muito boa, muito enriquecedora e na qual fiz boas coisas na MLS. Como disse, desportivamente os resultados não foram como eu esperava, mas melhores dias virão.

É para continuar por cá?

Não faço ideia. Foi um ano de contrato com mais um de opção, mas ainda não sei como vai ser. Acho que a opção será ativada, só que ainda é cedo, já que situações pessoais me podem levar novamente para a Europa.

Não está de parte um regresso a Portugal?

[pausa]... Está complicado...

Ao nível pessoal, a vida é muito diferente nos Estados Unidos?

Muito diferente para melhor. As condições que aqui temos é uma realidade à parte, quer no que envolve futebol, quer em tudo o resto.

Chicago tem uma característica que lhe é atribuída de ser uma cidade um pouco perigosa. Isso verifica-se?

Para mim não. Vivo dentro da cidade e nunca vi nada. É, talvez, a melhor cidade dos Estados Unidos para viver. Ao redor não conheço, por isso não posso falar, mas dentro dela temos tudo. É uma pequena Nova Iorque com praia, com canais dentro da cidade a fazerem lembrar Veneza ou Brugge. Agora, no inverno faz muito frio [risos]. Não estamos habituados.

Estás com família?

Não, neste momento estou sozinho. A minha mulher está em Portugal porque esperamos o segundo filho, daí que eu ainda não saiba como é que vai ser a minha vida.

Ou seja, pelo menos agora será um regresso a Portugal...

Sim, dentro de duas semanas. Dará, pelo menos, para respirar um ar um pouco diferente.

No que diz respeito a futebol, também várias diferenças...

Algumas, sim. Para melhor ou para pior. Como deu para assistir [ndr. Jogo em Toronto] os estádios praticamente cheios, ambiente espetacular, condições de trabalho que são muito boas. Chicago talvez não seja das melhores, se bem que, comparado a Portugal, é muito boa. Só que há outras que precisam de melhorias.

Estivemos a assistir ao jogo e, de facto, as diferenças são muitas. Uma delas é que não há grandes protestos aos árbitros.

Ainda para mais para um latino, que gosta de falar com eles e criticar [risos]. É complicado, pois a cultura deles é de que, bem ou mal decidido, está sempre tudo bem. Ainda por cima, hoje foi o meu pior, estava quase a perder a cabeça [risos]. Mas temos que nos adaptar, não é? Não são eles que se vão adaptar a nós, nós é que somos novos aqui.

É um bom espaço para o jogador português?

Penso que sim. Sinceramente, e não é para me valorizar mais do que os outros, o jogador português é muito evoluído em todos os aspetos: técnicos, táticos, a conhecer o jogo. Em Portugal, nós crescemos numa escola muito boa e parece-me que não damos o devido valor. O jogador português adapta-se muito bem ao que lhe é pedido, sabes? Portanto, é um espaço onde o português se pode valorizar muito.

Pareceu-te existir algum impacto positivo desde que Portugal ganhou o Europeu?

Sinceramente, não. Aliás, com os meus colegas nem havia grande vontade que Portugal ganhasse, eu era dos poucos que torcia por isso. Eles não ligaram muito.

O treinador português está a ganhar cada vez mais pontos a nível mundial. Também há espaço para ele aqui?

De certeza absoluta que o treinador português que chegasse à MLS revolucionava muita coisa aqui, para melhor. Sem dúvida alguma. Ao nível de trabalho, de cultura de futebol...

Num balanço global, ficando ou não, é uma experiência que levarás para a vida, correto?

Claramente. Valorizei-me, correu muito bem, estive várias vezes na equipa da semana, várias vezes também fui o melhor da minha equipa. Mesmo sem grandes resultados, foi excelente e o meu nome tem sido falado por coisas boas.