História de Carlos Bacca
As lágrimas de um pescador que picou bilhetes de autocarro e que foi o herói de Varsóvia
Há histórias singulares, que parecem destinadas a acabar em películas de Hollywood. E Carlos Bacca tem um guião que é, pelo menos, forte candidato a ver a sua retratada no grande ecrã. O colombiano, que acabou o jogo no banco a chorar, tem 28 anos e é o herói de um Sevilla histórico, mas, se agora tudo parece fazer sentido, tal não foi assim tão linear há uns anos atrás. Não muitos.
Com 20 anos, Carlos Bacca nem sequer sonhava vir a ser jogador de futebol, quanto mais profissional a jogar na Europa. Filho de pais pescadores, em Puerto Colombia, era na água que ajudava uma família pobre e que não conseguia aí o sustento necessário para, muitas vezes, colocar o pão na mesa para os três filhos.
Raio X [Jogador] |
| na/o | |
Carlos Bacca | | Sevilla |
Por isso, Carlos, o mais novo, mudou de vida e entrou numa empresa de autocarros, com os tais 20 anos, na qual picava os bilhetes.
«Nessa altura, as portas do futebol há muito que já estavam fechadas para mim, já não contava com nada nessa altura. Só que, nesse ano, fui fazer provas ao Junior Barranquilla e consegui ficar», contou, numa emocionante entrevista concedida à Marca quando chegou a Espanha.
Nessa mesma entrevista, Bacca relembra tempos que continuaram a não ser nada fáceis. O jogador não tinha escola e tinha que, com a idade de sénior, aprender tudo o que um futebolista costuma adquirir nos escalões mais jovens da formação, pois o seu pai até tinha tentado ser jogador em tempos, só que os ensinamentos passados para o filho foram muito curtos. Sobrava a vontade.
Estilo inconfundível do colombiano ©Getty / Martin Rose
Vontade em recuperar o tempo perdido e em dar outras condições a uma família que continuava de pés molhados à procura de ganhar a vida. Carlos, agora de pés secos e calçados, tentava a sorte na Venezuela, emprestado ao Minervén FC.
Só em 2009 se estreou finalmente no clube de Barranquilla. Já com 23 anos e a causar estranheza aos adeptos. Mas por muito pouco tempo. Golos, golos e golos elevaram-no rapidamente a um elevado patamar. A seleção não tardou, até porque era o principal abono de família de uma equipa que se sagrou campeã nacional.
O estrangeiro também não tardou. Por via do Club Brugge, chegou à Europa um perfeito desconhecido, que passou ao lado dos holofotes na primeira temporada.
Há um ano ganhava a primeira Liga Europa ©Carlos Alberto Costa
Percebeu o futebol europeu, aprendeu ainda mais o que fazer e pôs em prática o seu instinto fatal para uma segunda época recheada de golos, os suficientes para o Sevilla pagar sete milhões de euros pela sua aquisição.
O que parecia muito, passou a ser pouco. Carlos Bacca é indiscutível na sua equipa e coleciona já duas Ligas Europa, numa carreira que promete não ficar por aqui. Já não pica bilhetes, mas cada vez mais pica o ponto do golo na rede contrária. Um caso ímpar.