Julen Lopetegui chegou há dez meses ao FC Porto e, em entrevista ao Porto Canal, passou em revista o período que leva como treinador dos azuis e brancos. O técnico basco faz um balanço da prestação dos dragões nas competições em que está envolvido e também de outros assuntos, como a arbitragem ou a exigência dos adeptos para com a equipa.
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«Foi um trabalho com o presidente e com o Antero desde o princípio. Havia uma ideia comum e havia que dar saída a muitos jogadores, alguns inevitavelmente porque eram muito importantes e pelo valor de mercado tinham que sair, outros porque queriam sair. Tínhamos que ir buscar alternativas que se enquadrassem no que pretendíamos, jogadores com vontade e determinação de crescer».
«Para os objetivos que tínhamos a curto prazo, como a pré-eliminatória da Liga dos Campeões com o Lille, era muito importante a mentalidade dos jogadores porque é difícil criar uma ideia e uma união de grupo em tão pouco tempo e com tantos atletas novos».
Rúben Neves
«Era nessa altura [definição do plantel] que começava a explosão do Rúben. É um rapaz que conhecia dos sub-17 da seleção portuguesa e quando o vimos ao vivo decidimos que era para ficar connosco. Ele tinha uma série de condições que faziam com que quiséssemos que ficasse connosco. Não é um pecado ser jovem e a sua presença em campo compensava a falta de experiência. Ele tem vindo a crescer muito individualmente, assim como toda a equipa».
Ricardo Quaresma
«É dos jogadores que mais orgulho sinto neste ano, pela evolução que teve. É um jogador muito mais completo e está muito melhor jogador. Isso é mérito dele. Um jogador com 31 anos querer melhorar, é fantástico. Quanto ao caráter, à vontade de treino e à vontade de melhorar é um exemplo».
Agosto 100 por cento vitorioso
«Começámos bem em termos de resultados. Mais do que os resultados, o que me surpreendeu foi a rapidez com que a equipa assimilou o que se pretendia. A equipa cresceu a competir. Conseguimos resultados e é sempre mais fácil trabalhar em cima de resultados positivos».
6 pontos perdidos em setembro
«Sabemos que não se vai ser campeão só a jogar bem. Tem que se ser forte emocionalmente. Nesse mês houve empates em que jogámos bem, outros em que jogámos mal. Mas lembro que contra o Sahkhtar, na Ucrânia, fizemos uma das melhores exibições da temporada e podíamos ter perdido. Contra o Vitória de Guimarães fizemos o suficiente para ganhar e depois houve outros fatores. Contra o Boavista tinha chovido muito antes, houve ainda a expulsão do Maicon...Mas penso que esse período foi importante porque a equipa procurou sempre dar respostas positivas».
Críticas à rotatividade
«A vantagem no futebol é que toda a gente tem razão depois de falar. É claro que um treinador se souber que vai ganhar sempre com a mesma equipa, não vai fazer alterações. Mas eu não queria uma equipa sólida, queria um plantel sólido. As competições em que estamos inseridos precisam de plantéis sólidos. Esse é um dos objetivos prioritários do treinador».
«A rotatividade é uma coisa normal, não é algo novo, nos clubes que têm que dar respostas em várias competições. Isso é bom também para os jogadores porque há mais competição interna. O objetivo é sempre ganhar. Normalmente, no futebol quem fala depois tem sempre razão».
As arbitragens
«Creio que arbitrar é complicado. Também é uma profissão de risco, como a de treinador. Acredito muito na competência e quando estás num nível de exigência máxima, como é a Liga Portugal ou a Liga dos Campeões, a exigência tem que ser para todos, não só para treinadores ou jogadores, mas também para os árbitros. Se anulam um golo que é decisivo, se ficou um penálti que podia ser decisivo, não posso deixar de o dizer».
«Claro que acontecerão erros, como acontece com jogadores e treinadores, mas numa competição tão longa os erros devem ser equilibrados e eles estavam desequilibrados. Não digo que é propositado, mas estavam».
«Há árbitros muito bons em Portugal. Muitos deles são internacionais e temos o exemplo do Pedro Proença, que é um dos melhores da história. Insisto, quanto mais competência houver, é melhor para a competição. Mas falei sempre dos árbitros a contestar perguntas dos jornalistas. Nunca ouvirão dizer por mim que nos quiseram prejudicar. Se achasse isso, ia-me embora de Portugal amanhã».
Eliminação da Taça frente ao Sporting e derrota com o Benfica
«Foram golpes duros. O primeiro jogo, o da Taça de Portugal, sinceramente mostrámos muitos argumentos para seguir na competição. Os jogos decidem-se em detalhes. Falhámos uma grande penalidade e os dois primeiros golos do adversário não foram por incapacidade de travar o ataque dele, mas sim por erros nossos. Não conseguimos ganhar e tínhamos de continuar em frente».
«Com o Benfica, estou absolutamente convencido que foi um dos nossos melhores jogos em casa. Claro que não é fácil conviver com isso e com um resultado negativo, mas tivemos oportunidades mais claras, dominámos a partida mas no futebol nem sempre ganha quem é melhor. Mas claro que se não ganhámos é porque havia coisas que tínhamos que melhorar».
A Liga dos Campeões entre a Liga Portuguesa
«Acho que a Champions é a competição com mais visibilidade no mundo e onde estão as melhores equipas do mundo. Temos o desejo de fazer o nosso caminho, de crescer, de dar resposta a todas as dificuldades. Pensamos no dia a dia, no jogo a jogo e acreditamos no que podemos fazer. Faremos sempre isso, independentemente de que seja o rival».
«Tem que haver muita dedicação emocional para jogar na Liga dos Campeões e a equipa deu resposta. Jogar a Champions, depois jogar a Liga Portuguesa e sempre com a obrigação de vencer. É assim que têm que fazer as equipas que querem chegar longe nas competições. Através da crítica, houve um momento em que até parecia mau jogar na Champions. Não é um pecado estar lá, antes pelo contrário».
O facto de o Benfica ter jogado vários jogos em superioridade numérica
[Resposta à justificação de Jorge Jesus, treinador do Benfica que disse que o Benfica jogava várias vezes em superioridade numérica porque os adversários não tinham outra forma de parar os jogadores encarnados]
«Os dados são dados para todos. Somos a equipa com mais ataques, que mais remates tem. Curiosamente, somos a equipa com menos faltas assinaladas a favor. São dados evidentes e contundentes».
Relação com adeptos
«Vamos precisar dos adeptos até ao final da temporada. Temos objetivos colossais e vamos precisar de sentir o apoio deles. Por muito que possa existir contra nós na comunicação social, não é fácil enganar os adeptos».
[Receção após triunfo em Braga para a Taça da Liga] «Foi um dia importante para a equipa, depois de ter empatado um jogo para a Taça da Liga. Mostra que os adeptos dão valor ao esforço e sacrifício da equipa e mostram também que são capazes de reconhecer isso. Aquela reação foi boa para nós».
[Dia do treino aberto, a 1 de janeiro. Estiveram 23 mil pessoas nas bancadas do Dragão] «Esse dia também foi muito importante. Não é habitual que uma equipa consiga num treino aberto aquela convocatória. Nesse dia, senti os adeptos convencidos no seu apoio. O poder de convocatória do FC Porto é muito grande, tanto em casa como fora. E isso diz um pouco da responsabilidade que também temos. Levantamo-nos todos os dias com vontade de dar resposta a essa exigência dos adeptos».
Resposta a quem diz que há ausência de mística
«Tive a sorte de crescer em clubes como o Real Madrid e o Barcelona e a mística tem a ver com a exigência máxima. No FC Porto existe exigência máxima. Também tenho a sorte de ter um balneário extraordinário. É um balneário jovem, mas com caráter, ambição, humildade e todos os jogadores cultivaram isso desde o início».
Empate com o Nacional após derrota do Benfica em Vila do Conde
«Vínhamos de uma sequência de jogos tremendamente exigentes e a leitura geral que fiz foi que era positivo dependermos apenas de nós e que estávamos com menos 1 ponto de diferença para o nosso rival. Claro que há aspetos que temos que rever e que temos que melhorar. Há jogos duros, bonitos pela frente e temos muita responsabilidade».
[Se o clássico vai decidir a Liga] «Sabemos perfeitamente que não é assim. Temos que dar resposta nos jogos que temos pela frente. Temos as meias finais da Taça da Liga, depois temos o Estoril e o Rio Ave. Nós não fazemos essa leitura».
Mais três jogos que o Benfica até ao clássico
«Estamos encantados por termos esses jogos porque isso significa que estamos nas competições. Parece que quando uma equipa não está qualificada é melhor porque pode descansar, mas o que nós pensamos é que é muito bom jogarmos os quartos de final da Liga dos Campeões. O nosso objetivo é dar respostas jogo a jogo e nunca vamos procurar desculpas».
Expectativas para o segundo ano
«A primeira coisa que se faz num novo projeto, em que há muitas mudanças, é não renunciar a nada. Tem que se ter máxima ambição. Uma pessoa pensa sempre que o segundo ano é diferente e que vai ser melhor sem dúvida alguma. Os jogadores já se conhecem, a ideia de jogo está implementada e as coisas são mais fluidas».
O momento em que chegou ao FC Porto
«É difícil não conhecer a história de um clube tão grande. Conhecia a sua história, o seu passado e também o seu presente, claro. Não com a profundidade que depois se vai conhecendo, mas sabia o que significava ser do FC Porto».
[Razões para aceitar ser treinador do FC Porto] «A paixão do projeto proposto, a convicção em fazer o caminho juntos, em começar a criar outra vez a história do clube. Isso, mais a força que o próprio clube tem, significa fazer parte do FC Porto. Havia muitas alternativas, mas o FC Porto foi a minha escolha. Não foi uma coisa demorada e chegámos a um acordo muito depressa».