Aos 59 anos, Fernando Santos consegue algo que apenas Otto Glória tinha conseguido no futebol português, treinar FC Porto, Sporting e Benfica e também a seleção de Portugal. Conhecido por ter sido o «engenheiro do penta» do FC Porto em 1999, o técnico natural de Lisboa é uma pessoa de consensos e de quase nenhuns conflitos.
Através de um discurso politicamente correto e nunca esquecendo as casas pelas quais passou, ao longo dos anos Fernando Santos reuniu a simpatia da maioria dos adeptos dos clubes que representou. Foi por isso que recentemente esteve no banco do FC Porto, de onde saiu há 13 anos, por ocasião do jogo de despedida de Deco no Estádio do Dragão, já depois de ter sido adversário dos dragões como treinador de Sporting e Benfica.
Também por Alvalade e pela Luz, apesar de em ambos os sítios não ter conquistado títulos e ter estado menos tempo do que nas Antas, Fernando Santos conquistou a simpatia de muitos adeptos pelo seu estilo próprio. Isto para não falar da boa reputação que também construiu no Estoril, onde terminou a carreira de jogador e iniciou a de treinador, e no Estrela da Amadora, de onde deu o salto para o FC Porto.
Mas além de Portugal há outro país que faz parte da vida de Fernando Santos. Foi na Grécia que o agora selecionador português conquistou um enorme respeito e um estatuto especial. Treinou o AEK por duas ocasiões, o Panathinaikos e o PAOK, mas foi na seleção da Grécia que atingiu o ponto mais alto, ao ponto das pessoas pedirem inúmeras vezes para ele não deixar o cargo de selecionador helénico, decisão que tomou ainda antes de fazer história ao levar os gregos pela primeira vez aos oitavos-de-final do Campeonato do Mundo do Brasil, tendo perdido apenas nas grandes penalidades com a Costa Rica.
Chaínho: «Fernando Santos é pessoa de uma cara só»
Se há jogador que acompanhou o percurso de Fernando Santos foi Chaínho. O ex-médio mudou-se com o técnico do Estrela da Amadora para o FC Porto e mais tarde reencontraram-se no Panathinaikos. Foram oito anos que permitiram a Chaínho admirar uma pessoa que entende ser a opção certa da Federação Portuguesa de Futebol para assumir o comando técnico da seleção nacional.
«Sou suspeito para falar do Fernando Santos porque trabalhei com ele durante oito anos e em três clubes diferentes. Mas é pessoa de uma cara só, séria, com caráter, com conhecimento do futebol e honestidade. É capaz de gerar consenso em todos os clubes por que passou e tem muitos anos disto», afirmou, em entrevista ao zerozero.pt.
«Estive na transformação dele como treinador e o que posso dizer é que aprendeu tanto que não tem receio de ouvir as pessoas, pois não acha que sabe tudo. Além disso, é um líder e tem o que é mais preciso, o conhecimento do futebol», acrescentou, lembrando o trabalho que Fernando Santos desempenhou enquanto selecionador grego.
«Entrou na seleção da Grécia depois do Otto Rehhagel, que fez história ao conquistar um Campeonato da Europa, e conseguiu fazer com que as pessoas nunca desconfiassem dele, levando-as mesmo a esquecerem-se um bocadinho do treinador anterior que fez um trabalho fantástico. Isto diz muito do que é o Fernando Santos», rematou.
Luís Filipe: «Não olha a caras e obriga os jogadores a trabalhar»
Por vezes fala-se em estatutos na seleção portuguesa, mas Luís Filipe garante que tal não será possível com Fernando Santos. O jogador trabalhou com o agora selecionador aquando da passagem de ambos pelo Sporting e foi até sob o comando de Fernando Santos que Luís Filipe se tornou no primeiro jogador a marcar no novo Estádio de Alvalade. Já lá vão 11 anos desde que se cruzaram, mas a imagem de um técnico exigente e frontal nunca desapareceu.
«É um excelente treinador e a seleção está muito bem entregue. Já passou bastante tempo desde que trabalhei com ele e já estará um bocadinho diferente daquilo que era, mas o que retenho dele é que é uma pessoa exigente e que tem um grande conhecimento técnico tático», analisou Luís Filipe, em declarações ao zerozero.pt.
#Fernando Santos: Ao serviço da seleção grega, F. Santos só perdeu 4 dos 30 jogos em qualificações e fases finais. #playmaker
— playmaker stats (@playmakerstats) 23 setembro 2014
«O Fernando Santos é uma pessoa direta e diz tudo o que tem a dizer, independentemente se vai agradar ou não. Por isso digo que a exigência dele é grande. Não olha a caras e isso obriga os jogadores a trabalhar», acrescentou, traçando mesmo algumas semelhanças com Paulo Bento, antecessor de Fernando Santos.
«São muito parecidos em termos de frontalidade. Ambos vão de encontro daquilo que pensam e não ao que os outros pensam».