A primeira vez, a perda da inocência do FC Porto na Taça da Liga. Teve dor, tumultos, um parceiro muitas vezes dominador e um final feliz. Para os dragões, naturalmente.
Neste festim dos sentidos, duas mãos foram decisivas. Duas luvas, na verdade. Antonio Adán, em mais um erro garrafal, não foi capaz de abraçar a bola pontapeada por Stephen Eustaquio, ainda a final saboreava os preliminares.Ivan Marcano, num cabeceamento já em tempos de julgamento final, acabou com as dúvidas.
Os campeões nacionais passam a ser também os campeões de inverno. Fizeram uma primeira parte fraquíssima, alimentada apenas pelo frango de Adán, mas resistiram com mais competência e saber no segundo tempo.
A primeira vez deveria ser diferente. Em qualquer área, em qualquer dia. Mas isto é futebol, é competição, e os tambores da guerra não permitem outro tipo de prazeres. Ganhou o FC Porto, de camuflado e botas da tropa.
Não há segredos. Sérgio sabe o que Ruben pretende, Ruben conhece a forma de Sérgio pensar. Nada se esconde, nada surpreende.
É verdade que no segundo tempo, os azuis e brancos esconderam a bola, baixaram o ritmo, acertaram o tempo de pressão e identificaram com inteligência os caminhos para assustar o leão - e, por aí, justificaram o fim da maldição, que de maldição nada tinha.
Ora, e o primeiro tempo? Raras vezes se viu um FC Porto tão amedrontado, até desorientado, nestes duelos particulares com o Sporting. Sem ideias, sem capacidade física, sem perceber como anular a saída curta do bloco a três dos leões.
Um golo anulado a Edwards, duas bolas nos postes da baliza de Cláudio Ramos - na mesma jogada! - e uma série de ameaças seríssimas deixaram o Porto e Conceição mais do que avisados.
Sentia-se a fome do leão, a necessidade de se agarrar a qualquer coisa, qual náufrago em alto mar. Falhou no melhor período e suicidou-se quando o FC Porto já se organizara.
O território demarcado pelo domínio leonino não teve continuidade no segundo tempo. Pepê e Otávio subiram no apoio a Taremi e a pressão alta do FC Porto assustou o trio da retaguarda leonina.
Num desses excessos de cabeças quentes, Paulinho viu o cartão vermelho. Faltavam 18 minutos + descontos e o FC Porto sentiu que desta é que era. A primeira vez não mais podia ser adiada.
Nas breves interrupções dos choques e da polémica, Pepê fez o que bem sabe e cruzou para a cabeça de Ivan Marcano. 2-0, tudo decidido, o museu do FC Porto vai ter, enfim, uma Taça da Liga.
A primeira vez foi bruta, rude, mas deixou o dragão de sorriso aberto.
Jogo muito difícil para João Pinheiro. Os jogadores não facilitaram nada, nada, a vida ao árbitro de Barcelos. O golo de Edwards foi bem anulado e o vermelho a Paulinho parece acertado - o cotovelo do avançado acertou em Otávio. Muitos pequenos erros com faltas e faltinhas, numa final que não deixará saudades. É difícil dar-lhe nota positiva.
A primeira parte do FC Porto foi confrangedora. Muito má. O treinador dos dragões teve o mérito de limitar os danos ao intervalo e corrigir quase tudo o que era preciso corrigir. Valeu-lhe a primeira Taça da Liga.
A exibição de Leiria foi ótima até ao intervalo. É justo dizer isso, antes de chegar às más notícias para o Sporting: com a derrota na Taça da Liga, os leões arriscam-se a chegar de bolsos vazios a maio, a não ser que haja um verdadeiro feito europeu.