Um Mourinho mais maduro e mais calmo

Ao longo dos meses que José Mourinho leva como treinador do Manchester United, tem sido notório uma nova postura do técnico português, algo que já vinha evidenciando, a espaços, na segunda passagem pelo Chelsea. Ora, em entrevista à France Football, Mourinho deu conta disso mesmo.

«Como homem tento ser o oposto do que sou enquanto treinador. Tento ser discreto, silencioso. Tento descobrir uma maneira de desligar. Posso ir para casa e não assistir a um jogo, não pensar em futebol. Posso fazer isso. No início da minha carreira, não conseguia, estava ligado ao futebol 24 horas por dia. Hoje sinto-me bem com a minha personalidade. Amadureci, estou mais calmo. Uma vitória já não representa a lua e uma derrota já não é o inferno. Tenho a mesma ambição, dedicação e profissionalismo. Mas controlo mais as minhas emoções», começou por referir Mourinho.

O treinador português falou também da atual situação do Manchester United que, tal como o técnico, é, agora, diferente, e da adaptação ao clube.

«Um treinador deve adaptar-se à realidade do clube. A isso chama-se ser inteligente. A prioridade é estabelecer relações de paz e amor no interior dos grupos, criar estabilidade. O Manchester United já não tem jogadores com a personalidade de Giggs, Scholes ou Roy Keane. Ainda sobram Rooney e Carrick, os últimos rostos dessa geração, e um novo conjunto de jogadores que tem de se adaptar. É por isso que foi importante para mim trazer Ibrahimovic. Nesta equipa, ele tinha, sem ser inglês, sem conhecer a cultura do clube, a personalidade e o perfil para ser mais do que apenas um jogador», comentou o português.

Os mind games

Na entrevista à publicação francesa, Mourinho abordou também um dos seus pontos mais conhecidos e, para muitos, dos mais fortes da sua personalidade como treinador: os mind games.

«Os mind games não são mais do que tentar influenciar alguém psicologicamente através dos media, é uma maneira de criar um estado de espírito, mas é mais eficaz quando se tem um plantel com jogadores prontos para absorver esse tipo de discurso», dando o exemplo do Inter, onde levou este discurso ao máximo.

«No Inter estava como peixe na água nessa área. Tinha Materazzi, Cordoba, Ibrahimovic, Milito, Thiago Motta... Eles estavam dispostos a seguir-me. Outra coisa é trabalhar num clube no qual os jogadores não têm o mesmo perfil. Antes de escolhermos a direção por onde queremos ir, devemos primeiro compreender as pessoas com quem trabalhamos», acrescentou Mourinho.

Paradigma dos treinadores

Apesar de ser em muito menor número, também em Inglaterra as «chicotadas psicológicas» são tema de conversa. E Mourinho sabe-o bem, ele que passou por um processo de despedimento depois de ter sido campeão com o Chelsea, não acreditando que o caso de Wenger se repita nos próximos anos.

«Na época passada fui despedido do Chelsea seis meses depois de ter sido campeão. O mesmo vale para Ranieri nesta temporada em Leicester. Isto está a ficar louco! Não acredito [que o exemplo de Wenger se repita], tornou-se impossível. Não apenas por causa do perfil dos clubes, mas também devido ao perfil dos novos treinadores», finalizou.