Em 2003, Portugal conseguiu bater a Espanha no Europeu disputado em Viseu (1x2). Na altura, eram outra a realidade e outros os valores emergentes. Se Miguel Veloso brilhava a central, Paulo Machado enchia o meio-campo, com Moutinho no banco a ver. Ainda assim, os mais vistosos eram Vieirinha, numa linha, e Márcio Sousa, então considerado das maiores promessas nacionais.
E, efetivamente, o então jogador do FC Porto foi isso mesmo. Uma grande, grande promessa que, contudo, não conseguiu o estrelato que dele se esperava (Mourinho, por exemplo chamou-o muito novo à equipa principal portista).
«Primeiro que tudo, que desfrutem daquilo que acabaram de fazer, pois, como todos sabem, fazer uma proeza destas não se consegue todos os dias. Poderão aproveitar isto para lançarem as carreiras. Mas, acima de tudo, há que lhes dizer que são apenas pequenas promessas. Que interiorizem que fizeram uma grande proeza, mas que ainda há muito para trabalhar e conquistar. Isto é apenas um início», alertou.
«Não é fácil, pois é impossível tu ficares indiferente. Sais todos os dias no jornal, o feito é referido diariamente e isso não foge do teu subconsciente. Agora, o papel dos pais e das pessoas que estão por perto é fundamental para nos aconselharem. Isto porque é um feito histórico, mas... foi, entendes? Daqui a uma ou duas semanas já não é tema, apesar de ser sempre algo recordado. Importante é tu seres recordado todas as semanas pelo que vais fazendo e não por um momento que ficou isolado lá atrás. Tens que querer mais, tens que fazer mais», aconselhou o médio.
Em termos globais, Portugal está a ter outra consolidação ao nível dos jovens. Em relação a 2003, geração da qual nenhum jogador joga atualmente na primeira divisão portuguesa, existem alicerces para que o futuro destes sub-17 ser diferente.
«Isto agora vai também depender dos clubes. Trabalha-se muito bem em Portugal, atualmente. Veem-se casos mediáticos, como está a acontecer com Renato Sanches ou mesmo André Silva, e isto vai acontecendo por causa da aposta que se está a fazer. Claro que isso ajuda a um maior controlo por parte dos clubes, que têm maior necessidade de apostar nos jovens e também muito maior qualidade. Veja-se os resultados das seleções jovens, de equipas B que ganham campeonatos. O trabalho que se está a fazer ajuda a que, daqui a 6, 7, 8 anos, exista ainda mais potencial».
Por fim, uma pergunta auto-reflexiva: se o Márcio de há 13 anos estivesse nesta equipa, o que é que faria de diferente em relação à altura?
«Certamente tinha-me aconselhado com outras pessoas e assinado com um empresário. Hoje em dia, todos têm e os empresários e, verdade seja dita, trabalham bem, sabem o que devem fazer com os clubes. Um jogador ser agenciado por um Jorge Mendes tem bastante peso. O futebol gera milhões e as SAD's são empresas. Claro que, tendo um empresário, é meio caminho para se vender o produto. Tens que ter talento para fazer a diferença. Aliar isso a um empresário que te 'saiba vender' é o ideal, por mais duras que possam parecer as palavras», considerou, a terminar a conversa.