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Toulouse

Texto por Ricardo Miguel Gonçalves
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Não surge entre os primeiros nomes de alguém que queira enumerar os maiores clubes de França, mas quem bem conhece esse futebol sabe a relevância que o Toulouse tem entre emblemas teoricamente maiores...

Se é uma história mais curta ou mais longa depende de se são contadas as duas versões deste clube que já agraciaram a Ligue 1 com a sua presença. De qualquer das formas, é sempre extensa a lista de peripécias que les violets tiveram de ultrapassar para guardar um lugar entre a elite francesa e europeia, erguendo, no processo, uma formação com um olho especial para o talento.

O outro téfécé

Falar do Toulouse Football Club, vulgo téfécé na pronunciação verbal da sua sigla, é falar de uma instituição que tecnicamente foi fundada em 1970. Ainda assim, a sua mais completa história começa décadas antes, em março de 1937.

Foi por essa altura que nasceu o original clube de futebol de Toulouse, a quarta maior cidade de França e capital da região de Occitânia. Esse clube, com o mesmo nome que o atual, disputou o seu primeiro jogo de sempre em agosto, frente a um grupo que não tardaria a tornar-se um dos seus maiores rivais: o Girondins de Bordeaux.

Arrancou no segundo escalão do futebol francês e demorou nove anos a alcançar o seu principal objetivo: a subida à elite nacional, em 1946. Conseguiu afirmar-se nessa liga de topo, com várias temporadas no meio da tabela antes de um impressionante quarto lugar em 1950. Essa conquista seria, no entanto, seguida de uma despromoção de volta ao segundo escalão do futebol francês.

Recorte de jornal sobre o primeiro jogo do clube
Dessa vez a estadia foi mais curta e à segunda tentativa o Toulouse voltou a subir, conquistando, no processo, o seu primeiro troféu oficial. Glória maior estava guardada para os 20 anos do clube, que em 1957 chegou à final da Taça de França, então apelidada de Coupe Charles Simon. Em Colombes, com um inglês a arbitrar o jogo decisivo contra o Angers, o Toulouse construiu uma vantagem de 3-0 graças ao seu (então) inovador 4-4-2. Essa épica final terminou com um 6-3 no marcador e o Toulouse celebrou o seu primeiro título nacional.

Foi um grande passo na direção certa para o clube e para a região, que demonstravam, até aí, muito maior interesse no râguebi do que no futebol. A conquista também colocou o Toulouse FC, quatro dias depois, no caminho do vencedor da Taça de Inglaterra: o poderoso Aston Villa. Para a surpresa de muitos, o emblema francês venceu por 2-1.

O volte-face na história do clube começa em 1962, quando Jean-Baptiste Doumeng, conhecido como «o milionário vermelho», assumiu a presidência do clube. Começou por devolvê-lo ao topo, com boas classificações finais e qualificação para competições UEFA, mas o fim da linha chegou em breve. O mau estado das finanças levou a uma fusão com o Red Star, equipa de Paris que recebeu os jogadores e a vaga do TFC no escalão de topo, encerrando a história do maior clube de Toulouse.

Os adeptos do Toulouse @Toulouse

Toulouse 2.0, da Europa à quebra

Três anos depois da morte do Toulouse Football Club, uma outra instituição nasceu das cinzas: o Union Sportive Toulouse. Atuou com esse nome até 1979, quando reclamou o nome antigo para voltar a ser apelidado de téfécé pelos locais. Também passou a atuar de roxo e branco, o que levou ao nascimento de outra alcunha que dura até aos dias de hoje: les violets.

Foi já com a sua imagem contemporânea que conseguiram o título da Ligue 2, em 1982, recrutando uma série de bons jogadores e profissionais para um projeto ambicioso no escalão principal. O resultado ficou evidente em 1986, quando o quarto lugar deu o inédito acesso à Taça UEFA. Nessa prova, o Toulouse eliminou o Napoli de Diego Maradona na ronda inaugural, com outros craques argentinos (Tarantini e Márcico) no onze, mas tombou na fase seguinte. 

Seguiu-se um terceiro lugar que deu lugar a mais uma participação nas competições europeias, que uma vez mais terminaram na segunda eliminatória, com uma eliminação frente ao Bayer Leverkusen, eventual vencedor da prova, após um agregado de 6-1 sobre os gregos do Panionios.

Dificuldades financeiras viram algumas das principais caras deixar o clube, mais isso também permitiu a aposta nas camadas jovens do clube, que é uma das que mais talentos produz em França. Fabien Barthez, guarda-redes da Europa e do Mundo, foi o pioneiro de uma longa linhagem de talentos oriundos desta formação.

Na Liga Europa, em 2023
A quebra da qualidade no plantel levaria à despromoção em 1994. Quatro anos depois houve um regresso à Ligue 1, mas durou apenas um ano, com o téfécé a terminar na última posição da tabela. Também subiu de imediato, com um investimento forte para garantir a continuidade na divisão de topo, mas o 17º lugar, aliado a uma dívida de 70 milhões de francos, implicou uma dura descida diretamente para o National - a terceira divisão.

Arranque de século fulminante

Era importante uma revolução no clube para impedir a repetição daquilo que se passara nos anos 60... e foi isso que aconteceu! Olivier Sadran, empresário natural da cidade, assumiu o controlo do clube em julho de 2001 e conseguiu salvar o estatuto profissional do mesmo.

Com a ajuda de uma espinha dorsal de jogadores que permaneceram, liderados pelo capitão Christophe Revault, o Toulouse FC conseguiu o improvável feito de duas subidas em dois anos, incluindo a conquista da Ligue 2, para regressar ao principal escalão no ano de 2003.

O foco era a estabilidade a curto prazo, com um plano de vários anos na Ligue 1, pelo que ninguém esperava que uma vitória sobre o rival Bordeaux na última jornada de 2006/07 significasse, com a ajuda dos restantes resultados, a conquista do terceiro lugar!

A cidade celebrou um impensável acesso à Liga dos Campeões apenas seis anos depois da queda ao terceiro escalão, mas o sorteio UEFA colocou o Liverpool como adversário da eliminatória de acesso, pelo que o destino do Toulouse foi a fase de grupos da Taça UEFA, da qual não conseguiu sair. A nível doméstico as coisas correram ainda pior, pelo que os violetas só asseguraram a manutenção na derradeira jornada.

Um dos ídolos mais recentes do clube @Toulouse FC twitter
O que outrora era um iô-iô entre o principal e o segundo escalão, passou a alternar entre o topo e o fim da tabela, já que 2008/09 voltou a colocar o Toulouse entre os quatro primeiros classificados da Ligue 1. Em parte graças à emergência de futuros internacionais como Carrasso e André-Pierre Gignac, o clube chegou às meias da Taça, terminou em quarto na Liga e qualificou-se para a nova Liga Europa, onde voltaria a cair na fase de grupos.

Depois de Gignac, agigantou-se outro avançado que viria a vestir a camisola da seleção bleu. Wissam Ben Yedder assumiu as rédeas dos golos ao longo de várias temporadas no conforto do meio da tabela, saindo já com o estatuto de segundo maior goleador da história do clube. Deixou o clube depois de uma temporada em que a manutenção só foi conquistada nos instantes finais da última jornada.

O clube tentou agarrar-se à vida no principal escalão, mas sem sucesso. Terminou no 18º lugar em 2018, no 16º em 2019 e em 2020, ano em que o Mundo foi atingido pela pandemia, terminou no 20º e último lugar da Ligue 1 com um infeliz total de 13 pontos.

A festa de um golo na luta pela manutenção @Toulouse Football Club

A formação de topo levantou a Taça!

De volta à Ligue 2 após duas décadas no principal escalão, o objetivo era claro: o regresso à elite. Esse foi falhado na primeira tentativa, mas por muito pouco, já que o Toulouse, terceiro classificado, eliminou o Grenoble no play-off antes de perder a final frente ao Nantes - 18º classificado da Ligue 1 - pela regra dos golos fora.

Seguiu-se uma remodelação no plantel e na direção técnica, para um segundo assalto à promoção. Esse, em 2021/22, terminou com sucesso e o Toulouse, pela terceira vez na sua história (quarta a contar com a antiga versão do clube) levantou o troféu da Ligue 2!

Ao fim de dois anos de ausência, o Toulouse FC, representante da quarta maior cidade de França, estava uma vez mais entre a elite. Cada vez mais respeitado pelo seu caráter formador, num século XXI em que produziu nomes como Moussa Sissoko, Mexès, Capoue, Aurier, Todibo, Diop, Manu Koné, Lafont, Restes, Adli e outros, faltava apenas uma coisa: um título nacional.

A conquista da Coupe de France, com uma goleada na final! @Getty /
Ora, na verdade, como até já o lemos nesta história, a versão original do téfécé até tinha levantado a Coupe de France em 1957, 10 anos antes de deixar de existir... No entanto, nada fazia prever que em 2023, na temporada de regresso ao principal escalão, a Taça de França fosse levantada pela turma violeta!

Sob o comando de Philippe Montanier, a equipa passou cinco eliminatórias antes de chegar à grande final, na qual se vingou do Nantes, detentor do troféu e vencedor do play-off de subida dois anos antes, com uma goleada de 5-1! Apesar do 13º lugar na Liga, a conquista valeu o regresso à fase de grupos da Liga Europa.

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